Uma lição de S. Nuno
«Qual é o rei que, estando para entrar em guerra contra outro rei, não pondera primeiro se com 10.000 homens pode enfrentar aquele que vem contra ele com 20.000?» (Lc 14, 31). Esta comparação evangélica é lida muito apropriadamente na festa de S. Nuno Álvares Pereira. Grande cabo-de-guerra, soube derrotar os seus adversários com recursos muito inferiores aos de Castela, e com perdas mínimas do seu lado, usando tácticas modernas e bom sentido estratégico. Mas bem sabemos que isso seria insuficiente, se os seus soldados não estivessem tão motivados como ele para enfrentar os inimigos. Estes atacavam por obediência militar a legítimas ambições - segundo as normas dinásticas - dos seus chefes; os nossos, por amor à Pátria, à independência, à identidade nacional, que é direito superior.
Pensando em aplicar de algum modo o exemplo do santo à vida empresarial, diríamos que a principal superioridade do Condestável consistiu numa união perfeita entre ele e os «subordinados», muito mais estreita do que a dos chefes castelhanos com os seus.
Existe sempre união de interesses entre qualquer empresário e os seus empregados, mas costumam ser interesses diferentes: o empresário deseja enriquecer, ou ter êxito pessoal, ou realizar um projecto útil à sociedade; e os empregados desejam trabalhar e sustentar-se a eles e à família. O empregado procura o patrão que mais lhe garanta o salário, a estabilidade e o progresso na carreira, e por isso o segue e lhe obedece, e até o admirará, mas sem se identificar por completo com ele, e sempre disposto a abandoná-lo quando se lhe apresente outro melhor. Por isso, a autoridade do patrão é naturalmente precária, frágil, por mais qualidades de chefia que possua.
As ambições do empresário podem ser legítimas e, em princípio, são-no:
uma empresa sustentável e lucrativa é, sem dúvida uma riqueza para o país e uma fonte de bem-estar para muitas famílias. Simplesmente, a sua unidade habitualmente é fraca, e tantas vezes a vemos quebrar-se, inclusive nas mais potentes empresas. O ideal seria que os empregados sentissem que a primeira e maior ambição dos chefes eram eles mesmos e os seus lares. Quando os subordinados se revêem no patrão, sentindo-se realmente representados por ele, este não precisa de especiais qualidades de chefia, porque a sua autoridade é natural e indiscutível: a autoridade de quem os serve lealmente. Não se trata de paternalismo, nem de uma simples união de interesses diversos, mas do mesmo interesse, comum a uns e outros, e assumido por todos.
Os cavaleiros, besteiros, lanceiros e peões de Atoleiros ou Aljubarrota não obedeceram ao Condestável pelos seus talentos militares, mas pela determinação com que Nun’Álvares estava decidido a defender Portugal, custasse o que custasse, e ainda que fossem vencidos. Que era um chefe competente, verificou-se depois. Mas nunca o seria sem o mesmo amor à pátria dos que comandava.
Mais forte, portanto, do que a união de interesses é o interesse comum.
Mons. Hugo de Azevedo
(publicado em http://spedeus.blogspot.com/ a 30 de Abril de 2009
Comentários