Nun'Álvares Pereira
Nun'Álvares Pereira
PÚBLICO, 05.04.2009
Luís Miguel Queirós
Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Arthur te deu.
'Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!
Fernando Pessoa
O poema que a Mensagem de Pessoa dedica a Nun'Álvares Pereira resume exemplarmente a imagem que dele nos deixaram os cronistas da época, quer na Crónica do Condestável, de autor incerto, quer na Crónica de D. João I, de Fernão Lopes.
Num país sem rei, como a Bretanha dos tempos de Artur, um hesitante bastardo real ascende ao trono ajudado por um punhado de fiéis cavaleiros. Só que, na versão portuguesa, quem empunha Excalibur não é o rei, mas antes Galahad, bastardo de Lancelot, o cavaleiro sem mácula a quem é dado ver o Graal. Se trocarmos o Graal por Portugal, temos Nun'Álvares Pereira tal como no-lo pintam as crónicas. S. Portugal, chamou-lhe Pessoa. Daqui a um mês, a Igreja chamar-lhe-á, oficialmente, São Nuno de Santa Maria, o nome que adoptou quando se recolheu no Convento do Carmo.
O mérito do condestável não foi apenas o de vencer umas quantas batalhas contra os castelhanos, mas o de ter mostrado, num momento em que poucos acreditariam que tal fosse possível, incluindo o futuro D. João I, que a autonomia de Portugal não era uma causa perdida e que o improvável homem certo para fundar a nova dinastia era um bastardo, entre outros, do rei D. Pedro I, que o pai encaminhara para a carreira religiosa e fora colocado aos sete anos no mestrado da Ordem de Avis. Nada destinava ao trono aquele que veio a ser o pai da ínclita geração. Não tinha a lei do seu lado e, no início, nem ele próprio acreditava que tivesse o apoio do povo. Foi quando Nuno ergueu a espada, como diz o poeta, que a estrada se começou a ver.
A historiografia contemporânea trouxe muitos dados que permitem perceber melhor o trajecto do condestável e o modo como evoluiu a sua relação, não isenta de atritos, com D. João I. No entanto, não existe ainda um verdadeiro retrato alternativo de Nun'Álvares Pereira. Quando Oliveira Martins, no final do século passado, publica A Vida de Nun'Álvares, pouco consegue distanciar-se de Fernão Lopes, ainda que a obra também testemunhe as idiossincrasias da época em que foi escrita. Ao narrar, por exemplo, o momento em que o velho guerreiro decide fechar-se numa cela, o historiador vê nesta atitude um desejo de auto-aniquilação, que o condestável só não teria consumado de forma mais expedita por receio de incorrer em pecado mortal. O livro de Oliveira Martins saiu em 1893, logo após Camilo e Antero terem posto fim à vida. Era natural que visse potenciais suicidas onde provavelmente não os havia.
Já Fernão Lopes, contemporâneo das figuras cujos feitos narra, explorou abertamente a identificação de Nun'Álvares com Galahad (ou Galaaz). E fê-lo numa das mais sedutoras prosas alguma vez escritas em língua portuguesa. Quando fechamos os seus livros, pode-nos ocorrer que estivemos a ler alguém cujo papel era o de creditar uma nova dinastia, que nascera, de facto, carecida de legitimação. Mas quando o lemos, não. Quando o lemos, acreditamos em tudo o que nos conta como se estivéssemos a vê-lo com os nossos próprios olhos.
Ainda assim, não é preciso ser crédulo para admitir que D. João, nesses anos em que andava a unificar o reino, tenha pensado muitas vezes no mítico monarca da Bretanha. E pode dar-se como razoavelmente certo que Nun'Álvares Pereira tomou como modelo inspirador a figura do guerreiro asceta Galahad, que fora já o ícone dessa idealizada e católica cavalaria das cruzadas que S. Bernardo teorizou e enalteceu. Nas versões de Chrétien de Troyes e Robert de Boron, a lenda arturiana popularizara-se na Europa já desde o século XII, e os cronistas confirmam que o futuro condestável ouviu e leu na infância as histórias da Távola Redonda. Entre os que virão a ser os seus companheiros de armas, aparecem homens com o significativo nome próprio de Lançarote, aportuguesamento de Lancelot.
Filho e neto de clérigos
Quando Nun'Álvares nasceu, em 1360, a última cruzada terminara há quase um século. Mas Portugal serviu-lhe de Jerusalém. Descontada a participação, em idade já um tanto avançada, na tomada de Ceuta, onde ainda poderá ter dizimado alguns "infiéis", teve de se contentar com matar - directamente ou enquanto líder militar - um considerável número de catolicíssimos castelhanos. É certo que Castela, tal como Portugal no final do reinado de D. Fernando, se inclinara para o antipapa de Avinhão, Clemente VII, em detrimento de Urbano VI. Mas não foi por isso que Nuno combateu os castelhanos e os seus partidários em Portugal. Mais provável é que a guerra com Castela tenha constituído um forte motivo para o apoio de D. João I ao Papa de Roma.
Se o génio militar de Nun'Álvares é indiscutível, também não parece lícito duvidar da sua genuína e mística devoção religiosa. Desde muito novo, se não era ainda oficialmente beato, como veio a ser em 1918, por decisão do Papa Bento XV, era-o já no sentido mais corriqueiro, e um tanto pejorativo, que hoje damos à palavra. Na paz ou na guerra, andava sempre com um padre atrás e fazia questão de ouvir duas missas por dia.
Poderia admitir-se que a fé lhe corresse no sangue, uma vez que era filho bastardo do prior da Ordem do Hospital, Álvaro Gonçalves Pereira, e neto do arcebispo de Braga, Gonçalo Pereira. No entanto, se alguma coisa herdou do pai e do avô, parece mais provável que tenha sido o temperamento belicoso, e não a humildade cristã, que nenhum destes seus antepassados alguma vez demonstrou possuir em grau apreciável. Gonçalo Pereira lutou com Afonso IV na batalha do Salado. O prior da Ordem do Hospital - ou do Crato, que era então o centro dos estabelecimentos hospitalários em Portugal -, figura muito apreciada na sociedade portuguesa da época, tinha reputação de ser um homem valente e um político sensato, mas a ninguém ocorreria citá-lo como exemplo de castidade. Oliveira Martins atribui-lhe nada menos do que 32 filhos e filhas, a maior parte dos quais são já citados como tal na Crónica do Condestável. Nuno terá sido o 13.º. O mais velho, Pedro, sucedeu ao pai como prior do Crato e, tendo sustentado a causa de Castela, veio a ser mestre de Calatrava. Tal como outro meio-irmão de Nun'Álvares, Diogo, morreu em Aljubarrota, lutando ao lado dos espanhóis.
Dois bastardos
O homem agora reconhecido como santo nasceu no dia 24 de Junho de 1360. O Crato, no Alentejo, ou Cernache do Bonjardim, na Beira Baixa, são os locais mais prováveis. Certo é que veio ao mundo no dia de S. João Baptista, o que foi considerado bom auspício por um astrólogo consultado pelo prior do Crato, que augurou grandes feitos à criança e vaticinou que seria invencível. A mãe, Iria Gonçalves do Carvalhal, filha do alcaide de Almada, era uma aia da corte que teve vários outros filhos do prolífico prior. Depois do nascimento, em 1373, de D. Beatriz, filha do rei D. Fernando e de Leonor Teles, Iria ficou ao serviço da infanta.
