O "meu" colega Pedro


MARIA ADÉLIA FERREIRA      31.10.16

O Pedro era diferente de todos nós, no curso de 77-78!

Desde logo porque tinha ficado sem o Pai aos 15 anos. Depois porque era bolseiro da GULBENKIAN, isso mesmo em maiúsculas. Não eram para todos aquelas bolsas!! E depois porque tinha sotaque do "Pôarto" que depois perdeu quase completamente, pois ninguém do Norte o perde totalmente.

Escolheu a especialidade de Agronómica, a Minhoca e eu a de Indústrias. Passámos a não estar nas mesmas turmas. Só nos encontrávamos nos momentos comuns aos vários cursos. Nas Reuniões Gerais de Alunos, pedia a palavra para dizer as evidências que conseguiam unir os extremos e mais ninguém notava. Ficámos ambos a trabalhar no Instituto Superior de Agronomia (ISA).


No Pedro os incómodos, faziam-se caminho...
Recordo um momento em particular e algumas atitudes que fizeram a diferença no ISA e por isso ficarão no tempo...
Incomodava-o o facto de os nossos estudantes católicos não estarem organizados. Arranjou um texto de estatutos que lhes entregou, para se guiarem, ajudou-os a organizar para que os levassem à Assembleia Geral. Está agora a fazer um ano que a existência do Núcleo de Estudantes Católicos do ISA (NEC-ISA) foi reconhecida e os estatutos aprovados pela Associação de Estudantes. Se hoje fazem parte dos 16 NECs que existem na Academia de Lisboa, foi porque no Pedro os incómodos, faziam-se caminho...

Ninguém morre a caminho de Fátima!
Soube há alguns anos que ele e a Minhoca faziam parte da equipa de apoio à peregrinação anual do CL a Fátima. Disse-mo a minha filha Teresa que a fez, como aluna do Liceu Raínha D. Amélia, juntamente com os manos Seabra (Teresa e António) e com o Luís Duque. Quando o mês passado lhe liguei via "skype" para Londres, onde está a trabalhar e lhe dei a notícia, ela respondeu de imediato: "Mãe, ninguém morre a caminho de Fátima"!
Até na morte o Pedro foi diferente!

Os alunos estão agora a rezar o terço por ele, vou ter com eles!
No dia 11 de Outubro, quando regressava do almoço, tive de parar na passadeira frente ao Edifício Principal para deixar passar a Anabela, secretária da direcção da AEISA que ia acompanhada por uma das alunas. Reparei então que tínhamos a bandeira a meia haste, abri o vidro e perguntei: "Belinha por quem está a bandeira assim?" Ela respondeu: "pelo papinto"! Achei que tinha ouvido mal, sabia o Pedro a caminho de Fátima!!!, abri completamente o vidro e repeti: "por QUEM?" E ela repetiu: "o PAPINTO!!!!....Os alunos estão agora a rezar o terço por ele no Anfiteatro de Pedra, vou ter com eles". Como se tivesse levado um murro no estômago, parei o carro no primeiro espaço que encontrei e fui com elas. O terço estava a terminar. Uma das alunas deu testemunho da forma como o " Pedro foi aquele Prof que mais a marcou pelo exemplo"! Os Mestres são assim e é isto que os distingue dos professores. Informou sobre a missa na Igreja da Encarnação e sobre a hora da partida do NEC-de Agronomia para Fátima nesse dia. O Pedro fazia questão de se encontrar sempre lá com eles, desde que há 2 para 3 anos começaram a ir também.

Todas as atitudes são educativas
Da última vez que tomámos café juntos, no Bar do Edifício Principal, logo pela manhã, quando nos questionávamos se a chávena devia ser devolvida ao balcão ou deixada na mesa, por estarmos num estabelecimento de ensino, ele disse-me: " a minha filha Inês também acha que todas as atitudes são educativas"! Lá em casa não há televisão....!

Interceda por nós
Nessa "infindável Beleza que agora habita"...., (talvez sentado a olhar pelo NEC, a interceder para que se mantenham, concretizem os seus objectivos e alimentem a recém criada "newsletter", aí junto do Senhor, peça-Lhe por mim para que me ajude a conseguir acompanhar e responder ás suas solicitações, sempre que o pedirem, como o Pedro sempre o fez)... "onde um dia estaremos todos reunidos para além da morte", como afirmou Sto Agostinho, naquele belo poema, interceda por nós.
Páteo do Quercus, Instituto Superior de Agronomia, 31 de Outubro 2016

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