Um bebé por um touro
Chegámos a isto.
Ou se percebe ou não se percebe.
Lamentavelmente, parece que os Portugueses ainda não percebem.
1. O animal é um animal.
2. Uma pessoa é diferente.
Não há qualquer comparação.
É inadequada.
Deficiente.
Injusta.
Imprópria.
Imoral.
E, todavia, corre na net subscrita por milhares uma (falaciosíssima) petição para o Presidente da República, para o Primeiro – Ministro e para a Assembleia da República, afirmando, designadamente, que:
(...) as touradas ofendem a fé e o sentimento maioritariamente cristãos e católicos do povo português, pois a Bíblia apresenta os animais como criaturas de Deus (Génesis, 1, 24) e o Catecismo Católico declara ser “contrário à dignidade humana fazer com que os animais sofram ou morram desnecessariamente”, doutrina recentemente recordada pelos Papas João Paulo II e Bento XVI;
(...) o artigo 9.º da Constituição da República Portuguesa consagra como tarefa fundamental do Estado “promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo”;
(...) as touradas são uma das expressões de uma cultura da insensibilidade e da violência que degrada quem a pratica e promove, o que ofende o Artigo 1.º dos “Princípios fundamentais” da Constituição da República Portuguesa, que proclama Portugal como “uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana”;
(...) o progressivo abandono de tradições retrógradas, contrárias a um sentido humanista de cultura como aquilo que contribui para nos tornar melhores seres humanos, é o que caracteriza a evolução mental e civilizacional das sociedades e melhor corresponde à sensibilidade contemporânea;
(...) a abolição das touradas vem na linha humanista da abolição da pena de morte, em que Portugal foi pioneiro, e promoverá a imagem de Portugal em todo o mundo, sendo um contributo decisivo para o país mais ético que todos desejamos, esse “país mais livre, mais justo e mais fraterno” consagrado no “Preâmbulo” da Constituição da República Portuguesa;
Espantosamente (ou talvez não), esta petição pública corre contra outra denominada “DEFENDER O FUTURO”, que apela a verdades simples e essenciais como estas:
1. Portugal afunda-se hoje numa profunda crise económica e social, a que não é alheia a teia legislativa dos últimos seis anos de governação, destruidora dos pilares estruturantes da Sociedade.
2. (...) A reforma da Sociedade não deve ser realizada apenas na área económica e fiscal. Carece de uma intervenção mais profunda, designadamente no que diz respeito à Dignidade da Pessoa, em todas as etapas da sua vida, desde a concepção até à morte natural, à cultura da Responsabilidade, do compromisso no Casamento e na Família; por outras palavras, é necessária uma verdadeira cultura da Liberdade.
Efectivamente, desde o ano de 2007, já foram mortas por aborto em Portugal com o apoio activo e o financiamento do Estado, 85.000 crianças.
E é caso para perguntar:
Onde param a tal fé e o sentimento maioritariamente cristãos e católicos do povo português?
E a Bíblia?
E o Catecismo Católico?
E o sentido humanista de cultura?
Como se vê, em Portugal, continuamos a enganar-nos a nós próprios, a brincar com coisas sérias e a trocar tudo.
A tratar os animais como pessoas.
E as pessoas como verdadeiros animais.
Esta história, se não se inverte rapidamente, acaba mal.
Miguel Alvim
Advogado
Comentários
sobre a diferença incomensurável entre pessoa e animal, penso que é óbvio; e penso que isso não está em questão. Já sobre a "(falaciosíssima) petição", confesso que não encontro falácias...
Consultando o Catecismo da Igreja Católica, de facto, podemos encontrar no nº2418 que "é contrário à dignidade humana fazer sofrer inutilmente os animais e dispor indiscriminadamente das suas vidas" e no nº2457 que " os animais são confiados ao cuidado do homem, que lhes deve benevolência".
Portanto, alguém que veja as touradas como sofrimento inútil (o que me parece perfeitamente aceitável) está a pôr as premissas para a conclusão correcta e daí tira as consequências.
Também confesso que não percebi quando refere que "esta petição corre contra outra...". A outra petição - "Defender o Futuro" - de facto é de um enorme valor e pertinência mas do que nos apresenta no seu texto, nem a primeira - contra as touradas - se opõe à segunda, nem vejo incompatibilidade entre as duas. Se for uma questão de prioridades, concordo. Mas quanto a incompatibilidade, teria que a justificar melhor.
Espero ter ajudado à reflexão!
Já o dinheiro para fazer touradas é apenas de quem a elas assiste.