Três anos mais velho do que Nun'Álvares, o futuro D. João I nascera em 1357 e também ele teve direito a profecias. O pai, o rei D. Pedro I, afirmou ter-lhe sido dito que um seu filho de nome João haveria de "montar muito alto" e trazer "grande honra a Portugal". O problema é que tinha outro rebento com o mesmo nome: o infante D. João, filho de Inês de Castro. Mas como se supõe que as profecias se cumpram, o futuro encarregou-se de confirmar que esta só poderia mesmo dizer respeito ao mestre de Avis, nascido de uma ligação com Teresa Lourenço, aia de Inês de Castro.
Quando D. Pedro morre, em 1367, sobe ao trono o seu filho D. Fernando. A adolescência e a primeira juventude vive-as ainda Nun'Álvares sob o reinado deste último monarca da dinastia de Borgonha, que impôs ao país uma política externa um tanto volátil. Ainda mal tinha aquecido o lugar, já estava envolvido numa guerra com o país vizinho, a cujo trono tentou candidatar-se após a morte, em 1369, de Pedro I de Castela. Mas Henrique Trastâmara, meio-irmão do falecido monarca, já cingira a coroa. O soberano português ainda invadiu a Galiza, e foi aí que conheceu o fidalgo João Fernandes Andeiro, que trouxe consigo para Portugal e que iria desempenhar um papel decisivo na política portuguesa dos anos seguintes.
Assinada a paz, em 1371, Fernando compromete-se a casar com a filha de Henrique de Castela. Mas logo no ano seguinte desposa Leonor Teles, sobrinha do conde de Barcelos e Ourém. Sucede que a senhora estava já casada com um fidalgo da sua corte, João Lourenço da Cunha, senhor de Pombeiro, de quem tivera mesmo um filho. E embora D. Fernando tenha conseguido a anulação deste matrimónio, os portugueses, que pouco se importavam que reis e bispos gerassem filhos com quem muito bem entendessem, levaram-lhe a mal esta nítida infracção ao mandamento que proíbe cobiçar a mulher do próximo. Um dos que não lhe perdoaram foi o seu meio-irmão D. Dinis, filho de Inês de Castro, que se exilou em Espanha e cujos bens foram confiscados. O outro filho de Pedro e Inês, D. João, seguiu-lhe o exemplo em 1380, após ter assassinado a sua mulher, Maria Teles de Meneses, irmã da rainha - um crime então atribuído a intrigas de Leonor Teles.
Um país sem rei nem roque
As viragens diplomáticas que marcaram o reinado de D. Fernando ficam bem ilustradas pelos sucessivos noivos aos quais prometeu a sua filha Beatriz, jurada sucessora do reino em 1376. Em Maio de 1380 é prometida em casamento ao primogénito de D. João I de Castela, que acabara de suceder a Henrique Trastâmara. Dois meses depois revoga o tratado e promete-a a um príncipe de Inglaterra, futuro duque de York. Mas em 1382 volta a ignorar os compromissos anteriores e destina Beatriz ao filho de João I de Castela, Fernando, futuro rei de Aragão. Finalmente, pouco antes de morrer, em 1383, tendo o rei de Castela enviuvado, propôs-lhe que casasse ele próprio com Beatriz. O acordo foi selado no tratado de Salvaterra de Magos e está na origem da crise de 1383-1385.
Os termos do compromisso implicavam a perpétua separação dos reinos de Portugal, mas estipulavam que D. Beatriz e o marido castelhano seriam reis de Portugal se D. Fernando morresse sem filhos varões, o que sucederia ainda no mesmo ano. E a sucessão da coroa portuguesa passaria, em qualquer caso, para os filhos de ambos. A Leonor Teles era concedida a regência até que um filho varão de D. Beatriz fizesse 14 anos. Ou seja, na prática tratava-se de acordar a anexação do país a Castela, o que descontentou o povo, a burguesia e parte da nobreza, sobretudo os filhos segundos, que tinham menos a perder. Mas uma parte significativa da aristocracia adoptou a opção a que depois se chamou legitimista e pôs-se ao serviço do casal real de Castela.
Estalaram revoltas um pouco por todo o país, embora possa ser exagerado ver na crise de 1383-1385, como alguns historiadores pretenderam, uma genuína revolução burguesa e popular, ainda que as peculiares circunstâncias portuguesas desses anos tenham provavelmente agudizado o impacto no país de um amplo movimento que estava já então a transformar radicalmente a Europa, envolvida na Guerra dos Cem Anos. Mesmo aceitando que os campos em disputa pudessem ser parcialmente descritos em função do estatuto social maioritário em cada um deles, a linha divisória mais nítida ainda seria a que separava a aristocracia que reconhecia as pretensões de Castela dos que, por convicção ou expectativa de proveito pessoal - como foi o caso de muitos dos fidalgos que apoiaram o mestre de Avis -, rejeitavam a tutela estrangeira.
É neste contexto que Nun'Álvares Pereira vai tomar a decisão mais importante da sua vida. Contrariando a opinião dos irmãos e meios-irmãos, e também da mãe, que mais tarde havia de trazer para a sua causa, assume como missão combater pela independência de Portugal.
A criação da lenda
Por esta altura, já Nuno era um homem da corte. Fora armado cavaleiro pela própria Leonor Teles, como recompensa pela desenvoltura de que dera provas no desempenho de uma missão de reconhecimento das tropas inimigas, durante uma das guerras com Castela. Tinha 13 anos e não era muito alto para a idade, de modo que não se arranjou arnês que lhe servisse. Até que a rainha se lembrou de mandar buscar o arnês que pertencera a D. João, mestre de Avis. Mais um precoce sinal a anunciar que as trajectórias destes dois homens estavam destinadas a convergir.
Nuno permaneceu três ou quatro anos na corte, com a mãe e sob a tutela de um tio, Martim Gonçalves do Carvalhal. Sabe-se pouco deste período da sua vida, mas nele se terá fortalecido a sua amizade com o mestre de Avis, e não é de excluir que também então tenha começado a nascer a antipatia que irá votar a Leonor Teles, que já então demonstraria abertamente a sua predilecção por Fernandes Andeiro.
Em 1377, o prior do Crato arranja o casamento de Nun'Álvares com uma fidalga viúva e abastada, D. Leonor Alvim. Inspirado pelo exemplo de castidade de Galahad, o noivo ter-se-á mostrado relutante, mas acabou por aceder. Em 1380, nasce a sua filha Beatriz, que se casará com o filho natural de D. João I, Afonso, dando origem à Casa de Bragança, que irá reinar após a Restauração de 1640.
Durante algum tempo, Nun'Álvares vive pacatamente nas terras nortenhas da sua mulher. Mas uma nova guerra com Castela leva D. Fernando a reclamar os seus serviços, enviando-o para o Alentejo. É nesta última guerra do reinado fernandino que se dá um episódio que cimentará a sua fama de bravura. Num momento em que os espanhóis faziam incursões pelos arredores de Lisboa, a partir de navios fundeados no Tejo, Nuno, dizem as crónicas, arremete sozinho contra 200 inimigos, e só o tardio auxílio dos seus companheiros, que se tinham recusado a combater por serem em muito menor número, acaba por salvá-lo da morte certa.
