Um modelo
Alberto Gonçalves
DN 2013-10-17
Mário Soares, que diligentemente tenta bater o recorde de afirmações esdrúxulas na mesma semana, estranhou que Cavaco Silva não fosse julgado pelo "caso" BPN. Com a paciência que não dedica aos jornalistas e populares que o insultam, o Prof. Cavaco remeteu o Dr. Soares para os esclarecimentos que já prestara sobre a matéria e que, sendo verdadeiros, o colocam na posição de simples depositante do banco em questão. Segundo o Expresso, o Dr. Soares terá enviado um discreto pedido de desculpas ao chefe da Casa Civil, confessando que não dera pelos ditos esclarecimentos. Mas essa não é a questão.
A questão é a radiante facilidade com que o Presidente da República está sujeito ao tipo de ataques que ninguém ousa lançar aos ex-presidentes. Veja-se o mero exemplo da Fundação Mário Soares, que em 2014 receberá 210 mil euros do erário público, a juntar aos cerca de milhão e meio que já recebeu entre 2008 e 2013. Não espantaria que, em tempos de crise extremada, um populista pedisse o julgamento do Dr. Soares e dos benfeitores do Dr. Soares por aquilo que qualquer cidadão menos cauteloso no verbo poderia classificar de roubo, embora um roubo legalíssimo. O espantoso é que esse populista não surgiu. O respeitinho que o Dr. Soares suscita é directamente proporcional ao desrespeito que o próprio dedica ao mundo em seu redor, desde o Chefe de Estado ao simples contribuinte. Em países normais, semelhante fenómeno deveria servir de alerta. Aqui, serve de modelo.
DN 2013-10-17
Mário Soares, que diligentemente tenta bater o recorde de afirmações esdrúxulas na mesma semana, estranhou que Cavaco Silva não fosse julgado pelo "caso" BPN. Com a paciência que não dedica aos jornalistas e populares que o insultam, o Prof. Cavaco remeteu o Dr. Soares para os esclarecimentos que já prestara sobre a matéria e que, sendo verdadeiros, o colocam na posição de simples depositante do banco em questão. Segundo o Expresso, o Dr. Soares terá enviado um discreto pedido de desculpas ao chefe da Casa Civil, confessando que não dera pelos ditos esclarecimentos. Mas essa não é a questão.
A questão é a radiante facilidade com que o Presidente da República está sujeito ao tipo de ataques que ninguém ousa lançar aos ex-presidentes. Veja-se o mero exemplo da Fundação Mário Soares, que em 2014 receberá 210 mil euros do erário público, a juntar aos cerca de milhão e meio que já recebeu entre 2008 e 2013. Não espantaria que, em tempos de crise extremada, um populista pedisse o julgamento do Dr. Soares e dos benfeitores do Dr. Soares por aquilo que qualquer cidadão menos cauteloso no verbo poderia classificar de roubo, embora um roubo legalíssimo. O espantoso é que esse populista não surgiu. O respeitinho que o Dr. Soares suscita é directamente proporcional ao desrespeito que o próprio dedica ao mundo em seu redor, desde o Chefe de Estado ao simples contribuinte. Em países normais, semelhante fenómeno deveria servir de alerta. Aqui, serve de modelo.
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