Ai trabalha, trabalha!


José Maria C. S. André 
«Correio dos Açores», «Verdadeiro Olhar» (11-V-2014)                                                 

O jornalista Andrea Tornielli conseguiu bisbilhotar a zona onde as câmaras da televisão já não entram e tirou a fotografia. A notícia tem três dias, no momento em que escrevo.
Junto à porta do quarto 201 da Casa de Santa Marta (o quarto do Papa Francisco), dorme um S. José de madeira, em cima de uma mesa. Entalados, por baixo, os bilhetinhos que o Papa lhe escreve. 
Toda a gente sabe que o Papa Francisco tem uma confiança total em Nossa Senhora e em S. José. O entusiasmo acabou por contagiar toda a casa, dos monsenhores aos guardas suíços. Um dos colaboradores conta que o Papa lhe disse:
‒ «Sabes, é preciso ter paciência com estes carpinteiros: dizem que fazem um móvel em duas semanas e depois demoram um mês. Mas fazem-no e trabalham bem! É preciso é ter paciência...».
A imagem mede 40 cm e foi das poucas coisas que o Papa mandou vir de Buenos Aires. Aparentemente, S. José dorme, mas a imagem representa uma outra actividade, relatada no Evangelho: mais do que dormir, S. José escuta a voz de Deus durante a noite e dispõe-se a cumpri-la. É isso que interessa ao Papa.
Aliás, para uma figura que dorme, a imagem não pára quieta na sua mesa. Às vezes, quando o trabalho de S. José aperta, isto é, quando o número de bilhetinhos aumenta, a estátua fica empoleirada num monte de papelada.
‒ «O Santo Padre dá muito trabalho a S. José. A devoção já se pegou a todos os que trabalham à volta da residência de Francisco, incluindo os Guardas Suíços…».
Bento XVI tinha decidido introduzir em todas as orações eucarísticas uma referência a S. José, logo a seguir à invocação de Nossa Senhora, mas preferiu deixar o assunto ao seu sucessor. O Papa Francisco não perdeu tempo a confirmar a decisão.
No dia 5 de Julho de 2013, o Papa Francisco, acompanhado por Bento XVI, foi consagrar o Estado do Vaticano a S. José. A cerimónia também já estava programada no pontificado anterior, mas nem por isso teve menos significado:
‒ «S. José, (…) consagramos-te as fadigas e as alegrias de cada dia; consagramos-te as expectativas e as esperanças da Igreja; consagramos-te os pensamentos, os desejos e as obras: tudo se cumpra no Nome do Senhor Jesus».
O início deste pontificado deu-se a 19 de Março de 2013, festa de S. José, e, na homilia da Missa, o Papa Francisco sublinhou o significado dessa circunstância.
‒ «Nunca esqueçamos que o verdadeiro poder é o serviço e que, para exercer o poder, também o Papa se deve meter cada vez mais naquele serviço que culmina na Cruz. Deve olhar para o serviço humilde, concreto, rico de fé, de S. José e abrir os braços, como ele, para guardar todo o povo de Deus e acolher com afecto e ternura a humanidade inteira, especialmente os mais pobres, os mais débeis, os mais pequenos… só quem serve com amor sabe guardar!».
Há poucos dias, a crónica de Andrea Tornielli sobre o Primeiro de Maio no Vaticano centrou-se nesta mesa rústica, junto à porta 201 da Casa de Santa Marta, onde dorme um Papa e trabalha um S. José ‒ que parece dormir mas, afinal, trabalha bastante. Ai trabalha, trabalha!

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