Vaticano debate «Origem das Espécies»
Agência Ecclesia, 080916
Congresso junta especialistas em paleontologia, biologia molecular, antropologia cultural, filosofia e teologia
O Vaticano apresentou esta Terça-feira um congresso internacional sobre as teorias da evolução, 50 anos após a publicação de “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin.
O evento, que terá lugar em Roma, reunirá especialistas em ciência, filosofia e teologia a nível mundial, católicos e não católicos. O Congresso conta com o apoio do Conselho Pontifício da Cultura cujo presidente, D. Gianfranco Ravasi, recordou que Darwin nunca foi condenado pela Igreja Católica e que fé e a teoria da evolução não são incompatíveis.
A iniciativa decorre de 3 a 7 de Março de 2009 e é organizada pela Universidade Pontifícia Gregoriana e pela Notre Dame University (Indiana, EUA). O título deste congresso será “Evolução biológica: factos e teorias”, prometendo-se uma abordagem crítica à obra de Darwin.
A iniciativa da Santa Sé pretende aprofundar o tema de um modo interdisciplinar, com contributos da paleontologia, biologia molecular, antropologia cultural, filosofia e teologia.
Na conferência de imprensa, o jesuíta Marc Leclerc, professor da Universidade Gregoriana, lamentou que a discussão em torno da obra de Darwin se faça ainda “mais em chave ideológica do que cientifica”, pelo que acaba por ser necessário implicar “cientistas, filósofos e teólogos cristãos” no debate, promovendo um “diálogo fecundo”.
“Esperamos superar as aporias de um confronto ideológico estéril, no reconhecimento do carácter polimórfico da racionalidade, da qual ninguém tem o privilégio da exclusividade”, acrescentou.
Este especialista citou uma reflexão do então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, segundo o qual não é a “teoria da evolução, enquanto teoria científica, que seria em si incompatível com a fé no Deus criador, mas a indevida erecção de qualquer elemento desta teoria a philosophia universalis, ou como diz Fiorenzo Facchini, a chave de interpretação de toda a realidade, incluindo a humana”.
Já Gennaro Auletta, director científico do Projecto STOQ - Science, Theology and the Ontological Quest – Ciência, Teologia e Investigação ontológica, orientado pelo Conselho Pontifício da Cultura – frisou que da parte da Igreja Católica há um reconhecimento do “valor científico” da teoria da evolução biológica, desejando-se “uma compreensão e assimilação de tais problemáticas por parte do clero e dos fiéis”.
A verdade é que a Igreja Católica, com o avanço da exegese bíblica, tem hoje uma leitura da Bíblia muito diferente da que oferecem algumas Igrejas Cristãs, não vendo nos dois relatos da Criação no Génesis (apenas um deles faz referência aos famosos 7 dias) uma explicação científica para a origem do universo.
Segundo a fé cristã, a Criação é o acto pelo qual Deus, do nada, deu e mantém a existência de tudo quanto existe; esse início foi coincidente com o início do tempo.
Preocupação papal
Em Setembro de 2006, decorreu um encontro de Bento XVI com os seus antigos estudantes de Teologia em Castel Gandolfo, para discutir questões relativas à evolução darwinista e à criação.
A teoria da evolução foi evocada várias vezes pelo Papa, desde o início do seu Pontificado. Na própria Missa de início de Ministério, a 24 de Abril de 2005, Bento XVI afirmou na homilia que “nós não somos o produto casual e sem sentido da evolução”, explicando que cada um “é o fruto de um pensamento de Deus”.
Na Vigília Pascal de 2006, a 15 de Abril, o Papa falou da ressurreição de Cristo utilizando “por uma vez a linguagem da teoria da evolução” como “a maior «mutação», em absoluto o salto mais decisivo para uma dimensão totalmente nova”.
Mais recentemente, no encontro que manteve com representantes do mundo cultural francês, a 12 de Setembro, em Paris, Bento XVI indicou que “na origem de todas as coisas não deve ser colocada a irracionalidade, mas a razão criativa; não o acaso cego, mas a liberdade”.
“O mundo greco-romano não conhecia nenhum Deus Criador, a divindade suprema, segundo a sua maneira de pensar, não podia, por assim dizer, sujar as mãos com a criação da matéria”, referiu ainda no Colégio dos Bernardinos, para concluir que “o Deus cristão é muito diferente: Ele, o Uno, o verdadeiro e único Deus, é também Criador”.
