Roma Æterna, às portas do Kremlin
José Maria C.S. André 15.01.17 Correio dos Açores, Verdadeiro Olhar, ABC Portuguese Canadian Newspaper, Spe Deus, Clarim, O Alcoa
Nos tempos do império
romano, falava-se da Roma Eterna, mas foi com o cristianismo que Roma conseguiu
verdadeiramente sobreviver à caducidade dos séculos. Sobreviveu e tornou-se
presente, com esta vitalidade nova, de uma ponta à outra do orbe terrestre.
Inclusivamente, alguns
quiseram que, como centro da Igreja, Roma se libertasse da referência
geográfica e começasse a vaguear pelo mundo. A dada altura, Constantinopla
proclamou-se a Segunda Roma e, séculos depois, Moscovo declarou-se a Terceira
Roma. O urbanismo de Moscovo e a arquitectura do Kremlin correspondiam à
miragem dessa Terceira Roma, também ela com aspirações a ser Eterna. Muitas
capitais que acalentaram sonhos de grandeza num mundo globalizado, como Lisboa,
Moscovo, etc., descobriram que tinham sete colinas. Exactamente sete colinas,
como a Primeira Roma nas margens do rio Tibre.
Agora, Moscovo alberga realmente
uma extraordinária «Roma Æterna» – assim se chama, com o título em latim, a
exposição de 42 peças do Museu Vaticano patentes na Galeria Tretyakov. As filas
de visitantes dão a volta aos quarteirões para admirar obras-primas de Raffaello,
Caravaggio, Bellini, Guercino, Perugino, Poussin, Reni, Forli... Além de que o
Vaticano disponibilizou um elenco notável de obras-primas, que não costumam sair,
sobretudo em tão grande número, a exposição celebra a ligação espiritual da
Rússia à Igreja católica. O curador russo, Arkady Ippolitov, associa a arte à
fé: «o conceito dos Museus Vaticanos expressa o que Roma é». A Roma Eterna «não
é apenas uma cidade, não é uma capital, mas o núcleo da história europeia e a
quintessência, o que há de melhor, no espírito europeu».
A sala principal da
exposição reproduz a planta da praça de S. Pedro. A primeira peça é a «Bênção
de Cristo», do século XII. Outras peças importantes são as «Lamentações de
Cristo Morto», de Bellini e de Crivelli: aconselho uma visita aos comentários da
Maria Zarco (http://adeus-ate-ao-meu-regresso.blogspot.pt/2016/12/vai-um-gin-do-peters_27.html).
O último quadro da exposição é «As observações astronómicas», de Creti, pintado
para convencer o Papa Clemente XI a financiar a construção de um observatório
astronómico em Bolonha (a manobra promocional surtiu efeito!).
A iniciativa da exposição «Roma
Æterna» partiu do encontro do Papa Francisco com Vladimir Putin, em 2013, e
completar-se-á quando, no final de 2017, uma colecção de obras da Galeria
Tretyakov visitar o Vaticano, «como testemunho de amizade entre a Igreja
Ortodoxa e a Igreja Católica».
Dentro de Itália, além dos
bombeiros vaticanos que acorreram a socorrer as vítimas dos recentes
terramotos, a Directora do Museu Vaticano, Barbara Jatta, anunciou que uma
vintena dos 65 restauradores do Museu se voluntariou para se deslocar às
cidades afectadas, para ajudar a recuperar o património artístico no local. Ao
mesmo tempo, o Governo italiano enviou para as oficinas de restauro do Vaticano
as peças de maior valor.
Colaborando em todas as
direcções, o Museu Vaticano quer fazer destas palavras do Papa Francisco, uma
espécie de lema: «a beleza une-nos».
Um dos projectos
internacionais anunciados pelo Museu Vaticano é trazer uma exposição a Lisboa
por ocasião da visita do Papa Francisco a Fátima, em Maio. Já marquei na
agenda.
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