Os 50 anos do Cristo Rei de Almada

SOL, 21 ABR 09
Por José Carlos Fernández Otero

O Corcovado, uma das sete maravilhas da humanidade, recentemente declarada, foi inaugurado a 12 de Outubro de 1931. A partir de uma vista panorâmica incomparável, contempla o Pão de Açúcar, Ipanema, Copacabana, a cidade do Rio de Janeiro

A ideia foi bem aceite em Portugal e, enquanto, na vizinha Espanha nos debatíamos numa triste guerra ‘incivil’ e, no mundo, a guerra destruía a paz e a convivência, levantava-se em Almada, de braços abertos à paz e ao diálogo, abraçando Lisboa e o mundo, a majestosa imagem do Cristo Rei, que cumpre 50 anos da sua inauguração no próximo dia 17 de Maio.

Aqueles que erigiram a imagem conseguiram transmitir bem o sentir do povo. Com efeito, é impossível conceber a História da Europa em geral, e de Portugal de modo particular, sem a contribuição cristã. A sociedade será aconfessional ou laica, mas a povo, na sua grande maioria, vai beber as suas raízes a Jesus de Nazaré.

Na expansão deste sentir cristão, tem Portugal um lugar privilegiado. Não podemos esquecer que foi um membro de uma das dioceses mais importantes da Igreja, a bracarense, Martinho de Dume, quem impulsionou a evangelização de grande parte da península. O exemplo do beato Nunes Álvares Pereira, que bem depressa será santo, constituiu o mais claro expoente da perfeita simbiose entre a fé, a política, a caridade e a lealdade inquebrantável à sua pátria.

A ele podemos associar a impressionante vida da Rainha Santa Isabel, peregrina de Compostela, onde o arcebispo lhe concedeu o seu báculo, hoje conservado em Coimbra. Não podemos esquecer, de igual modo, a pobreza do único Papa português, Pedro Hispano, o Papa João XXI, que não pôde aguentar a derrocada da sua humilde casa e faleceu sob os seus escombros.

Na Divina Comédia, Dante Alighieri diz que é o único Papa digno dos Céus.

Fé que se entrelaça com a devoção a Maria, desde o Sameiro à Cova da Iria, a mais importante manifestação mariana dos tempos modernos.

Além disso, Portugal possui a personagem mais universal da Igreja. Ninguém no mundo inteiro é mais citado, honrado e querido que Fernando de Bulhão. Santo António é o reflexo da idiossincrasia portuguesa.

A figura do Cristo Rei de Almada recolhe todas estas essências, abraça-as e bendi-las. Os ‘alfacinhas’ de nascimento podem estar orgulhosos. E os que o somos apenas de coração gostamos de viver numa cidade que é de luz, de arte manuelina, do fado triste e também alegre, da fruta madura no estio e das castanhas assadas quando o frio acena.

Nunca um povo é tão grande corno quando honra as suas mais egrégias personagens. No dia 17 de Maio, os lisboetas e demais população cruzarão as águas de toda a Península para se dirigirem a Almada, a fim de venerarem e honrarem a sua sentinela da urbe e do orbe, símbolo e realidade de paz e amor, sinónimo das bem-aventuranças.

José Carlos Fernández Otero
Cónego, jornalista e pároco da comunidade espanhola

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