Internacional Octávio Carmo 16/09/2008 15:04 4188 Caracteres 182 Santa Sé
Congresso junta especialistas em paleontologia, biologia molecular, antropologia cultural, filosofia e teologia
O Vaticano apresentou esta Terça-feira um congresso internacional sobre as teorias da evolução, 50 anos após a publicação de “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin.
O evento, que terá lugar em Roma, reunirá especialistas em ciência, filosofia e teologia a nível mundial, católicos e não católicos. O Congresso conta com o apoio do Conselho Pontifício da Cultura cujo presidente, D. Gianfranco Ravasi, recordou que Darwin nunca foi condenado pela Igreja Católica e que fé e a teoria da evolução não são incompatíveis.
A iniciativa decorre de 3 a 7 de Março de 2009 e é organizada pela Universidade Pontifícia Gregoriana e pela Notre Dame University (Indiana, EUA). O título deste congresso será “Evolução biológica: factos e teorias”, prometendo-se uma abordagem crítica à obra de Darwin.
A iniciativa da Santa Sé pretende aprofundar o tema de um modo interdisciplinar, com contributos da paleontologia, biologia molecular, antropologia cultural, filosofia e teologia.
Na conferência de imprensa, o jesuíta Marc Leclerc, professor da Universidade Gregoriana, lamentou que a discussão em torno da obra de Darwin se faça ainda “mais em chave ideológica do que cientifica”, pelo que acaba por ser necessário implicar “cientistas, filósofos e teólogos cristãos” no debate, promovendo um “diálogo fecundo”.
“Esperamos superar as aporias de um confronto ideológico estéril, no reconhecimento do carácter polimórfico da racionalidade, da qual ninguém tem o privilégio da exclusividade”, acrescentou.
Este especialista citou uma reflexão do então Cardeal Joseph Ratzinger, hoje Bento XVI, segundo o qual não é a “teoria da evolução, enquanto teoria científica, que seria em si incompatível com a fé no Deus criador, mas a indevida erecção de qualquer elemento desta teoria a philosophia universalis, ou como diz Fiorenzo Facchini, a chave de interpretação de toda a realidade, incluindo a humana”.
Já Gennaro Auletta, director científico do Projecto STOQ - Science, Theology and the Ontological Quest – Ciência, Teologia e Investigação ontológica, orientado pelo Conselho Pontifício da Cultura – frisou que da parte da Igreja Católica há um reconhecimento do “valor científico” da teoria da evolução biológica, desejando-se “uma compreensão e assimilação de tais problemáticas por parte do clero e dos fiéis”.
A verdade é que a Igreja Católica, com o avanço da exegese bíblica, tem hoje uma leitura da Bíblia muito diferente da que oferecem algumas Igrejas Cristãs, não vendo nos dois relatos da Criação no Génesis (apenas um deles faz referência aos famosos 7 dias) uma explicação científica para a origem do universo.
Segundo a fé cristã, a Criação é o acto pelo qual Deus, do nada, deu e mantém a existência de tudo quanto existe; esse início foi coincidente com o início do tempo.
Preocupação papal
Em Setembro de 2006, decorreu um encontro de Bento XVI com os seus antigos estudantes de Teologia em Castel Gandolfo, para discutir questões relativas à evolução darwinista e à criação.
A teoria da evolução foi evocada várias vezes pelo Papa, desde o início do seu Pontificado. Na própria Missa de início de Ministério, a 24 de Abril de 2005, Bento XVI afirmou na homilia que “nós não somos o produto casual e sem sentido da evolução”, explicando que cada um “é o fruto de um pensamento de Deus”.
Na Vigília Pascal de 2006, a 15 de Abril, o Papa falou da ressurreição de Cristo utilizando “por uma vez a linguagem da teoria da evolução” como “a maior «mutação», em absoluto o salto mais decisivo para uma dimensão totalmente nova”.
Mais recentemente, no encontro que manteve com representantes do mundo cultural francês, a 12 de Setembro, em Paris, Bento XVI indicou que “na origem de todas as coisas não deve ser colocada a irracionalidade, mas a razão criativa; não o acaso cego, mas a liberdade”.
“O mundo greco-romano não conhecia nenhum Deus Criador, a divindade suprema, segundo a sua maneira de pensar, não podia, por assim dizer, sujar as mãos com a criação da matéria”, referiu ainda no Colégio dos Bernardinos, para concluir que “o Deus cristão é muito diferente: Ele, o Uno, o verdadeiro e único Deus, é também Criador”.
Internacional Octávio Carmo 16/09/2008 15:04 4188 Caracteres 182 Santa Sé
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