A Crónica de D. Fernando, de Fernão Lopes, refere um outro acontecimento que mostra que o futuro condestável não era ainda, na juventude, um exemplo perfeito de resignação cristã. Ao celebrarem-se as bodas da infanta Beatriz com o rei de Castela, em Elvas, Nuno e seu irmão Fernão tinham lugares marcados numa das mesas reservadas à fidalguia. Educadamente, não se apressaram a sentar-se e, quando deram por ela, as suas cadeiras estavam ocupadas. Já irritado com a celebração de um casamento no qual via uma ameaçava à soberania nacional, Nuno avançou e, conta Fernão Lopes, "com os joelhos derrubou o pé da mesa e deu com ela em terra". Depois saiu calmamente. O rei de Castela, impressionado com a audácia, terá comentado a D. Fernando: "quem tal coisa cometeu (...), para muito mais será seu coração."
Um alfageme profeta
Quando D. Fernando morre, em Outubro de 1383, os acontecimentos precipitam-se. A regente, Leonor Teles, ainda tenta aproximar-se da burguesia, mas quando pede que o rei de Castela e a sua filha sejam aclamados reis de Portugal, o povo revolta-se em várias cidades, incluindo Lisboa, e dá vivas a D. João. Não o de Avis, mas o filho de Inês de Castro, que o rei de Castela mandara prender, receando que pudesse encabeçar a revolta.
Por esta altura, Nun'Álvares já tomou partido. A sua aposta é o mestre de Avis. Vai a Santarém tentar, sem êxito, persuadir o seu irmão Pedro, prior do Crato, a aderir à causa. E é nesta ocasião que se dá, segundo a crónica, o seu célebre encontro com o alfageme de Santarém, episódio que Garrett popularizará num drama histórico. Nuno terá visto pendurada na loja uma espada que lhe agradou e pediu ao artesão que lhe corrigisse a sua de modo a ficar como aquela. Respondeu-lhe o alfageme que a faria ainda melhor; e, no dia seguinte, quando o fidalgo vai buscar a arma, constata que o artífice não exagerou. Satisfeito, quer pagar-lhe, mas o alfageme recusa o dinheiro e profetiza que o seu cliente em breve voltará à cidade como conde de Ourém, e que nessa ocasião fariam contas. Ora, o conde de Ourém era então Fernandes Andeiro, a quem Leonor Teles acabara de conceder o título. Mas o alfageme, inventado ou não pelo cronista, tinha razão.
Com Álvaro Pais, um antigo chanceler de D. Pedro, e com seu tio Rui Pereira, Nun'Álvares conspira para levar o mestre de Avis a assassinar o amante da rainha. D. João hesita. Detesta Leonor Teles e o fidalgo galego, que pouco antes da morte de D. Fernando, recorrendo a intrigas, tinham mesmo conseguido persuadir o rei a prendê-lo. Mas receia que as coisas corram mal e não está confiante de que terá o apoio popular, como lhe garantem os conspiradores, já que sabe que as preferências do povo vão para o outro João, filho de Inês de Castro, detido em Castela. No entanto, após várias hesitações e adiamentos, ganha ânimo para tentar o golpe. Com a rainha no aposento ao lado, desfere uma pancada na cabeça do conde de Ourém, mas não o mata, e tem de ser Rui Pereira a acabar a tarefa com uma estocada. É, pelo menos, o que conta Fernão Lopes, expondo a tibiez do mestre de Avis com uma crueza quase desconcertante num propagandista pago.
Após o afastamento de Andeiro, D. João ainda tenta casar com Leonor Teles, mas a regente, que entretanto se retirara para Alenquer, rejeita a proposta. Com a revolta já em marcha, o mestre de Avis ainda duvida do êxito e chega a colocar a hipótese de abandonar o país. Mas, em Dezembro de 1383, apenas dois meses após a morte de D. Fernando, D. João é aclamado em Lisboa como defensor do reino. Poucos dias depois, o Porto adere à sua causa. O futuro rei constitui governo, no qual entra de imediato Nun'Álvares, cria a Casa dos 24, onde têm assento os representantes dos diferentes ofícios, toma o castelo de Lisboa e manda emissários a conseguir o apoio de Inglaterra, com quem mais tarde assinará um tratado de aliança que ainda hoje perdura.
A batalha decisiva
No início de 1384, Portugal é um país em guerra. Os castelhanos invadem o país em vários pontos e chegam às portas de Lisboa. Leonor Teles, que deixara Alenquer para se refugiar em Santarém, é presa e levada para Tordesilhas, onde virá a morrer. Nun'Álvares passa um mês e meio a liderar sucessivos recontros e surtidas e, em meados de Fevereiro, é nomeado fronteiro do Alentejo, com plenos poderes, inclusive o de distribuir pelos seus companheiros as terras que tomasse. O mestre de Avis oferece-lhe então a quinta de Camarate, que pertencera a um judeu simpatizante de Castela, e na qual Nun'Álvares irá viver algum tempo com a mãe, antes de ingressar na Ordem do Carmo. E nomeia-o conde de Ourém, doando-lhe as vastas possessões que tinham sido de Fernandes Andeiro. São as primeiras de muitas ofertas de títulos, terras e rendas, que farão dele o maior proprietário do país.
Em Abril, D. Nuno vence a sua primeira grande batalha, a dos Atoleiros, desbaratando uma expedição castelhana em Fronteira, no distrito de Portalegre. Foi a estreia da famosa táctica do quadrado, com as lanças na vanguarda a travar a cavalaria inimiga. Mas o ano de 1384 vai ser marcado pelo cerco a Lisboa, quer por terra, quer no rio, com uma esquadra castelhana a bloquear o Tejo. Nun'Álvares corre o país, do Alentejo ao Minho, conseguindo tomar diversas vilas e castelos. Em Abril é nomeado condestável do reino. Em Junho, parte para o Porto, a juntar-se a uma esquadra que seguirá para Lisboa, numa tentativa de romper o bloqueio do Tejo. Mas o comandante, Rui Pereira, antecipa a partida ao saber que o sobrinho se aproxima. O prestígio de Nun'Álvares junto do mestre de Avis provocou inevitáveis invejas, e não foi este o primeiro episódio em que conselheiros próximos de D. João tentaram prejudicar a sua imagem.
Forçado por uma epidemia de peste, que atingiu a própria rainha Beatriz, o exército castelhano levanta o cerco a Lisboa, a 3 de Outubro, e poucas semanas depois termina também o bloqueio naval.
O primeiro semestre do ano seguinte, passa-o Nun'Álvares sobretudo no Minho, onde conquista, sucessivamente, Darque, Viana, Cerveira, Caminha, Monção, Guimarães e Braga. Mas em Março está em Coimbra, para participar nas Cortes, cuja convocatória ele próprio terá sugerido ao mestre de Avis. Ajudado pelo talento do jurista João das Regras, o até então defensor do reino é aclamado rei de Portugal com o nome de D. João I.
