Um caso é um caso

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Público 2012-03-04  Miguel Esteves Cardoso
No jornal de sexta-feira a reportagem que mais me marcou, bem escrita por Marisa Soares e bem editada, apresentada e paginada (o BEAP essencial) pelo PÚBLICO, contava a triste história de José e Rosa Clemente, sob o título: "Casal de idosos vive há nove anos num contentor e corre o risco de ficar sem tecto". As fotografias de Pedro Maia eram igualmente esclarecedoras, no sentido maior de trazer a claridade, de fazer luz sobre a escuridão escondida.
Uma pessoa estúpida diria que se trata de microjornalismo. É sobre um casal, uma empresa, uma situação financeira, um caso concreto. Mas aí está: como é particular e identificável, é mais fácil e imediatamente resolúvel.
O macrojornalismo - a tirania assassina na Síria; a nossa dependência financeira da Alemanha - é igualmente verdadeiro. Tem de ser fomentado. E aplaudido, apesar de ser ineficaz. Não altera o estado das coisas. Afirma-o e enfatiza-o. Mas nem sequer ameaça alterá-lo.
Por isso mesmo, seguindo um ponto de vista conservador e/ou progressista, mais vale falar de situações pessoais que talvez possam ser resolvidas do que falar de condições gerais que requerem grandes mudanças políticas e estruturais.
O dito microjornalismo, com nomes e situações conhecidos e solúveis, é o jornalismo do futuro. O antigo "activismo" tornou-se em actualidade. O que vale é obter resultados.
Uma boa resposta vale mais do que mil boas perguntas. Nem é preciso perguntar porquê. É porque sim.

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