Comédia grega

28 | 03 | 2012   20.30H
João César das Neves | naohaalmocosgratis@ucp.pt

No passado dia 9 deu-se a maior falência soberana da história. A Grécia eliminou 100 mil milhões de euros da sua dívida pública, que ronda os 350. Como um país não é uma empresa, falir significou uma «reestrutura-ção», trocando os títulos do tesouro por outros, de prazo mais longo, taxa mais baixa e valor facial inferior a metade. A grande maioria dos credores aceitou a troca, mas um resto foi forçado por lei a aceitar as condições.
Este último aspecto criou um segundo fenómeno histórico, o primeiro e tão temido disparar dos CDS. Esse novo produto financeiro constitui um seguro de crédito, pagando um prémio aos investidores em caso de falência do título-base. Evitar isso foi a razão por que, nesta negociação grega, as autoridades tentaram tanto tempo manter a ficção de uma troca voluntária. Desse modo, tecnicamente não haveria falência, precaven-do as consequências de grandes indemnizações, que poderiam criar uma crise semelhante à de 2008. Isso falhou.
Pode assim dizer-se que tudo correu pelo pior: faliu a Grécia e dispararam os CDS. Mas, passado quase um mês, nenhum dos medos apregoados se verificou. As taxas reagiram calmamente, não houve contágios, não caiu o sistema financeiro, não derrocou o euro. Esta falência histórica mostrou assim que os famigerados mercados não são maléficos ou histéricos. Afinal, o nervosismo devia-se mais às sucessivas negações, enganos e ficções políticas que as autoridades tentaram impingir nos últimos anos. Os credores não são estúpidos e reagem serenamente quando as circunstâncias o justificam.

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