A ponte não é uma miragem
DE | 15/10/13 00:05 | Helena Matos
Acho muito apropriado que a CGTP faça a sua manifestação na ponte sobre o Tejo. Afinal que monumento temos que melhor simbolize os especiais privilégios da esquerda portuguesa do que esta ponte?
Acho muito apropriado que a CGTP faça a sua manifestação na ponte sobre o Tejo. Afinal que monumento temos que melhor simbolize os especiais privilégios da esquerda portuguesa do que esta ponte? Comecemos logo pelo nome: legalmente nascida "ponte que atravessa o Tejo" seria oficialmente designada como ponte Salazar. Depois passaria a 25 de Abril num processo cuja encenação fez parte da pressão que a esquerda radical começou logo a exercer sobre Spínola. Sábio, o povo que nunca chamara Salazar à ponte também não lhe passou a chamar 25 de Abril. Mas para quem tivesse dúvidas as regras ficavam ditadas: a ponte que era má porque era fascista tornou-se boa assim que revolucionariamente baptizada. Voltou a ser assim com o Alqueva que o PCP passou de sabotar a reivindicar, com o Estado Social e agora até com o fado. Em resumo, uma coisa pode em Portugal ser boa ou má consoante seja associada à esquerda ou à direita, respectivamente. E por isso, se neste momento em vez de um líder da CGTP tivéssemos o dirigente de um sindicato, partido ou movimento que não fosse de esquerda a pretender fazer uma manifestação na ponte 25 de Abril não só ninguém o tomava a sério como o davam por maluquinho e irresponsável. E claro que se o líder em causa estivesse para a direita como Arménio Carlos está para a esquerda, tão exótica figura seria retratada pelo menos como um ultra que a Constituição e a cautela mandavam colocar a recato dos seus concidadãos e naturalmente tão longe quanto possível de manifestações em vulgares ruas quanto mais numa ponte.
Mas Arménio Carlos é de esquerda, logo, se quer fazer uma manifestação numa ponte, no Cristo-Rei ou na Torre dos Clérigos, o problema não é dele mas sim dos outros. Ou seja daqueles que não alinham com as teses do líder da CGTP e por isso são imediatamente transformados na retórica "intercegetepiana" em ladrões, fascistas, vigaristas... Aliás esses outros são essenciais ao discurso da esquerda radical integrada pela CGTP pois este estrutura-se a partir de uma retórica "anti", já que não lhe é conveniente nomear aquilo que realmente defende: o comunismo. Afinal a maioria dos portugueses não nutre qualquer simpatia pelo comunismo e nesta maioria integro muitos dos que votam PCP pois tal como o cantor de intervenção que em 1975 confessava a um amigo "Não digas nada a ninguém mas se o PCP ganhar eu fujo" ao que o amigo respondia "Eu também", a relação com o comunismo do povo que desfila de bandeira vermelha ao ombro restringe-se precisamente a isto: participar em organizações comunistas como a CGTP que acreditam ter meios para lhes conseguir melhores condições de vida no capitalismo, mais empregos na câmara e mais um autocarro da junta para ir à praia. No resto comunismo só vê-lo de quando em quando numas excursões a Cuba.
Assim, mandam os costumes nacionais que se Arménio Carlos quiser fará a manifestação na ponte e se tudo correr bem mais uma vez se provará a superioridade moral dos comunistas nacionais. Se algo correr mal a culpa será do Governo, da polícia, dos jornalistas, dos infiltrados ou das gaivotas mas nunca da CGTP que por há anos e anos falar de pobres, trabalhadores e desempregados está isenta de culpas apesar de a maioria das medidas que a central sindical tem defendido ao longo dos anos ser um caminho mais que certo e garantido para termos mais pobres e sermos um país menos livre e mais atrasado.
Por fim mas não por último a ponte representa aquilo que a esquerda radical sempre soube ser o seu caminho: envolver o PS na sua estratégia. Quando em 1994 aconteceu o bloqueio da ponte aconteceu também algo mais: figuras então importantes do PS, como Armando Vara, deram o seu aval àquele bloqueio. Ou, por outras palavras, deram o seu aval a uma estratégia de rua contra o então governo liderado por Cavaco Silva. Se o sucedido na ponte em 1974 ensina que o apadrinhamento pela esquerda transforma algo mau em bom, o bloqueio de 1994 mostrou que é menor a legitimidade para governar da não-esquerda. Melhor dizendo, em Portugal a direita não ganha o poder é sim a esquerda que por razões meramente conjunturais às vezes o perde. Logo fazer cair na rua ou mais apropriadamente dizendo na ponte um governo chefiado pelos sociais-democratas será o epílogo natural de uma aliança de esquerda a que o PS sempre se tem furtado mas que em 2015 lhe pode ser imposta. A manifestação na ponte a 19 de outubro de 2013 é portanto um sinal com vários destinatários: para o país não ter dúvidas sobre os duplos critérios que se aplicam à CGTP e aos demais mortais; para o Governo ficar ciente que basta um bater de braços diante de um polícia numa ponte para que os juros da dívida subam e o poder trema e ainda um sinal para que o PS não esqueça que a ponte não é uma miragem mas sim uma passagem. Para onde? Para uma frente de esquerda.
