Aquecimento global
Expresso, 080906
João Pereira Coutinho
Se os homens arruínam o clima, não seria de esperar um apocalipse em crescendo desde, pelo menos, a Revolução Industrial?
Mistérios. A BBC informa que a primeira metade de 2008 foi a mais fresca desde que o novo século começou. Ao mesmo tempo, a Organização Mundial de Saúde avisa que o aquecimento global poderá causar milhões de mortes por má nutrição ou doença. Duas notícias que exemplificam, na perfeição, como a história do aquecimento global está tristemente mal contada.
Comecemos pela primeira notícia: a menos que os seres humanos tenham reduzido drasticamente as emissões de CO2 (improvável), saber que o mundo «arrefeceu» em 2008 aponta para um cenário em que as alterações climatéricas não são um produto da «ganância» humana. Dependem de variações naturais, que a ciência largamente desconhece mas que a História, curiosamente, regista: não apenas durante a Baixa Idade Média (em que >o mundo aqueceu) ou entre os séculos XVII e XVIII (em que o mundo arrefeceu). Mas no próprio século XX, onde períodos quentes (1920-40) deram lugar a períodos frios (1940-75) antes de o Planeta aquecer novamente (1975-2000) para praticamente estabilizar desde então. Se ignorarmos os períodos históricos mais recuados, resta a pergunta: se os homens arruínam o clima por suas actividades fabris e febris, não seria de esperar um apocalipse em crescendo desde, pelo menos, a Revolução Industrial?
Mais enigmática é a histeria da Organização Mundial de Saúde. O aquecimento ceifará milhões de vidas humanas? Curiosamente, e pela mesma ordem de ideias, a OMS esquece-se das milhões de vidas que o aquecimento salvará do frio. Como é evidente, a OMS parece ignorar que a doença e a má nutrição são um produto da pobreza, e não do aquecimento global. Se dúvidas houvesse, bastaria relembrar, por exemplo, que na Europa do século XVII (ou seja, na Europa pré-industrial e em plena «pequena idade do gelo») a malária era endémica entre os nativos de Londres ou Paris. Por uma vez, talvez não fosse inútil recomendar às patrulhas um pouco mais de humildade em matérias sobre as quais repousa ainda ignorância ou cepticismo.
A ciência não se faz aos gritos.
João Pereira Coutinho
Se os homens arruínam o clima, não seria de esperar um apocalipse em crescendo desde, pelo menos, a Revolução Industrial?
Mistérios. A BBC informa que a primeira metade de 2008 foi a mais fresca desde que o novo século começou. Ao mesmo tempo, a Organização Mundial de Saúde avisa que o aquecimento global poderá causar milhões de mortes por má nutrição ou doença. Duas notícias que exemplificam, na perfeição, como a história do aquecimento global está tristemente mal contada.
Comecemos pela primeira notícia: a menos que os seres humanos tenham reduzido drasticamente as emissões de CO2 (improvável), saber que o mundo «arrefeceu» em 2008 aponta para um cenário em que as alterações climatéricas não são um produto da «ganância» humana. Dependem de variações naturais, que a ciência largamente desconhece mas que a História, curiosamente, regista: não apenas durante a Baixa Idade Média (em que >o mundo aqueceu) ou entre os séculos XVII e XVIII (em que o mundo arrefeceu). Mas no próprio século XX, onde períodos quentes (1920-40) deram lugar a períodos frios (1940-75) antes de o Planeta aquecer novamente (1975-2000) para praticamente estabilizar desde então. Se ignorarmos os períodos históricos mais recuados, resta a pergunta: se os homens arruínam o clima por suas actividades fabris e febris, não seria de esperar um apocalipse em crescendo desde, pelo menos, a Revolução Industrial?
Mais enigmática é a histeria da Organização Mundial de Saúde. O aquecimento ceifará milhões de vidas humanas? Curiosamente, e pela mesma ordem de ideias, a OMS esquece-se das milhões de vidas que o aquecimento salvará do frio. Como é evidente, a OMS parece ignorar que a doença e a má nutrição são um produto da pobreza, e não do aquecimento global. Se dúvidas houvesse, bastaria relembrar, por exemplo, que na Europa do século XVII (ou seja, na Europa pré-industrial e em plena «pequena idade do gelo») a malária era endémica entre os nativos de Londres ou Paris. Por uma vez, talvez não fosse inútil recomendar às patrulhas um pouco mais de humildade em matérias sobre as quais repousa ainda ignorância ou cepticismo.
A ciência não se faz aos gritos.
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