Dia mundial da democracia

Expresso, 080920
João Carlos Espada
jcespada@netcabo.pt

É difícil entender o que restaria do Ocidente se abandonasse a defesa da liberdade e do Estado de direito
Alterar tamanho
A ONU observou o primeiro Dia Mundial da Democracia na passada segunda-feira, 15 de Setembro. O ‘Washington Times’ publicou nesse dia um interessante artigo assinado pelo embaixador português naquela cidade, João de Vallera, a subsecretária de Estado norte-americana para a democracia e assuntos globais, Paula Dobriansky, e o embaixador da Lituânia nos EUA, Audrius Bruzga.
É um texto interessante, intitulado ‘Ajudando as sociedades livres: o grupo das democracias lidera o caminho’. Os autores apresentam-se também como porta-vozes da Comunidade das Democracias, um clube de governos democráticos lançado em 2000 pelos Estados Unidos (então liderados pelo Presidente Clinton e pela secretária de Estado Madeleine Albright), Polónia (então representada pelo ministro dos estrangeiros, Bronislaw Geremek) e seis outros co-fundadores, entre os quais se encontrava Portugal. O nosso país preside actualmente à Comunidade das Democracias.
Não é possível resumir aqui todo o texto. Basicamente, recorda que o século XX assistiu ao progresso da democracia no mundo e que isso foi facilitado por várias instituições internacionais fundadas em valores liberais, tais como a NATO, a União Europeia e a Organização para a Segurança e Cooperação Europeia. Os recentes acontecimentos na Geórgia, prossegue o documento, recordam a importância da solidariedade entre as democracias. E os autores reiteram que esse é o propósito da Comunidade das Democracias.
O documento é instrutivo, a mais do que um título. Vários analistas têm criticado recentemente a ideia de uma Comunidade de Democracias, ignorando aliás que ela já existe. O seu argumento consiste em atribuir a um clube desse tipo uma natureza agressiva que iria dificultar a coexistência pacífica com regimes não democráticos, entre os quais são usualmente citados a China, a Rússia e países islâmicos.
Esta crítica, no entanto, não tem fundamento. Em primeiro lugar, porque não há nada de agressivo na Comunidade das Democracias: trata-se de um clube fundado no consentimento, que apoia países que dêem o seu consentimento. Em segundo lugar, esse clube não visa excluir ou subverter, ou derrubar pela força regimes não democráticos. A China, aliás, compreende isso muito bem e está a integrar-se com bastante compostura na comunidade internacional.
Mas é certo que a Comunidade das Democracias defende certos valores, contrariando outros. Foi exactamente isso mesmo que fez Winston Churchill quando, em 1946, desferiu o seu polémico discurso contra a cortina de ferro, inspirando a criação da NATO. É difícil entender o que restaria do Ocidente se abandonasse a defesa da liberdade e do Estado de direito.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

OS JOVENS DE HOJE segundo Sócrates

Hino da Padroeira

O passeio de Santo António