Que palavra é esta?

No evangelho do dia que recebo via subscrição do Evangelho quotidiano (um serviço notável que cada um pode subscrever gratuitamente em http://evangelhoquotidiano.org/ ), o então cardeal Ratzinger comenta a palavra “Faça-se”, a ordem imperiosa que se lê variadíssimas vezes quer no Antigo quer no Novo Testamento. Como em mim foi origem de ânimo acrescido para enfrentar a “aventura da vida” com renovado entusiasmo após as férias, quero compartilhá-la convosco
"Que palavra é esta?"
O instante a que a Bíblia chama "o princípio" mostra-nos Aquele que tinha o poder de criar o ser e de dizer: "Faça-se!" e isso ser feito (Gn 1,1-3)... Essa palavra "Faça-se!" não gerou um magma caótico. Quanto mais conhecemos o universo, mais encontramos nele uma racionalidade cujos caminhos, ao serem percorridos pelo pensamento, nos deixam maravilhados. Através deles, descobrimos esse Espírito criador a quem devemos igualmente a razão. Albert Einstein escreveu que, nas leis da natureza, "se manifesta uma razão tão superior que toda a racionalidade do pensamento e da vontade humana parece ser, por comparação, um reflexo absolutamente insignificante".

Constatamos que o infinitamente grande, o universo das estrelas, é regido pelo poder de uma Razão [Logos]. Mas aprendemos igualmente cada vez mais acerca do infinitamente pequeno, a célula, os elementos fundamentais do ser vivo. Também aí descobrimos uma racionalidade que nos espanta, de tal forma que temos de dizer, com S. Boaventura: "Quem não vê isso, é cego. Quem não o ouve, é surdo. E quem não começa a rezar e a louvar o Espírito criador, é mudo"...

Através da racionalidade da criação, o próprio Deus olha-nos. A física e a biologia, todas as ciências em geral, nos ofereceram uma nova e inaudita narrativa da criação. Essas imagens grandes e novas fazem-nos conhecer o rosto do Criador. Recordam-nos que, no princípio, e no mais profundo de cada ser, está o Espírito criador. O mundo não saiu das trevas e do absurdo. Brotou da inteligência, da liberdade, da beleza que é amor. Ver tudo isto dá-nos a coragem que nos permite viver e nos torna capazes de, com confiança, tomar sobre os nossos ombros a aventura da vida.
Cardeal José Ratzinger (Papa Bento XVI)
Sermões de Quaresma, 1981
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