O mito da "Europa"
Público 2012-02-19 Vasco Pulido Valente
Quando apareceu, a CEE já encontrou a "Europa" em expansão e, para se legitimar, prometeu mais crescimento: um crescimento contínuo, capaz de assegurar o pleno emprego e desenvolver um Estado Social nessa altura embrionário e frágil. Enquanto o "milagre" económico durou, ou seja até à volta de 1970, a CEE, sob sucessivos nomes, pareceu a solução para os problemas que desde 1918 tinham afligido o continente. Pareceu, mas não era. E não o era principalmente como a entidade, há tanto tempo sonhada, que iria por fim constituir a unidade "europeia" e assegurar a paz (que, de facto, dependia da América). O mito que foi crescendo à volta de um arranjo circunstancial justificou passo a passo a instalação de um enorme aparelho burocrático e, com o tempo, produziu mesmo a ideia absurda que da vontade comum nasceria eventualmente uma grande potência.
Mas, disfarçado e discreto, o domínio da Alemanha estava lá desde o primeiro dia. E, depois de 1989, a Alemanha teve de escolher entre a "Europa", por assim dizer, democrática e "ordenada" da margens do Atlântico e do Mediterrâneo e a sua velha hegemonia na "Europa" central ou, se preferirem, oriental, que o colapso soviético punha de repente à sua mercê. Com a agravante de que o dinheiro desaparecia de um lado e não existia do outro. Enquanto se tornava óbvio que a estagnação do Ocidente não permitia a prazo a sobrevivência do Estado Social, o velho império do comunismo russo, agora "livre", batia à porta da imaginária riqueza da "União". E da Roménia ou da Hungria de Viktor Orbán a Portugal e à Grécia o poço da dívida aumentava. Para a Alemanha, que se decidira pelo "alargamento", ficava um único caminho: submeter a Europa inteira às suas regras. A realidade substituía para sempre a fantasia.
Comentários