Austeridade
01 | 02 | 2012 16.33H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@ucp.pt
Há muita gente furiosa, desesperada com a austeridade. Isso é justo e razoável, porque fomos vítimas de muitos erros e crimes. Mas as discussões costumam incluir uma alternativa que não existe: a ausência de sacrifícios. Portugal neste momento enfrenta apenas duas hipóteses: ou cumpre com sucesso a austeridade prescrita, ou terá ainda mais austeridade. Pensar que se pode escapar aos custos é uma ilusão tão grave como as que criaram a crise.Se Portugal rejeitasse o pacote e mandasse os credores dar uma curva, a dívida desapareceria, mas austeridade seria muito maior. A troika exige cortes fortes e medidas dolorosas para reduzir o défice público a 0.5% do PIB em 2015. Em troca os nossos parceiros estão a emprestar-nos 78 mil milhões de euros (quase metade da nossa dívida pública à data do acordo) ao longo de vários anos. Se nos recusássemos aos cortes, como os mercados estão fechados, ninguém nos emprestava mais nada e o défice tinha de ser zero amanhã. Isto não é ficção científica. A Argentina viveu assim no passado recente e Portugal teve a mesma experiência nos dez anos após 1892.
A nossa situação é semelhante ao bêbado endividado. O pior não é pagar as bebidas que tomou, mas garantir que pode continuar a beber fiado. O Estado está mesmo viciado em dívida. Aliás a nossa taxa de endividamento é agora maior que há dez meses, quando a troika cá chegou.
A irritação é compreensível, mas a fúria é má conselheira, logo quando mais precisamos de serenidade para decidir a melhor dieta, indispensável à recuperação da saúde económica.
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