Nem todos nascemos

Pedro Picoito, 2012-02-13
No último Sábado, dia 11 de Fevereiro de 2012, assinalaram-se cinco anos sobre o referendo que abriu caminho à liberalização do aborto em Portugal. Do aborto legal em caso de violação, malformação do feto ou perigo de vida para a mãe  passámos para a legalização do aborto a pedido. Já vai sendo tempo de fazer um balanço da aplicação da lei que o Governo de então, liderado por Sócrates, nos prometeu respeitadora das “melhores práticas”.
Um estudo recente da Federação Portuguesa Pela Vida revela alguns números que fazem pensar.
97% dos 80 mil abortos legais desde 2007 foram enquadrados na cláusula “por opção da mulher”, um facto previsto pelos defensores do “não”, mas sempre minimizado.
60% das mulheres que abortaram têm entre 24 e 39 anos e cerca de metade o ensino secundário ou superior, contrariando o mito de que o aborto seria uma solução de último recurso para adolescentes pobres e desinformadas.  
16% dos abortos legais são reincidências, ou seja, por 13 500 vezes o aborto foi usado como um método anticonceptivo no quadro da actual lei.
As clínicas privadas beneficiam hoje de um verdadeiro subsídio ao seu negócio: cerca de 70% de abortos no sector particular foram encaminhados por hospitais públicos. Vale a pena recordar que só a Clínica dos Arcos, em Lisboa, faz perto de cinco mil abortos por ano - pagos pelos nossos impostos. Em Portugal, os lucros da indústria abortista são os únicos que a esquerda tolera.
Ao lado de todos estes números, há um bem menor  mas não menos inquietante. A legalização não acabou com a morte por aborto e, desde 2007, houve uma mulher que morreu na sequência de um aborto medicamentoso legal (por tristíssima ironia, aquele que nos garantiram ser mais seguro).
Esta é a frieza das estatísticas. Mas o pior de tudo é a banalização do mal, para usar o conceito de Hannah Arendt, que a mudança legislativa introduziu na sociedade. A mentira do aborto neutro e sem vítimas deu lugar a um silêncio cúmplice e sem consciência. A lei que mata inocentes gera hoje o conformismo porque, em democracia, a lei gera a moral pública. Nem todos nascemos para Antígona.  
Nem todos nascemos.

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