“São os santos que fazem crescer a Igreja”
RR on-line 27-04-2014 10:09 por Filipe d'Avillez
Com Bento XVI a observar, Francisco recorda João XXIII como o "Papa da docilidade ao Espírito" e João Paulo II como o "Papa da Família".
O Papa Francisco realçou, esta manhã, que são homens como João XXIII e João Paulo II que fazem crescer e avançar a Igreja.
Na homilia da missa durante a qual foram oficialmente proclamados santos os dois Papas que marcaram o século XX de forma inegável, Francisco falou da importância que João Paulo II e João XXIII tiveram como guias da Igreja, um através da convocação do Concílio Vaticano II, o outro como padre conciliar mas, de forma especial, como responsável pela sua implementação durante um dos pontificados mais longos da história.
"João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para restabelecer e 'actualizar a Igreja segundo a sua fisionomia originária', a fisionomia que lhe deram os santos ao longo dos séculos. Não esqueçamos que são precisamente os santos que levam avante e fazem crescer a Igreja", disse Francisco.
Debruçando-se sobre cada um dos Papas em particular, Francisco destacou a abertura de João XXIII ao Espírito Santo: "Na convocação do Concílio, João XXIII demonstrou uma delicada 'docilidade ao Espírito Santo', deixou-se conduzir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado. Este foi o seu grande serviço à Igreja; foi o 'Papa da docilidade ao Espírito'."
Já João Paulo II, segundo o actual Papa, será recordado como o Papa da Família: "Neste serviço ao Povo de Deus, João Paulo II foi o Papa da família. Ele mesmo disse uma vez que assim gostaria de ser lembrado: como o Papa da Família. Apraz-me sublinhá-lo no momento em que estamos a viver um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele seguramente acompanha e sustenta do Céu."
"João XXIII e João Paulo II tiveram a coragem de contemplar as feridas de Jesus"
Nesta homilia, o Papa Francisco partiu do Evangelho do dia, que narra a aparição de Jesus aos apóstolos depois da sua ressurreição. Depois de ter aparecido uma primeira vez, sem que Tomé estivesse presente, este manifesta dúvidas e diz aos restantes que só acredita quando o vir com os seu olhos e puder tocar nas suas chagas. Quando Jesus aparece segunda vez, já com Tomé presente, este ajoelha-se e diz: "Meu Senhor e meu Deus".
"Se as chagas de Jesus podem ser de 'escândalo para a fé', são também a 'verificação da fé'. Por isso, no corpo de Cristo ressuscitado, as chagas não desaparecem, continuam, porque aquelas chagas são o sinal permanente do amor de Deus por nós, sendo 'indispensáveis para crer em Deus': não para crer que Deus existe, mas sim 'que Deus é amor, misericórdia, fidelidade'. Citando Isaías, São Pedro escreve aos cristãos: 'pelas suas chagas, fostes curados'."
Segundo o Papa Francisco, os dois papas canonizados este Domingo, identificaram-se até ao extremo com as chagas que de Cristo, que representam simultaneamente o seu sofrimento e o seu amor: "João XXIII e João Paulo II tiveram a coragem de contemplar as feridas de Jesus, tocar as suas mãos chagadas e o seu lado trespassado. Não tiveram vergonha da carne de Cristo, não se escandalizaram d'Ele, da sua cruz; não tiveram vergonha da carne do irmão, porque em cada pessoa atribulada viam Jesus. Foram dois homens corajosos, cheios da parresía do Espírito Santo, e deram testemunho da bondade de Deus, da sua misericórdia, à Igreja e ao mundo."
"Foram sacerdotes, bispos e papas do século XX. Conheceram as suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Mais forte, neles, era Deus; mais forte era a fé em Jesus Cristo, Redentor do homem e Senhor da história; mais forte, neles, era a misericórdia de Deus que se manifesta nestas cinco chagas; mais forte era a proximidade materna de Maria", disse ainda o Papa Francisco.
Um milhão de fiéis inundam Roma
A cerimónia de canonização dos dois "Papas do Século XX" ficará para a história da Igreja e de Roma. Mais de um milhão de fiéis vieram de todo o mundo, com particular destaque da Polónia, dormindo aos milhares nas ruas, apesar do mau tempo, para poderem assistir à celebração.
Esta foi concelebrada por dois papas, 150 cardeais, cerca de mil bispos e pelo menos seis mil padres com lugar reservado, não contando por isso os que foram apenas como peregrinos e estiveram entre a multidão também. Presentes estiveram ainda 122 delegações internacionais, incluindo 24 chefes de Estado. De Portugal, foi o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete.
A cerimónia foi transmitida em directo para todo o mundo, incluindo em tecnologia 3D para 500 salas de cinema.
Após esta celebração, os dois Papas canonizados passam a poder ser venerados como santos na Igreja Católica.
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