Os refugiados e a fé cristã
Pe. Duarte da Cunha
Voz da Verdade, 2016.02.14
A Guerra, e sobretudo quando a esta estão associadas perseguições por motivos religiosos ou étnicos, e a pobreza, especialmente quando acontece em países onde a vida política é muito instável, fazem sempre crescer o número de pessoas que devem fugir e procurar um lugar para sobreviver e dar alguma esperança às suas famílias.
O número de refugiados é hoje, de facto, enorme em todo o mundo. Só no Médio Oriente: Jordânia, Líbano e Turquia acolhem milhões em campos, onde, com a ajuda internacional, tentam dar um mínimo, mas geralmente em condições terríveis. E se há muitos a sofrer, os cristãos sãos dos que sofrem ainda mais. Não podemos esquecer que as minorias religiosas ou étnicas, que desde sempre viveram nas cidades de onde agora são expulsos por causa da religião, têm muita dificuldade em ser acolhidos nesses campos. Perseguidos pelos perseguidores e pelos outros perseguidos, estes nossos irmãos são dos que mais sofrem. E não podem ser esquecidos.
Na Europa estamos a assistir com grande preocupação a tudo isto. Em busca de soluções, os políticos europeus, revelam, porém, muitas vezes incapacidade de perceber o que se passa e de decidir. Vemos muitos esforços diplomáticos na promoção da paz, mas há algo que não parece muito claro, pois também vemos velhas guerras retomarem posição. Como não ter medo quando os discursos se extremam? Mas enquanto não houver um empenho de todos e sincero pela paz, como se pode resolver o problema dos refugiados? Ficamos tranquilos quando há gente a morrer? Limitamo-nos a discutir se recebemos mais mil ou menos mil nos nossos países?
Talvez o problema seja mesmo de fundo. Estaremos, talvez, demasiado habituados a não considerar bem a dignidade dos outros. Há muito que o mundo ocidental vive uma profunda secularização que, além de afastar as pessoas de Deus, as leva a estarem mais preocupadas com os bens do que com a vida dos outros. Julgo que é evidente uma relação entre um certo desdém dos refugiados e a facilidade com que o aborto hoje em dia é feito. São sempre milhões de pessoas que ficam esquecidas. Como diz o Papa, vivemos em tempos onde parece ser normal descartar algumas pessoas! Mas se desprezamos os mais fracos, acabaremos por destruir o mundo com a sua civilização.
Certamente que a solução para os refugiados é complexa e não pode ser resolvida só com portas abertas. A legalidade, a atenção aos problemas sociais de cada país, a situação económica, e tantos outros factores devem ser tidos em conta quando avaliamos o que se passa e pensamos no que deve ser feito. Esperamos sempre que os Estados, que têm mais meios para conhecer o que se passa, não cedam a pressões ideológicas ou a interesses mesquinhos, mas se comprometam na diplomacia e na ajuda humanitária, a promover a paz e a ajudar quem perdeu tudo, sem descurar a estabilidade social.
Uma coisa é evidente: não podemos ficar sem fazer algo. Na Europa, depois do relatório que o Conselho das Conferências Episcopais da Europa, em conjunto com a Comissão Católica Internacional para as Migrações, elaborou, ficou-se a saber o imenso que é feito na ajuda aos mais carenciados que chegam sem nada; as preocupações e o empenho de tantos no diálogo com outras realidades sociais; a atenção à família de cada pessoa; as tentativas de integrar as pessoas num projecto que não seja só de momento, etc.
A fé em Jesus Cristo, que é a força que move os cristãos e os faz ver em cada homem e em cada mulher que sofre o rosto de Deus, não seria verdadeira se diminuísse de intensidade diante dos problemas. Por isso ela é tão decisiva e tão activa. Ela transforma corações. Ela constrói pontes e dá esperança. Ela faz com que os princípios da Doutrina Social – dignidade da pessoa humana, cuidado do bem comum, solidariedade, subsidiariedade – se incarnem e sejam aplicados.
A fé em Jesus Cristo – agora vemos ainda melhor – não é decorativa, é indispensável. Não como meio, nem como instrumento, mas como experiência que faz ver desde já a meta: a comunhão com Deus e, por isso, nos empenha na defesa da vida de todos e cada um, na promoção da paz, no acolhimento do estrangeiro, no desenvolvimento social.
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