Poucos meses depois, em Junho, os portugueses, comandados por alcaides dos castelos da Beira, vencem a batalha de Trancoso. Está a aproximar-se a data decisiva de 14 de Agosto, quando se trava, perto da vila de Aljubarrota, a mais célebre batalha da história portuguesa. Fernão Lopes diz que os castelhanos eram cinco vezes mais numerosos do que os portugueses. A historiografia actual calcula sete ou oito mil portugueses e talvez 30 mil espanhóis, mas ressalvando que boa parte destes não chegou a lutar, uma vez que a batalha terminou, com a debandada dos vencidos, antes que a retaguarda castelhana chegasse sequer perto do campo de batalha.
Animado com o êxito de Aljubarrota, o condestável entra em Castela por Badajoz e vence mais um numeroso exército castelhano em Valverde de Mérida, junto ao Guadiana. A partir daqui, a guerra está ganha, embora as escaramuças prossigam até 1411, quando é assinado um tratado de paz e aliança perpétua com Castela.
Desaguisados com o rei
No final da guerra, Nun'Álvares é, com a excepção do rei, o mais abastado terra-tenente do país e um dos homens mais ricos da Península Ibérica. Contribuíra ainda, através de generosas doações, para o engrandecimento de outros fidalgos que lutaram a seu lado. Ainda em 1385, D. João I concede-lhe o título de conde de Barcelos, e dois anos depois soma-lhe o de conde de Arraiolos. Também a mulher do condestável, que morre em 1388, e a sua mãe, recebem do monarca numerosos domínios. Todas estas doações foram oficialmente confirmadas pelo rei em 1389, o mesmo ano em que D. Nuno, talvez já com a ideia de vir a professar, inaugura a construção, em Lisboa, do Convento do Carmo.
Necessárias em tempo de guerra, as muitas doações de terras e rendas criaram uma nova classe de poderosos proprietários, que colidia com os intuitos centralizadores de D. João I, que, em 1394, conseguiu recuperar vários dos senhorios que Nun'Álvares distribuíra pelos seus companheiros. Foi o momento de mais agudo conflito entre o monarca e o seu condestável, que aceitou representar os fidalgos descontentes e chegou mesmo a ameaçar exilar-se. Mas não só se reconciliaram como D. Nuno veio ainda, depois disso, a receber novas terras, como Paiva ou Lousada.
A união entre os dois homens estreita-se ainda mais em 1401, quando a filha do condestável, Beatriz Pereira, se casa com o filho natural do rei, Afonso, futuro duque de Bragança. As terras, títulos e rendimentos que o casal recebe de D. João I e do condestável - cujo dote foi muito superior ao do rei - tornam aquela que virá a ser a Casa de Bragança a mais importante do país. E a partir de 1640, e até à queda da monarquia, será mesmo a casa reinante.
Após as tréguas com Castela e antes de se recolher no Carmo, o condestável terá ainda o desgosto de ver morrer a sua filha, em 1414, o que poderá ter apressado o seu desejo de professar. Mas no ano seguinte ainda participa na tomada de Ceuta, e só em 1422 dá finalmente entrada no convento, após ter distribuído as suas vastas posses pela família. Faz também doações importantes aos carmelitas, a ponto de irritar o seu ambicioso genro, que ainda tentará, em vão, que o sogro as recupere.
Apesar da sua vocação monástica e da radicalidade do seu despojamento de bens materiais - conta-se que o infante D. Duarte, que o visitava amiúde no convento, teve dificuldade em o convencer a não mendigar às portas de Lisboa -, Nun'Álvares tinha sido guerreiro toda a sua vida. E quando, em 1425, se projecta nova expedição a Ceuta - que acabará por não se efectuar -, volta a trocar o hábito de estamenha pelo arnês e, entusiasmado, chega a embarcar.
600 anos à espera
Quando morre, em 1431, tem já fama de santo. Os infantes D. Duarte e D. Pedro tentam, poucos anos passados sobre a sua morte, que Roma inicie um processo de canonização. E a causa voltou a ser assumida no século XVII, no reinado de Afonso VI, tendo sido discutida nas Cortes de 1674. Ali se leu um documento de um provincial carmelita, que atestava que, entre os inúmeros milagres atribuídos a Nun'Álvares Pereira, se contavam nada menos do que 11 ressurreições. O redactor, no entanto, frisava que trazer 11 mortos de regresso à vida era coisa de pouca monta quando comparada com as virtudes da humildade e da pobreza, que, essas sim, recomendariam a canonização do condestável. É verdade que, desde novo, era conhecida a sua reputação de ajudar os necessitados, mas, se descontarmos os seus últimos anos de vida, de humilde teve pouco, e de pobre ainda menos. Mas também há que reconhecer que não era (nem é) vulgar que um homem com o seu poder e riqueza - era na prática, e mais ainda em prestígio, a segunda figura do reino - decida renunciar literalmente a tudo para viver numa cela, dedicando os dias a tarefas tão apetecíveis como a de limpar as latrinas do convento.
Com o nome de Nuno de Santa Maria, o condestável de D. João I foi beatificado em 1918 pelo Papa Bento XV. E nos anos 40 do século passado fez-se nova tentativa, que Espanha, bastante compreensivelmente, terá entravado. Em 1948, o cardeal de Lisboa solicitou mesmo à Cruzada Eucarística das Crianças uma campanha de orações com vista a obter milagres que pudessem ser atribuídos ao condestável. E, ao longo dos anos 40, várias pessoas testemunharam curas milagrosas operadas por alegada intercessão do beato. No entanto, o processo só foi reaberto em 2004, e desta vez com êxito. Bento XVI, que se tem revelado mais magnânimo do que o seu antecessor em matéria de canonizações, já anunciou que o condestável será canonizado a 26 de Abril deste ano, juntamente com quatro beatos italianos.
O impulso final que permitiu concluir com êxito o processo fica a dever-se a Guilhermina de Jesus, cozinheira aposentada de Ourém, que, em Setembro de 2000, sofreu uma queimadura grave no olho esquerdo quando fritava peixe e lhe saltou para a vista um borrifo de óleo a ferver. Os médicos foram de opinião que a mazela requeria dois anos de tratamento e que a cura seria apenas parcial. Guilhermina, que apareceu repentinamente curada três meses após o acidente, afirmou que tinha uma imagem do beato Nuno na mesa-de-cabeceira e que lhe pedira que intercedesse a seu favor. ...
PÚBLICO, 05.04.2009
Luís Miguel Queirós
No próximo dia 26 de Abril, Nun'Álvares Pereira irá juntar-se a Santo António de Lisboa e à Rainha Santa Isabel na restrita lista de santos portugueses. Se descontarmos alguns santos que viveram no território antes da fundação da nacionalidade, o condestável é apenas o sétimo português a ser canonizado. Quase 600 anos após a sua morte, o homem que pôs D. João I no trono, e que quis ser um Galahad do século XIV, vai agora sentar-se nos lugares de honra do panteão católico. ....
Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Arthur te deu.
'Sperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!
Fernando Pessoa
O poema que a Mensagem de Pessoa dedica a Nun'Álvares Pereira resume exemplarmente a imagem que dele nos deixaram os cronistas da época, quer na Crónica do Condestável, de autor incerto, quer na Crónica de D. João I, de Fernão Lopes.
