Banif - três perguntas
Jornal de Notícias 24.12.2015
NUNO MELO
- Por que razão é que duas semanas antes da venda do Banif, uma fuga de informação lançou o pânico e determinou a corrida aos depósitos, com a consequência desvalorização do banco perante investidores e a venda a preço de saldo? Os problemas no Banif não começaram em dezembro de 2015. Começaram em 2008. Acontece que em 2015, o Banif perdeu mais em 15 dias do que em vários anos anteriores. O motivo: uma simples notícia.A TVI divulgou que estava tudo "preparado para o fecho do banco". "A parte boa iria para a CGD" e haveria "perdas para os acionistas e depositantes acima dos 100 mil euros". Ato contínuo, mil milhões de euros em depósitos voaram.A divulgação cirúrgica e alarmista aconteceu no exato momento do epílogo negocial. Sucede que poucos conheciam os detalhes da operação. Sendo factual que a notícia coincidiu com a vontade do Governo, na intenção da integração do Banif na CGD.Significa que o que tinha de ser reservado trespassou para o conhecimento geral. Não foram apenas os trabalhadores, clientes e acionistas do Banif que foram prejudicados. Foram os contribuintes chamados a suportar os encargos, agravados em razão disso para valores absurdos.
- Por que razão é que a solução que o Governo dos socialistas - amparado por bloquistas e comunistas - decidiu foi encontrada nove dias antes da entrada em vigor de novas regras europeias, que eventualmente determinariam menor custo para os contribuintes portugueses?No próximo dia 1 de janeiro de 2016 entrará em vigor a nova diretiva europeia do resgate bancário, que independentemente da salvaguarda de depósitos, inclui os seus titulares na hierarquia daqueles que serão chamados no auxílio dos bancos em dificuldades.Em Itália foi notícia que três bancos - Carife, Etruria e Banca Marche - seriam intervencionados segundo as novas regras. O Governo português optou pelas antigas. Porquê?
- Por que razão é que o BES significava cerca de 20% de quota de mercado e o Banif cerca de 4%, mas o esforço dos contribuintes na solução não respeitará essa proporção?O Novo Banco recebeu uma injeção de capital de 4,9 mil milhões de euros. Destes, 4,4 mil milhões de euros resultaram de um empréstimo do Estado e 500 milhões de euros foram suportados pelo fundo de resolução. Significa que o Estado poderá ter a expectativa de ressarcimento do seu crédito, considerado também o valor da venda do Banco.O Banif receberá uma injeção de capital de mais de 2,1 mil milhões de euros, a suportar em cerca de 1,7 mil milhões de euros pelos contribuintes. Não serão precisas muitas contas para se perceber que algo aqui não bate certo. A geringonça terá muito que explicar.
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