Mania

João César das Neves

DESTAK 18 09 2008 08.58H

Depois do que o mundo sofreu nas últimas décadas às mãos de políticos de todas as cores, seria de esperar mais cepticismo perante salvadores providenciais. Mas a «Obamania» aí está a provar que os sofisticados eleitores actuais são tão sugestionáveis como no tempo de Pisístrato ou Catilina. A situação não surpreende na América, onde tais euforias são correntes. Mas a admiração extática que revelam os intelectuais europeus, normalmente tão ponderados e circunspectos, é bastante suspeita. Afinal, o que fez o jovem Barack Obama para merecer tanta adulação e suscitar tais esperanças?

A resposta simples é que a Obamania é um sonho, um fascínio, sem grande sustentação lógica e objectiva. Ora a última coisa que um sonho precisa é do toque com a realidade. Isso significa que o eventual presidente Obama será a principal vítima da tal mania. Por melhor que seja, nunca a sua acção estará ao nível daquilo que anseiam os que hoje o glorificam.

A conclusão é paradoxal. As únicas hipóteses de salvar a Obamania, levando Barack a ficar na história como um herói salvador é, ou uma derrota eleitoral, como Al Gore, ou uma bala assassina, como John Kennedy. Se ele for eleito e cumprir o mandato, o mais provável é que, começando em glória, termine em desgraça depois de uma monstruosa desilusão dos fervorosos apoiantes. Como Jimmy Carter, Bill Clinton ou Nicolas Sarkozy. Hoje, depois do que o mundo sofreu às mãos de políticos de todas as cores, não restam muitas dúvidas que não é humanamente possível cumprir a Obamania.

João César das Neves naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

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