Assassinos

João Pereira Coutinho
Correio da manhã, 13 Outubro 2013

Os verdadeiros assassinos de Lampedusa continuam na sombra.
Durão Barroso foi a Lampedusa para prestar homenagem a centenas de imigrantes mortos em naufrágio. A população recebeu-o com as honrarias da praxe. 'Assassino!', gritou-se na ilha. E 'assassino' grita-se nos jornais.
Parece que a morte dos imigrantes é culpa exclusiva da Europa e das suas políticas restritivas de imigração.
É uma forma de ver as coisas.
Outra, mais desconfortável, é perguntar por que motivo tanta gente arrisca a vida para chegar à Europa. A resposta talvez nos levasse ao colapso – político, social, económico – de uma parte da África pós-colonial depois da partida do abominável 'homem branco'.
Na minha modesta opinião, quem começa por matar aquelas centenas de infelizes são governos corruptos que, pela fome ou pela catana, os enfiam em barcos medonhos. Mas é sempre mais confortável chamar 'assassino' ao dr. Durão enquanto os verdadeiros assassinos continuam na sombra.

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