Juro que esta crónica não é sobre Isabel Jonet

Henrique Raposo
Expresso, 9 de abril de 2014

Há uns tempos, li no Jornal de Notícias que a bracarense Habitat iria iniciar a construção da sua 50.ª casa para famílias carenciadas. Como? 60 voluntários do Barclays iriam abdicar de dias de férias para completar a tarefa. Repare-se que cada voluntário da Habitat paga a sua própria viagem, o alojamento e até tem de dar um contributo para a construção ou reconstrução da casa em questão. A tal 50.ª casa estava destinada a uma senhora que vivia numa garagem com três filhos depois da morte do marido há doze ou treze anos.
Em Portugal, a Habitat (ONG internacional) já fez intervenções ocasionais na região de Amarante, devido a uma parceria com a Fundação António Manuel da Mota, mas a sua área de influência é naturalmente o Minho (a sede portuguesa fica em Braga). Não por acaso, a primeira casa Made in Habitat foi entregue em 1996 a uma família de Rechã, Vieira do Minho. Ora, eu podia continuar a dar mais exemplos, mas julgo que o ponto está feito: esta gente não quer salvar o mundo e o país com petições e Facebooks enfurecidos. Estas pessoas não andam nos jornais e nas TVs com o discurso indignadinho do costume. Não falam, fazem. Têm uma obra concreta de caridade e de amor pelos outros. 
Os 60 voluntários da 50ª casa fazem parte de uma bolsa de milhares que já ajudou 50 famílias concretas, centenas de pessoas com rosto, rugas e bafo. Não estamos a falar da bondadezinha de esferovite que fala em Solidariedade, Igualdade, Luta contra o Neoliberalismo, esse terrível gambozino. Estamos a falar de uma bondade concreta. Os voluntários da Habitat ajudaram e ajudam pessoas concretas, a Dona Maria, o Sôr Jorge, a Filipa, o João, pessoas que não moram na tal Humanidade, mas sim em sítios pouco chiques como Tamel, Santo Emilião, Nine, Jesufrei, Monsul, Póvoa do Lanhoso. A bondade é como o sexo: não é para comentar, é para fazer. 

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