OS DONOS DE PORTUGAL

Os donos de Portugal, os verdadeiros donos de Portugal, impunes, foram os que estiveram cobardemente por detrás dos enérgicos mas criminosos agentes Buiça e Costa, no assassinato real de Lisboa, do dia 1 de Fevereiro de 1908.
O processo de inquérito criminal então desencadeado não foi obviamente concluído, as peças principais desapareceram da secretaria, não houve culpados.
Quem dirigiu e orientou o crime contava exactamente com isso.
Supôs que não haveria sobreviventes da acção do Terreiro do Paço, como não houve.
E sabia que posteriormente não haveria crime investigado a fundo, nem castigo.
A monarquia ficou totalmente a prazo e dependente de posterior decisão do directório ordenante e dono de Portugal.
No 5 de Outubro de 1910, o fruto estava maduro e aconteceu a república.
Igualmente sem remoque, nem combate.
Porque e quando os donos quiseram e previram, acabaram reis e monarquia.
Posteriormente, foi o mesmo directório mandante que determinou o fim da anarquia abjecta da 1.ª república, porque aquela abjecção irracional afectava as mais-valias, os lucros e o poder efectivo dos donos de Portugal, e que sufragou o feitor designado Salazar.
Mais tarde, quando a resistência popular e patriótica levada a cabo na guerra ultramarina de 1961/1974 parecia poder comprometer e superar o poder de disposição e de negócio dos donos de Portugal, como que por magia, em mais uma madrugada irresistente de muito poucos do tipo de 05.10.1910, mas em 25.04.1974, esfumou-se o império.
Depois, na sua persistente ânsia de cupidez, usura e domínio materialista e pagão os donos de Portugal meteram-nos nisto e faliram isto.
Sem território de salvaguarda, sem rei, nem roque, sem um tecido forte e partilhado de princípios e valores, não vamos um povo, mas um rancho que já não se sente, como boa gente, nem já compreende os sinais dos tempos.
Conta somente os tostões de todos os saques que lhe foram feitos.
Mas os donos de Portugal estão aflitos porque já não há forma de enganar o povo.
Porque sem pão, nem circo.
E, sobretudo, porque não têm alma que mobilize e dê esperança.
Porque a venderam ao diabo.
A escuridão pública do lançamento do não-livro de Sócrates fala disso.

Miguel Alvim
Advogado

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