Ensinar a amar


Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Todos nós existimos para ser felizes. E não nos enganamos quando intuímos que a felicidade está intimamente relacionada com o maior talento que possuímos: a capacidade de amar. Fomos criados por amor e fomos criados para amar ― assim como as aves foram criadas para voar.
Por isso, não é errado afirmar que sempre actuamos "por amor". Sempre agimos procurando a nossa felicidade. Isso acontece tanto quando fazemos o bem ― e nesse caso atrai-nos um amor ordenado, genuíno, verdadeiro ― como quando fazemos o mal, deixando-nos arrastar por um amor desordenado que aparenta uma bondade que na verdade não possui. Trata-se de uma bondade falsa, aparente, enganadora.
Ilustrando esta ideia com exemplos poderíamos dizer o seguinte: quando uma pessoa assalta um banco fá-lo "por amor": por amor ao dinheiro que existe nesse banco. E quando uma pessoa mente também o faz "por amor": por amor a não passar um mau bocado dizendo a verdade. E ― desculpem este exemplo atrevido ― quando um marido deixa a sua mulher e foge com a vizinha, evidentemente, que também o faz "por amor": por amor à vizinha.
Ao pensar em tudo isto, chegamos à conclusão de que a lição mais importante que devemos assimilar nesta vida é esta: aprender a amar. Não com um amor qualquer ― mas com um amor autêntico. E essa lição estuda-se em casa, com uns professores especialmente dotados: os nossos pais. Depois ― e noutro plano ― também a podemos aprender na igreja, na escola e na sociedade. Digo noutro plano porque os pais são sempre os primeiros e os principais educadores dos seus filhos (Catecismo 1653).
Então, podemos dizer sem exagero que o objectivo da missão educativa dos pais é simplesmente ― e não é pouco ― ensinar a amar. Mas atenção: é muito mais fácil ensinar Português, Matemática e Inglês do que ensinar a amar. Esta cadeira que os pais têm de leccionar requer grande parte do seu empenho e das suas energias. Passar tempo real junto dos filhos, ouvi-los a sós um a um, adiantar-se para falar serenamente sobre temas centrais da vida: origem da mesma, crise da adolescência, namoro, vocação que Deus tem previsto para cada um de nós.
E como devem os pais levar a cabo esta missão? Com um amor genuíno, sacrificado, autêntico. O amor não é somente a finalidade da educação ― é também a alma da tarefa educativa.
E convém que os pais não se esqueçam de que os seus filhos estão sujeitos a inúmeras imagens deformadas sobre o que significa amar. Uma omissão da parte deles em temas relacionados com esta matéria pode desencadear nos filhos processos de desumanização que depois são difíceis de recuperar.
Resumindo: diante de imagens deformadas do autêntico rosto do amor, os pais têm a gozosa missão ― confiada por Deus ― de transmitir, de modo vivo, com o exemplo e com a palavra, o seu verdadeiro significado.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria

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