Dona Inércia

Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada
ionline, 2013-10-19

Segundo um recente anúncio publicitário, D. Inércia passou-se para o Espírito Santo. Para o Banco, claro, porque o verdadeiro Espírito Santo é o que há de mais contrário à inactividade. O Espírito Santo de Deus é Senhor que dá a vida, é força criadora do universo, é amor vivo, é nascente de santidade, é fogo que arde e que flameja.
Quando o Espírito Santo irrompeu no local onde, por medo aos judeus e aos romanos, os Apóstolos se refugiaram, escancararam-se as portas, quebraram-se os ferrolhos das janelas e soltaram-se as línguas de fogo que, até então, tinham estado quedas e mudas.
Nas águas-furtadas, onde se aloja D. Imaginação, pairam aventuras cheias de céu. No segundo piso vive a D. Vontade, que o sonho desperta, por vezes, para alguma gesta mais afoita. D. Razão, sempre parcimoniosa e explicada, dama de fartos predicados e bastante senhora do seu nariz, habita no primeiro andar. No rés-do-chão, mora a D. Inércia, que é também a porteira da casa. Na cave, por último, reside, acamada e demente, a D. Omissão.
Se o sonho da Imaginação, que a Vontade deseja e que a Razão aprova, não chega a ser realidade, é porque a Inércia lhe tranca a porta da rua. Resta-lhe então descer à cave, onde jazem os cadáveres putrefactos dos ideais por realizar. Quantos projectos adiados, quantas benditas loucuras de amor e de serviço perdidas por inércia! Mais, talvez, do que o ódio de alguns, é a tibieza de muitos a principal aliada do mal e a pior inimiga do Espírito Santo.
Fique-se D. Inércia pelo Banco onde, pacatamente, pôs a render o seu remediado pé-de-meia e que o Espírito Santo seja, em cada cristão, um pé-de-vento que incendeie o seu coração e renove a face da terra.

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