Num país sem rei, como a Bretanha dos tempos de Artur, um hesitante bastardo real ascende ao trono ajudado por um punhado de fiéis cavaleiros. Só que, na versão portuguesa, quem empunha Excalibur não é o rei, mas antes Galahad, bastardo de Lancelot, o cavaleiro sem mácula a quem é dado ver o Graal. Se trocarmos o Graal por Portugal, temos Nun'Álvares Pereira tal como no-lo pintam as crónicas. S. Portugal, chamou-lhe Pessoa. Daqui a um mês, a Igreja chamar-lhe-á, oficialmente, São Nuno de Santa Maria, o nome que adoptou quando se recolheu no Convento do Carmo.
O mérito do condestável não foi apenas o de vencer umas quantas batalhas contra os castelhanos, mas o de ter mostrado, num momento em que poucos acreditariam que tal fosse possível, incluindo o futuro D. João I, que a autonomia de Portugal não era uma causa perdida e que o improvável homem certo para fundar a nova dinastia era um bastardo, entre outros, do rei D. Pedro I, que o pai encaminhara para a carreira religiosa e fora colocado aos sete anos no mestrado da Ordem de Avis. Nada destinava ao trono aquele que veio a ser o pai da ínclita geração. Não tinha a lei do seu lado e, no início, nem ele próprio acreditava que tivesse o apoio do povo. Foi quando Nuno ergueu a espada, como diz o poeta, que a estrada se começou a ver.
A historiografia contemporânea trouxe muitos dados que permitem perceber melhor o trajecto do condestável e o modo como evoluiu a sua relação, não isenta de atritos, com D. João I. No entanto, não existe ainda um verdadeiro retrato alternativo de Nun'Álvares Pereira. Quando Oliveira Martins, no final do século passado, publica A Vida de Nun'Álvares, pouco consegue distanciar-se de Fernão Lopes, ainda que a obra também testemunhe as idiossincrasias da época em que foi escrita. Ao narrar, por exemplo, o momento em que o velho guerreiro decide fechar-se numa cela, o historiador vê nesta atitude um desejo de auto-aniquilação, que o condestável só não teria consumado de forma mais expedita por receio de incorrer em pecado mortal. O livro de Oliveira Martins saiu em 1893, logo após Camilo e Antero terem posto fim à vida. Era natural que visse potenciais suicidas onde provavelmente não os havia.
Já Fernão Lopes, contemporâneo das figuras cujos feitos narra, explorou abertamente a identificação de Nun'Álvares com Galahad (ou Galaaz). E fê-lo numa das mais sedutoras prosas alguma vez escritas em língua portuguesa. Quando fechamos os seus livros, pode-nos ocorrer que estivemos a ler alguém cujo papel era o de creditar uma nova dinastia, que nascera, de facto, carecida de legitimação. Mas quando o lemos, não. Quando o lemos, acreditamos em tudo o que nos conta como se estivéssemos a vê-lo com os nossos próprios olhos.
Ainda assim, não é preciso ser crédulo para admitir que D. João, nesses anos em que andava a unificar o reino, tenha pensado muitas vezes no mítico monarca da Bretanha. E pode dar-se como razoavelmente certo que Nun'Álvares Pereira tomou como modelo inspirador a figura do guerreiro asceta Galahad, que fora já o ícone dessa idealizada e católica cavalaria das cruzadas que S. Bernardo teorizou e enalteceu. Nas versões de Chrétien de Troyes e Robert de Boron, a lenda arturiana popularizara-se na Europa já desde o século XII, e os cronistas confirmam que o futuro condestável ouviu e leu na infância as histórias da Távola Redonda. Entre os que virão a ser os seus companheiros de armas, aparecem homens com o significativo nome próprio de Lançarote, aportuguesamento de Lancelot.
Filho e neto de clérigos
Quando Nun'Álvares nasceu, em 1360, a última cruzada terminara há quase um século. Mas Portugal serviu-lhe de Jerusalém. Descontada a participação, em idade já um tanto avançada, na tomada de Ceuta, onde ainda poderá ter dizimado alguns "infiéis", teve de se contentar com matar - directamente ou enquanto líder militar - um considerável número de catolicíssimos castelhanos. É certo que Castela, tal como Portugal no final do reinado de D. Fernando, se inclinara para o antipapa de Avinhão, Clemente VII, em detrimento de Urbano VI. Mas não foi por isso que Nuno combateu os castelhanos e os seus partidários em Portugal. Mais provável é que a guerra com Castela tenha constituído um forte motivo para o apoio de D. João I ao Papa de Roma.
Se o génio militar de Nun'Álvares é indiscutível, também não parece lícito duvidar da sua genuína e mística devoção religiosa. Desde muito novo, se não era ainda oficialmente beato, como veio a ser em 1918, por decisão do Papa Bento XV, era-o já no sentido mais corriqueiro, e um tanto pejorativo, que hoje damos à palavra. Na paz ou na guerra, andava sempre com um padre atrás e fazia questão de ouvir duas missas por dia.
Poderia admitir-se que a fé lhe corresse no sangue, uma vez que era filho bastardo do prior da Ordem do Hospital, Álvaro Gonçalves Pereira, e neto do arcebispo de Braga, Gonçalo Pereira. No entanto, se alguma coisa herdou do pai e do avô, parece mais provável que tenha sido o temperamento belicoso, e não a humildade cristã, que nenhum destes seus antepassados alguma vez demonstrou possuir em grau apreciável. Gonçalo Pereira lutou com Afonso IV na batalha do Salado. O prior da Ordem do Hospital - ou do Crato, que era então o centro dos estabelecimentos hospitalários em Portugal -, figura muito apreciada na sociedade portuguesa da época, tinha reputação de ser um homem valente e um político sensato, mas a ninguém ocorreria citá-lo como exemplo de castidade. Oliveira Martins atribui-lhe nada menos do que 32 filhos e filhas, a maior parte dos quais são já citados como tal na Crónica do Condestável. Nuno terá sido o 13.º. O mais velho, Pedro, sucedeu ao pai como prior do Crato e, tendo sustentado a causa de Castela, veio a ser mestre de Calatrava. Tal como outro meio-irmão de Nun'Álvares, Diogo, morreu em Aljubarrota, lutando ao lado dos espanhóis.
Dois bastardos
O homem agora reconhecido como santo nasceu no dia 24 de Junho de 1360. O Crato, no Alentejo, ou Cernache do Bonjardim, na Beira Baixa, são os locais mais prováveis. Certo é que veio ao mundo no dia de S. João Baptista, o que foi considerado bom auspício por um astrólogo consultado pelo prior do Crato, que augurou grandes feitos à criança e vaticinou que seria invencível. A mãe, Iria Gonçalves do Carvalhal, filha do alcaide de Almada, era uma aia da corte que teve vários outros filhos do prolífico prior. Depois do nascimento, em 1373, de D. Beatriz, filha do rei D. Fernando e de Leonor Teles, Iria ficou ao serviço da infanta.