Acho muito apropriado que a CGTP faça a sua manifestação na ponte sobre o Tejo. Afinal que monumento temos que melhor simbolize os especiais privilégios da esquerda portuguesa do que esta ponte?
Acho muito apropriado que a CGTP faça a sua manifestação na ponte sobre o Tejo. Afinal que monumento temos que melhor simbolize os especiais privilégios da esquerda portuguesa do que esta ponte? Comecemos logo pelo nome: legalmente nascida "ponte que atravessa o Tejo" seria oficialmente designada como ponte Salazar. Depois passaria a 25 de Abril num processo cuja encenação fez parte da pressão que a esquerda radical começou logo a exercer sobre Spínola. Sábio, o povo que nunca chamara Salazar à ponte também não lhe passou a chamar 25 de Abril. Mas para quem tivesse dúvidas as regras ficavam ditadas: a ponte que era má porque era fascista tornou-se boa assim que revolucionariamente baptizada. Voltou a ser assim com o Alqueva que o PCP passou de sabotar a reivindicar, com o Estado Social e agora até com o fado. Em resumo, uma coisa pode em Portugal ser boa ou má consoante seja associada à esquerda ou à direita, respectivamente. E por isso, se neste momento em vez de um líder da CGTP tivéssemos o dirigente de um sindicato, partido ou movimento que não fosse de esquerda a pretender fazer uma manifestação na ponte 25 de Abril não só ninguém o tomava a sério como o davam por maluquinho e irresponsável. E claro que se o líder em causa estivesse para a direita como Arménio Carlos está para a esquerda, tão exótica figura seria retratada pelo menos como um ultra que a Constituição e a cautela mandavam colocar a recato dos seus concidadãos e naturalmente tão longe quanto possível de manifestações em vulgares ruas quanto mais numa ponte.
Mas Arménio Carlos é de esquerda, logo, se quer fazer uma manifestação numa ponte, no Cristo-Rei ou na Torre dos Clérigos, o problema não é dele mas sim dos outros. Ou seja daqueles que não alinham com as teses do líder da CGTP e por isso são imediatamente transformados na retórica "intercegetepiana" em ladrões, fascistas, vigaristas... Aliás esses outros são essenciais ao discurso da esquerda radical integrada pela CGTP pois este estrutura-se a partir de uma retórica "anti", já que não lhe é conveniente nomear aquilo que realmente defende: o comunismo. Afinal a maioria dos portugueses não nutre qualquer simpatia pelo comunismo e nesta maioria integro muitos dos que votam PCP pois tal como o cantor de intervenção que em 1975 confessava a um amigo "Não digas nada a ninguém mas se o PCP ganhar eu fujo" ao que o amigo respondia "Eu também", a relação com o comunismo do povo que desfila de bandeira vermelha ao ombro restringe-se precisamente a isto: participar em organizações comunistas como a CGTP que acreditam ter meios para lhes conseguir melhores condições de vida no capitalismo, mais empregos na câmara e mais um autocarro da junta para ir à praia. No resto comunismo só vê-lo de quando em quando numas excursões a Cuba.
Assim, mandam os costumes nacionais que se Arménio Carlos quiser fará a manifestação na ponte e se tudo correr bem mais uma vez se provará a superioridade moral dos comunistas nacionais. Se algo correr mal a culpa será do Governo, da polícia, dos jornalistas, dos infiltrados ou das gaivotas mas nunca da CGTP que por há anos e anos falar de pobres, trabalhadores e desempregados está isenta de culpas apesar de a maioria das medidas que a central sindical tem defendido ao longo dos anos ser um caminho mais que certo e garantido para termos mais pobres e sermos um país menos livre e mais atrasado.
Por fim mas não por último a ponte representa aquilo que a esquerda radical sempre soube ser o seu caminho: envolver o PS na sua estratégia. Quando em 1994 aconteceu o bloqueio da ponte aconteceu também algo mais: figuras então importantes do PS, como Armando Vara, deram o seu aval àquele bloqueio. Ou, por outras palavras, deram o seu aval a uma estratégia de rua contra o então governo liderado por Cavaco Silva. Se o sucedido na ponte em 1974 ensina que o apadrinhamento pela esquerda transforma algo mau em bom, o bloqueio de 1994 mostrou que é menor a legitimidade para governar da não-esquerda. Melhor dizendo, em Portugal a direita não ganha o poder é sim a esquerda que por razões meramente conjunturais às vezes o perde. Logo fazer cair na rua ou mais apropriadamente dizendo na ponte um governo chefiado pelos sociais-democratas será o epílogo natural de uma aliança de esquerda a que o PS sempre se tem furtado mas que em 2015 lhe pode ser imposta. A manifestação na ponte a 19 de outubro de 2013 é portanto um sinal com vários destinatários: para o país não ter dúvidas sobre os duplos critérios que se aplicam à CGTP e aos demais mortais; para o Governo ficar ciente que basta um bater de braços diante de um polícia numa ponte para que os juros da dívida subam e o poder trema e ainda um sinal para que o PS não esqueça que a ponte não é uma miragem mas sim uma passagem. Para onde? Para uma frente de esquerda.
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