José Luís Nunes Martins. Reflexões clássicas para tempos modernos

i-online, 2013-10-14
Carolina Pelicano Falcão

Muitas crónicas depois, José Luís decide compilar em livro as suas "Filosofias"

Depois de ter escrito dezenas de crónicas no i, a ideia de compilar os seus escritos surgiu naturalmente a José Luís Nunes Martins. "Preocupei-me sempre com fazer algo que vai um bocadinho contra a corrente das crónicas naturais, que é torná-las o mais intemporais possível para poderem funcionar em qualquer contexto em livro."
O título do livro, "Filosofias, 79 Reflexões" não poderia pois estar mais de acordo com a intemporalidade procurada pela autor, como nos explica: "A sua leitura não quer ser de nenhuma análise circunstancial. Tento distanciar-me um bocadinho da própria actualidade, até porque na filosofia, como diziam os professores na faculdade, a ave de Minerva só levanta ao entardecer. Só conseguimos perceber bem as coisas e o que se passa com a nossa vida passado um bom bocado."
José Luís relega então o comentário da actualidade e outras coisas do momento para quem o sabe fazer, como nos diz, e centra-se noutras reflexões, as quais são perseguidas pelos dois temas em que encontra maior fruição: "O tema da morte é fundamental para mim e o do amor também. Nas crónicas, infelizmente para mim, não consigo reinventar-me assim tanto e volto muitas vezes a esta clara evidência." Ou tal não ocorresse também pelo facto de estes temas se relacionarem directamente com uma das outras ocupações de José Luís, que dá instrução em companhias aéreas em gestão e planeamento de emergência, "um trabalho em que a tragédia precisa de ser planeada e pensada". Afinal como se liga um trabalho ao outro?
"No planeamento de emergência temos de lidar com a nossa finitude e com condicionantes que não gostamos de entender. Que as pessoas que amamos possam morrer e que nós próprios possamos morrer, são duas verdade absolutas. Partir daqui para pensar uma quantidade de temas parece-me frutífero. Até porque a filosofia é a procura da verdade e estes são dois pilares da verdade." Neste sentido, José Luís não tem dúvidas: "Acho que nenhum pensador vai ter algum sucesso se partir do princípio de que nós não morremos ou que o amor não é importante."
Ainda assim, não será esse o motivo para descartar os grandes pensadores. Pelo contrário. Cada um dos tema tratados nas sua "Filosofias" implica um regresso às bases filosóficas: "Revisito sempre os cânones da filosofia para saber quais são os pontos essenciais na consideração de um tema. Se falo sobre o sofrimento vou revisitar o que os filósofos mais importantes disseram sobre isso. É um roteiro dos marcos."
E não só. Estas reflexões são também um roteiro pelo mundo de José Luís, que acredita que a filosofia é sempre autobiográfica. "Escrevo aquilo que penso. As minhas crónicas são, feliz ou infelizmente, retratos mais ou menos fiéis de alguns pontos da minha vida interior. E por isso há crónicas em que digo uma coisa e depois digo exactamente o contrário, porque sou assim."
José Luís explica-nos que em nenhum momento as suas crónicas têm para si um carácter terapêutico. Antes, "é terapêutico que me leiam porque sinto que chego a alguém. Escrever para a gaveta para mim não faz sentido. Por outro lado, não acredito na auto-ajuda, que me parece um acto egoísta. Acredito que nos ajudamos uns aos outros e que Deus acaba por nos ajudar a todos". Preferindo a entreajuda, José Luís solta ainda: "Aquilo que escrevo é aquilo que eu gostava de ser. Sou a primeira pessoa que precisa de ler aquilo que escrevo."

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