Três anos mais velho do que Nun'Álvares, o futuro D. João I nascera em 1357 e também ele teve direito a profecias. O pai, o rei D. Pedro I, afirmou ter-lhe sido dito que um seu filho de nome João haveria de "montar muito alto" e trazer "grande honra a Portugal". O problema é que tinha outro rebento com o mesmo nome: o infante D. João, filho de Inês de Castro. Mas como se supõe que as profecias se cumpram, o futuro encarregou-se de confirmar que esta só poderia mesmo dizer respeito ao mestre de Avis, nascido de uma ligação com Teresa Lourenço, aia de Inês de Castro.
Quando D. Pedro morre, em 1367, sobe ao trono o seu filho D. Fernando. A adolescência e a primeira juventude vive-as ainda Nun'Álvares sob o reinado deste último monarca da dinastia de Borgonha, que impôs ao país uma política externa um tanto volátil. Ainda mal tinha aquecido o lugar, já estava envolvido numa guerra com o país vizinho, a cujo trono tentou candidatar-se após a morte, em 1369, de Pedro I de Castela. Mas Henrique Trastâmara, meio-irmão do falecido monarca, já cingira a coroa. O soberano português ainda invadiu a Galiza, e foi aí que conheceu o fidalgo João Fernandes Andeiro, que trouxe consigo para Portugal e que iria desempenhar um papel decisivo na política portuguesa dos anos seguintes.
Assinada a paz, em 1371, Fernando compromete-se a casar com a filha de Henrique de Castela. Mas logo no ano seguinte desposa Leonor Teles, sobrinha do conde de Barcelos e Ourém. Sucede que a senhora estava já casada com um fidalgo da sua corte, João Lourenço da Cunha, senhor de Pombeiro, de quem tivera mesmo um filho. E embora D. Fernando tenha conseguido a anulação deste matrimónio, os portugueses, que pouco se importavam que reis e bispos gerassem filhos com quem muito bem entendessem, levaram-lhe a mal esta nítida infracção ao mandamento que proíbe cobiçar a mulher do próximo. Um dos que não lhe perdoaram foi o seu meio-irmão D. Dinis, filho de Inês de Castro, que se exilou em Espanha e cujos bens foram confiscados. O outro filho de Pedro e Inês, D. João, seguiu-lhe o exemplo em 1380, após ter assassinado a sua mulher, Maria Teles de Meneses, irmã da rainha - um crime então atribuído a intrigas de Leonor Teles.
Um país sem rei nem roque
As viragens diplomáticas que marcaram o reinado de D. Fernando ficam bem ilustradas pelos sucessivos noivos aos quais prometeu a sua filha Beatriz, jurada sucessora do reino em 1376. Em Maio de 1380 é prometida em casamento ao primogénito de D. João I de Castela, que acabara de suceder a Henrique Trastâmara. Dois meses depois revoga o tratado e promete-a a um príncipe de Inglaterra, futuro duque de York. Mas em 1382 volta a ignorar os compromissos anteriores e destina Beatriz ao filho de João I de Castela, Fernando, futuro rei de Aragão. Finalmente, pouco antes de morrer, em 1383, tendo o rei de Castela enviuvado, propôs-lhe que casasse ele próprio com Beatriz. O acordo foi selado no tratado de Salvaterra de Magos e está na origem da crise de 1383-1385.
Os termos do compromisso implicavam a perpétua separação dos reinos de Portugal, mas estipulavam que D. Beatriz e o marido castelhano seriam reis de Portugal se D. Fernando morresse sem filhos varões, o que sucederia ainda no mesmo ano. E a sucessão da coroa portuguesa passaria, em qualquer caso, para os filhos de ambos. A Leonor Teles era concedida a regência até que um filho varão de D. Beatriz fizesse 14 anos. Ou seja, na prática tratava-se de acordar a anexação do país a Castela, o que descontentou o povo, a burguesia e parte da nobreza, sobretudo os filhos segundos, que tinham menos a perder. Mas uma parte significativa da aristocracia adoptou a opção a que depois se chamou legitimista e pôs-se ao serviço do casal real de Castela.
Estalaram revoltas um pouco por todo o país, embora possa ser exagerado ver na crise de 1383-1385, como alguns historiadores pretenderam, uma genuína revolução burguesa e popular, ainda que as peculiares circunstâncias portuguesas desses anos tenham provavelmente agudizado o impacto no país de um amplo movimento que estava já então a transformar radicalmente a Europa, envolvida na Guerra dos Cem Anos. Mesmo aceitando que os campos em disputa pudessem ser parcialmente descritos em função do estatuto social maioritário em cada um deles, a linha divisória mais nítida ainda seria a que separava a aristocracia que reconhecia as pretensões de Castela dos que, por convicção ou expectativa de proveito pessoal - como foi o caso de muitos dos fidalgos que apoiaram o mestre de Avis -, rejeitavam a tutela estrangeira.
É neste contexto que Nun'Álvares Pereira vai tomar a decisão mais importante da sua vida. Contrariando a opinião dos irmãos e meios-irmãos, e também da mãe, que mais tarde havia de trazer para a sua causa, assume como missão combater pela independência de Portugal.
A criação da lenda
Por esta altura, já Nuno era um homem da corte. Fora armado cavaleiro pela própria Leonor Teles, como recompensa pela desenvoltura de que dera provas no desempenho de uma missão de reconhecimento das tropas inimigas, durante uma das guerras com Castela. Tinha 13 anos e não era muito alto para a idade, de modo que não se arranjou arnês que lhe servisse. Até que a rainha se lembrou de mandar buscar o arnês que pertencera a D. João, mestre de Avis. Mais um precoce sinal a anunciar que as trajectórias destes dois homens estavam destinadas a convergir.
Nuno permaneceu três ou quatro anos na corte, com a mãe e sob a tutela de um tio, Martim Gonçalves do Carvalhal. Sabe-se pouco deste período da sua vida, mas nele se terá fortalecido a sua amizade com o mestre de Avis, e não é de excluir que também então tenha começado a nascer a antipatia que irá votar a Leonor Teles, que já então demonstraria abertamente a sua predilecção por Fernandes Andeiro.
Em 1377, o prior do Crato arranja o casamento de Nun'Álvares com uma fidalga viúva e abastada, D. Leonor Alvim. Inspirado pelo exemplo de castidade de Galahad, o noivo ter-se-á mostrado relutante, mas acabou por aceder. Em 1380, nasce a sua filha Beatriz, que se casará com o filho natural de D. João I, Afonso, dando origem à Casa de Bragança, que irá reinar após a Restauração de 1640.
Durante algum tempo, Nun'Álvares vive pacatamente nas terras nortenhas da sua mulher. Mas uma nova guerra com Castela leva D. Fernando a reclamar os seus serviços, enviando-o para o Alentejo. É nesta última guerra do reinado fernandino que se dá um episódio que cimentará a sua fama de bravura. Num momento em que os espanhóis faziam incursões pelos arredores de Lisboa, a partir de navios fundeados no Tejo, Nuno, dizem as crónicas, arremete sozinho contra 200 inimigos, e só o tardio auxílio dos seus companheiros, que se tinham recusado a combater por serem em muito menor número, acaba por salvá-lo da morte certa.
