O Céu no andar de cima


A minha recordação do aniversário do meu pai trouxe como resposta de um amigo - a quem muito agradeço - esta belíssima meditação do Père Antonin Sertillanges que traduzi (em primeira aproximação do francês).
Impressiona-me a certeza de fé que também vi no meu neto Gonçalo Maria. De facto, há dois dias, conversando sobre o futuro académico da mana mais nova que daqui a 20 anos iria para Agronomia, o Gonçalo Maria disse, "Oh avô, mas nessa altura, o avô já está lá em cima!". É esta mesma familiaridade com o céu do Gonçalo de sete anos - que faz do Céu o andar de cima - que encontram aqui:
Pela morte, a família não se destrói, ela transforma-se, uma parte dela passa a invisível. Cremos que a morte é uma ausência, quando ela é uma presença discreta. Cremos que ela cria uma distância infinita, quando ela suprime todas as distâncias, trazendo ao espírito o que se localizava na carne.
Que laços ela renova, que barreiras ela quebra que muros derruba, que nevoeiro dissipa, se nós verdadeiramente o quisermos.
Viver, é muitas vezes, abandonar; morrer é juntar. Não é um paradoxo afirmá-lo. Para os que foram até ao fundo do amor: a morte é uma consagração, não um castigo….
No fundo, ninguém morre, porque não sai de Deus.
Aquele que parece ter-se parado bruscamente na estrada, escrivão da sua vida, apenas virou uma página.
Quando mais seres abandonaram o lar, tanto mais os sobreviventes têm laços celestes.
O Céu não é mais apenas povoado de anjos, de santos conhecidos e desconhecidos e do Deus misterioso. Torna-se familiar, é a casa de família, o andar superior da casa, se assim o posso dizer, de alto a baixo, a recordação, os apoios, os apelos têm resposta. Assim seja.
Père Antonin Sertillanges (1863-1948)
dominicano francês
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