Uma entrevista que não se devia ter feito

Raquel Abecasis
RR 15 Dez, 2015

É uma entrevista em que Sócrates cumpre a compreensível e legítima missão de se defender. Foi-lhe dada essa oportunidade e Sócrates não a desperdiçou.
O arguido José Sócrates deu uma longa entrevista em dois capítulos, dois dias seguidos em horário nobre na televisão para se justificar, depois de dez meses em prisão preventiva e quando ainda está a decorrer uma investigação onde é suspeito dos crimes de corrupção, fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais.
É uma entrevista em que Sócrates cumpre a compreensível e legítima missão de se defender. Foi-lhe dada essa oportunidade e Sócrates não a desperdiçou.
O que é lamentável é a posição do entrevistador e do meio de comunicação que decidiu entrevistar um homem, a meio de um processo, sem conhecimento do mesmo, logo sem meios nem instrumentos para fazer o contraditório.
Resultado: foi como se estivéssemos a assistir a um julgamento em que só o advogado de defesa teve direito a falar, argumentar e contra argumentar, mandando calar o juiz sempre que quis continuar a falar e sugerindo-lhe mesmo a mudança de tema quando considerou o assunto esgotado.
No fim do espectáculo o animal feroz mostrou a sua raça e o jornalismo deu um triste espectáculo.

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