A Crónica de D. Fernando, de Fernão Lopes, refere um outro acontecimento que mostra que o futuro condestável não era ainda, na juventude, um exemplo perfeito de resignação cristã. Ao celebrarem-se as bodas da infanta Beatriz com o rei de Castela, em Elvas, Nuno e seu irmão Fernão tinham lugares marcados numa das mesas reservadas à fidalguia. Educadamente, não se apressaram a sentar-se e, quando deram por ela, as suas cadeiras estavam ocupadas. Já irritado com a celebração de um casamento no qual via uma ameaçava à soberania nacional, Nuno avançou e, conta Fernão Lopes, "com os joelhos derrubou o pé da mesa e deu com ela em terra". Depois saiu calmamente. O rei de Castela, impressionado com a audácia, terá comentado a D. Fernando: "quem tal coisa cometeu (...), para muito mais será seu coração."
Um alfageme profeta
Quando D. Fernando morre, em Outubro de 1383, os acontecimentos precipitam-se. A regente, Leonor Teles, ainda tenta aproximar-se da burguesia, mas quando pede que o rei de Castela e a sua filha sejam aclamados reis de Portugal, o povo revolta-se em várias cidades, incluindo Lisboa, e dá vivas a D. João. Não o de Avis, mas o filho de Inês de Castro, que o rei de Castela mandara prender, receando que pudesse encabeçar a revolta.
Por esta altura, Nun'Álvares já tomou partido. A sua aposta é o mestre de Avis. Vai a Santarém tentar, sem êxito, persuadir o seu irmão Pedro, prior do Crato, a aderir à causa. E é nesta ocasião que se dá, segundo a crónica, o seu célebre encontro com o alfageme de Santarém, episódio que Garrett popularizará num drama histórico. Nuno terá visto pendurada na loja uma espada que lhe agradou e pediu ao artesão que lhe corrigisse a sua de modo a ficar como aquela. Respondeu-lhe o alfageme que a faria ainda melhor; e, no dia seguinte, quando o fidalgo vai buscar a arma, constata que o artífice não exagerou. Satisfeito, quer pagar-lhe, mas o alfageme recusa o dinheiro e profetiza que o seu cliente em breve voltará à cidade como conde de Ourém, e que nessa ocasião fariam contas. Ora, o conde de Ourém era então Fernandes Andeiro, a quem Leonor Teles acabara de conceder o título. Mas o alfageme, inventado ou não pelo cronista, tinha razão.
Com Álvaro Pais, um antigo chanceler de D. Pedro, e com seu tio Rui Pereira, Nun'Álvares conspira para levar o mestre de Avis a assassinar o amante da rainha. D. João hesita. Detesta Leonor Teles e o fidalgo galego, que pouco antes da morte de D. Fernando, recorrendo a intrigas, tinham mesmo conseguido persuadir o rei a prendê-lo. Mas receia que as coisas corram mal e não está confiante de que terá o apoio popular, como lhe garantem os conspiradores, já que sabe que as preferências do povo vão para o outro João, filho de Inês de Castro, detido em Castela. No entanto, após várias hesitações e adiamentos, ganha ânimo para tentar o golpe. Com a rainha no aposento ao lado, desfere uma pancada na cabeça do conde de Ourém, mas não o mata, e tem de ser Rui Pereira a acabar a tarefa com uma estocada. É, pelo menos, o que conta Fernão Lopes, expondo a tibiez do mestre de Avis com uma crueza quase desconcertante num propagandista pago.
Após o afastamento de Andeiro, D. João ainda tenta casar com Leonor Teles, mas a regente, que entretanto se retirara para Alenquer, rejeita a proposta. Com a revolta já em marcha, o mestre de Avis ainda duvida do êxito e chega a colocar a hipótese de abandonar o país. Mas, em Dezembro de 1383, apenas dois meses após a morte de D. Fernando, D. João é aclamado em Lisboa como defensor do reino. Poucos dias depois, o Porto adere à sua causa. O futuro rei constitui governo, no qual entra de imediato Nun'Álvares, cria a Casa dos 24, onde têm assento os representantes dos diferentes ofícios, toma o castelo de Lisboa e manda emissários a conseguir o apoio de Inglaterra, com quem mais tarde assinará um tratado de aliança que ainda hoje perdura.
A batalha decisiva
No início de 1384, Portugal é um país em guerra. Os castelhanos invadem o país em vários pontos e chegam às portas de Lisboa. Leonor Teles, que deixara Alenquer para se refugiar em Santarém, é presa e levada para Tordesilhas, onde virá a morrer. Nun'Álvares passa um mês e meio a liderar sucessivos recontros e surtidas e, em meados de Fevereiro, é nomeado fronteiro do Alentejo, com plenos poderes, inclusive o de distribuir pelos seus companheiros as terras que tomasse. O mestre de Avis oferece-lhe então a quinta de Camarate, que pertencera a um judeu simpatizante de Castela, e na qual Nun'Álvares irá viver algum tempo com a mãe, antes de ingressar na Ordem do Carmo. E nomeia-o conde de Ourém, doando-lhe as vastas possessões que tinham sido de Fernandes Andeiro. São as primeiras de muitas ofertas de títulos, terras e rendas, que farão dele o maior proprietário do país.
Em Abril, D. Nuno vence a sua primeira grande batalha, a dos Atoleiros, desbaratando uma expedição castelhana em Fronteira, no distrito de Portalegre. Foi a estreia da famosa táctica do quadrado, com as lanças na vanguarda a travar a cavalaria inimiga. Mas o ano de 1384 vai ser marcado pelo cerco a Lisboa, quer por terra, quer no rio, com uma esquadra castelhana a bloquear o Tejo. Nun'Álvares corre o país, do Alentejo ao Minho, conseguindo tomar diversas vilas e castelos. Em Abril é nomeado condestável do reino. Em Junho, parte para o Porto, a juntar-se a uma esquadra que seguirá para Lisboa, numa tentativa de romper o bloqueio do Tejo. Mas o comandante, Rui Pereira, antecipa a partida ao saber que o sobrinho se aproxima. O prestígio de Nun'Álvares junto do mestre de Avis provocou inevitáveis invejas, e não foi este o primeiro episódio em que conselheiros próximos de D. João tentaram prejudicar a sua imagem.
Forçado por uma epidemia de peste, que atingiu a própria rainha Beatriz, o exército castelhano levanta o cerco a Lisboa, a 3 de Outubro, e poucas semanas depois termina também o bloqueio naval.
O primeiro semestre do ano seguinte, passa-o Nun'Álvares sobretudo no Minho, onde conquista, sucessivamente, Darque, Viana, Cerveira, Caminha, Monção, Guimarães e Braga. Mas em Março está em Coimbra, para participar nas Cortes, cuja convocatória ele próprio terá sugerido ao mestre de Avis. Ajudado pelo talento do jurista João das Regras, o até então defensor do reino é aclamado rei de Portugal com o nome de D. João I.
Poucos meses depois, em Junho, os portugueses, comandados por alcaides dos castelos da Beira, vencem a batalha de Trancoso. Está a aproximar-se a data decisiva de 14 de Agosto, quando se trava, perto da vila de Aljubarrota, a mais célebre batalha da história portuguesa. Fernão Lopes diz que os castelhanos eram cinco vezes mais numerosos do que os portugueses. A historiografia actual calcula sete ou oito mil portugueses e talvez 30 mil espanhóis, mas ressalvando que boa parte destes não chegou a lutar, uma vez que a batalha terminou, com a debandada dos vencidos, antes que a retaguarda castelhana chegasse sequer perto do campo de batalha.
