A poeira
Nunca em Portugal concorreram tantos partidos a uma eleição. Alguns, como o PPM e a Nova Democracia, são restos de uma direita morta. Outros vêm de uma extrema-esquerda que se divide e subdivide, por razões que escapam ao comum dos mortais. Os partidos da direita não incomodam ninguém. Os partidos da extrema-esquerda, com o seu atávico fanatismo, vivem num mundo que não existe. Não que deliberadamente escondam a verdade ao país, mas falam de um futuro impossível contra a evidência mais clara e comprovada, anunciam políticas que levariam Portugal a uma inconcebível miséria e alimentam esperanças que levarão inevitavelmente ao desespero. Contra isto não há nada a opor, excepto a paciência e a consoladora previsão que o eleitorado os varrerá de cena.
O pior é que, com meia dúzia de excepções, a extrema-esquerda espalha a intolerância e o ódio em nome da liberdade. Por enquanto, só verbalmente. Mas nada nos garante que o verbo não se torne em acção à medida que a crise for durando e que os fracassos se acumularem. Quando se vê o dr. Mário Soares, com a sua energia do costume, oferecer o seu apoio aos "capitães de Abril" e à gente inominável que os segue, negando um a um os princípios que defendeu no PREC e recolhendo à sua volta os pequenos ditadores que ele nessa altura detestava, o mundo parece virado do avesso. O dr. Soares não percebe talvez que este tributo que ele presta à irracionalidade e à raiva oferecem um exemplo e uma justificação a uma extrema-esquerda que provavelmente não saberá parar a tempo.
Estas desordens passaram também para o PS, onde Seguro mistura alhos com bugalhos. O "maior partido da oposição", como ele se descreve e gosta que lhe chamem, não deu ainda por que em França Hollande, através de Manuel Valls, é obrigado a engolir, como nos sucedeu aqui, uma versão local do programa da troika, que durante anos jurou rejeitar. Do PC ao PS e à poeira de oportunismo e pura estupidez que os rodeia, a esquerda já não é racional. Ganhe ou não ganhe em 25 de Maio, a sua essencial mendacidade, consciente ou não, ficará à mostra. Os portugueses compreendem que o dinheiro que hoje nos chega da Europa e, em pequena parte, dos "mercados", não chegaria, e não chegará, se o furor da esquerda e da extrema-esquerda se puder expandir à sua vontade. E, se por acaso não compreenderem, a realidade não desaparece por isso.
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