Reality show especial: gala de autocarros em directo

Eduardo Cintra Torres (ectorres@cmjornal.pt)
Correio da manhã, 2013-10-20
A principal razão da manifestação da CGTP foi esta: a CGTP. Como outras organizações experientes, a CGTP-PCP sabe que para manter as crenças tem de mobilizar os seguidores em rituais frequentes. Esta manif subiu a parada por duas razões: ao pretender o percurso pedonal na Ponte e ao concentrar-se absolutamente no poder da imagem e do espectáculo.
As pontes simbolizam a ligação entre o que antes estava separado, a passagem e o seu carácter frequentemente perigoso, que põe o homem à prova. O carácter espiritual das pontes tem uma visualidade tão forte que adquire valor especial para as artes plásticas e, por arrasto, para a visualidade televisiva. O simbolismo da Ponte 25 de Abril é ainda mais carregado, pelo nome que teve e pelo nome que tem, por ligar uma zona "muito PCP" à capital, centro do poder, e pelo seu histórico de utilização política para o bloqueio de 1994.
A CGTP-PCP escolheu assim um lugar com um valor quadruplicado: a ponte como símbolo humano, como ícone visual propício à espectacularidade, como desafio e prova de que a CGTP-PCP é capaz dos feitos mais difíceis e como porta de acesso ao poder. A substituição da marcha pela passagem motorizada diminuiu mas manteve o desafio político-visual: os autocarros, que já no tempo de Salazar e Caetano representavam a mobilização do "país" na sua vinda ao centro do poder, foram filmados pelas TV como se fossem mais do que o que são, autocarros a circular: veja autocarros em directo na TV! A substituição da marcha por autocarros desafiou quem? Não o governo, como diz a CGTP-PCP, pois a proibição da marcha foi razoável por razões de segurança. A CGTP-PCP gaba-se da sua disciplina, mas desacatos em manifes anteriores suas mostraram que não é total. É provável que, ao propor a marcha, a CGTP-PCP já previsse substituí-la pelo desfile motorizado. A CGTP-PCP desafia-se a si mesma e pretende o que as manifes sempre desejam: exibir a sua mobilização pela TV e, pelo número, uma representatividade alternativa à eleitoral. Ao fim do dia, o ritual reforçou as crenças dos participantes e proporcionou horas de nada em directo na TV.
Invulgar pelo local, a manifestação também revelou a normalidade que os protestos assumem nas democracias: milhares de pessoas inscreveram-se na manif como quem reserva um bilhete para o cinema ou para um espectáculo. E é um espectáculo: não é hoje possível separar estas iniciativas da sua dimensão audiovisual. O que a CGTP-PCP organizou foi um eficaz programa de TV, a que os canais aderiram precisamente por esse carácter espectacular.
A VER VAMOS
O GOVERNO TEM DE EXPLICAR O ORÇAMENTO DA RTP
Noticiou o CM: o Orçamento de Estado prevê receitas da RTP de 267 milhões e despesas de 262,6 milhões. Os números não coincidem com a realidade (receitas de 205 milhões, já com a taxa aumentada) e com a reivindicação da RTP, que disse precisar de 200 milhões. Há, pois, cerca de 60 milhões por explicar. De qual dos nossos bolsos sacará o governo os 60 milhões? Nos ministérios dos Negócios Estrangeiros e Economia? Espera aumentar a publicidade com o populismo da RTP 1 e com a introdução de anúncios nas rádios públicas? Nem a RTP nem Poiares Maduro, que prometeu no dia 11 que não pagaríamos mais pela RTP, se dignaram explicar a divergência, desrespeitando o esclarecimento e a "transparência" que o ministro apregoa. 
JÁ AGORA
CASA DOS SEGREDOS CASA DE ALTERNE
Contradição: a TVI, ao mesmo tempo que acentua o carácter institucional do seus noticiários (à espanhola), tem como principal programa de entretenimento o quotidiano de uma casa de alterne e de alguma gente sem educação cujo único objectivo é tornar-se famoso sem saber fazer nada na vida senão usar o corpinho e dizer asneiras. Aflige que tantos vejam coisa tão ruim.

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