Animado com o êxito de Aljubarrota, o condestável entra em Castela por Badajoz e vence mais um numeroso exército castelhano em Valverde de Mérida, junto ao Guadiana. A partir daqui, a guerra está ganha, embora as escaramuças prossigam até 1411, quando é assinado um tratado de paz e aliança perpétua com Castela.
Desaguisados com o rei
No final da guerra, Nun'Álvares é, com a excepção do rei, o mais abastado terra-tenente do país e um dos homens mais ricos da Península Ibérica. Contribuíra ainda, através de generosas doações, para o engrandecimento de outros fidalgos que lutaram a seu lado. Ainda em 1385, D. João I concede-lhe o título de conde de Barcelos, e dois anos depois soma-lhe o de conde de Arraiolos. Também a mulher do condestável, que morre em 1388, e a sua mãe, recebem do monarca numerosos domínios. Todas estas doações foram oficialmente confirmadas pelo rei em 1389, o mesmo ano em que D. Nuno, talvez já com a ideia de vir a professar, inaugura a construção, em Lisboa, do Convento do Carmo.
Necessárias em tempo de guerra, as muitas doações de terras e rendas criaram uma nova classe de poderosos proprietários, que colidia com os intuitos centralizadores de D. João I, que, em 1394, conseguiu recuperar vários dos senhorios que Nun'Álvares distribuíra pelos seus companheiros. Foi o momento de mais agudo conflito entre o monarca e o seu condestável, que aceitou representar os fidalgos descontentes e chegou mesmo a ameaçar exilar-se. Mas não só se reconciliaram como D. Nuno veio ainda, depois disso, a receber novas terras, como Paiva ou Lousada.
A união entre os dois homens estreita-se ainda mais em 1401, quando a filha do condestável, Beatriz Pereira, se casa com o filho natural do rei, Afonso, futuro duque de Bragança. As terras, títulos e rendimentos que o casal recebe de D. João I e do condestável - cujo dote foi muito superior ao do rei - tornam aquela que virá a ser a Casa de Bragança a mais importante do país. E a partir de 1640, e até à queda da monarquia, será mesmo a casa reinante.
Após as tréguas com Castela e antes de se recolher no Carmo, o condestável terá ainda o desgosto de ver morrer a sua filha, em 1414, o que poderá ter apressado o seu desejo de professar. Mas no ano seguinte ainda participa na tomada de Ceuta, e só em 1422 dá finalmente entrada no convento, após ter distribuído as suas vastas posses pela família. Faz também doações importantes aos carmelitas, a ponto de irritar o seu ambicioso genro, que ainda tentará, em vão, que o sogro as recupere.
Apesar da sua vocação monástica e da radicalidade do seu despojamento de bens materiais - conta-se que o infante D. Duarte, que o visitava amiúde no convento, teve dificuldade em o convencer a não mendigar às portas de Lisboa -, Nun'Álvares tinha sido guerreiro toda a sua vida. E quando, em 1425, se projecta nova expedição a Ceuta - que acabará por não se efectuar -, volta a trocar o hábito de estamenha pelo arnês e, entusiasmado, chega a embarcar.
600 anos à espera
Quando morre, em 1431, tem já fama de santo. Os infantes D. Duarte e D. Pedro tentam, poucos anos passados sobre a sua morte, que Roma inicie um processo de canonização. E a causa voltou a ser assumida no século XVII, no reinado de Afonso VI, tendo sido discutida nas Cortes de 1674. Ali se leu um documento de um provincial carmelita, que atestava que, entre os inúmeros milagres atribuídos a Nun'Álvares Pereira, se contavam nada menos do que 11 ressurreições. O redactor, no entanto, frisava que trazer 11 mortos de regresso à vida era coisa de pouca monta quando comparada com as virtudes da humildade e da pobreza, que, essas sim, recomendariam a canonização do condestável. É verdade que, desde novo, era conhecida a sua reputação de ajudar os necessitados, mas, se descontarmos os seus últimos anos de vida, de humilde teve pouco, e de pobre ainda menos. Mas também há que reconhecer que não era (nem é) vulgar que um homem com o seu poder e riqueza - era na prática, e mais ainda em prestígio, a segunda figura do reino - decida renunciar literalmente a tudo para viver numa cela, dedicando os dias a tarefas tão apetecíveis como a de limpar as latrinas do convento.
Com o nome de Nuno de Santa Maria, o condestável de D. João I foi beatificado em 1918 pelo Papa Bento XV. E nos anos 40 do século passado fez-se nova tentativa, que Espanha, bastante compreensivelmente, terá entravado. Em 1948, o cardeal de Lisboa solicitou mesmo à Cruzada Eucarística das Crianças uma campanha de orações com vista a obter milagres que pudessem ser atribuídos ao condestável. E, ao longo dos anos 40, várias pessoas testemunharam curas milagrosas operadas por alegada intercessão do beato. No entanto, o processo só foi reaberto em 2004, e desta vez com êxito. Bento XVI, que se tem revelado mais magnânimo do que o seu antecessor em matéria de canonizações, já anunciou que o condestável será canonizado a 26 de Abril deste ano, juntamente com quatro beatos italianos.
O impulso final que permitiu concluir com êxito o processo fica a dever-se a Guilhermina de Jesus, cozinheira aposentada de Ourém, que, em Setembro de 2000, sofreu uma queimadura grave no olho esquerdo quando fritava peixe e lhe saltou para a vista um borrifo de óleo a ferver. Os médicos foram de opinião que a mazela requeria dois anos de tratamento e que a cura seria apenas parcial. Guilhermina, que apareceu repentinamente curada três meses após o acidente, afirmou que tinha uma imagem do beato Nuno na mesa-de-cabeceira e que lhe pedira que intercedesse a seu favor. ...
Comentários
Acabei de ver o blog O-Povo e deparei com uma noticia que me entristedeu.
É que Santa Beatriz da Silva, a ÚNICA SANTA PORTUGUESA, Canonizada,até à data, é totalmente esquecida para não dizer desconhecida, e mencionam sempre a Rainha Santa Isabel como Santa (mas não é Portuguesa).
D. Nuno Álvares Pereira é parente de Santa Beatriz. A bisneta de D. Nuno Alvares Pereira casou com o Avô de Santa Beatriz.
Peço desculpa, mas é uma pena! Se o novo Santo Português é uma honra para Portugal, Santa Beatriz, que herdou dele a devoção à Imaculada Conceição e foi a Fundadora de uma Ordem em Defesa e Honra do Mistério da Conceição Imaculada de Maria, que ao longo 520 defende este Mistério e permanece viva.
Outro dos equivocos é o nascimento de Santa Beatriz. Esta nasceu em Campo Maior e não em Ceuta como muitos dizem. Para esclarecer este grande erro, ver a Obra de José Félix Duque, "D. Beatriz da Silva -Vida e Obra de uma Mulher Forte".
Novamente peço desculpa, mas é um assunto urgente esclarecer Portugal.
Irmãs Concepcionistas de Campo Maior