PAN que o diabo amassou
José Diogo Quintela | Correio da manhã | 24.10.2015
O PAN vive em estado de graça.
Há duas estreias na nova legislatura: a de um deputado eleito pelo PAN e a da extrema-esquerda num governo constitucional. A AR tem agora um deputado que quer dar mais direitos aos animais, e um grupo de deputados que passam a ter poder para tirar direitos a animais como o porco capitalista, o leitão burguês e, basicamente, qualquer suíno que não viva do Estado. Um quer repensar o conceito de pessoa, para passar a incluir animais. Os outros já repensaram o conceito de animal, para incluir algumas pessoas. O PAN deseja que os animais integrem o agregado familiar e contem para o IRS. Aprovo. Neste momento há um trabalho escolar a decorrer cá em casa, que envolve 12 bichos-da-seda. O meu contabilista rejubila. (Por outro lado, como produzem fio de seda, o novo governo vai cobrar IRC). Mas o PAN não quer só dar direitos aos animais, para que se aproximem de nós. Também deseja tirar-nos direitos para descermos ao nível dos animais. Nomeadamente, os direitos àquilo que faz com que não tenhamos de viver como bestas: a ciência aplicada ao bem-estar. Civilização? É descartável. Por exemplo, quer colocar a medicina não-convencional no SNS, ou seja, subsidiar a quiroprática, o candomblé e a homeopatia (embora aqui haja uma incoerência a resolver: o PAN é pela alimentação saudável, mas exige que o SNS ofereça comprimidos de açúcar às pessoas). Também quer proibir alimentos transgénicos, que é comida barata e acessível. Propõe-se ainda taxar forte as importações e acabar com os combustíveis fósseis. Ou seja: baixar os padrões da medicina, negar acesso a comida abundante, limitar a energia barata. Justamente o que tirou milhões de pessoas da pobreza e permitiu a maior era de desenvolvimento da humanidade. No fundo, voltar aos tempos em que os nossos antepassados em África ainda chamavam aos chimpanzés "os primos galhofeiros". É a miautopia. O PAN vive em estado de graça. Isso explica que, se Isabel Jonet diz que os portugueses devem comer menos bifes, é insensibilidade social, mas se for o PAN a dizer, é ética. O melhor amigo do homem, a não ser que o homem seja mendigo O PAN também propõe a proibição do uso de animais para acções de mendicidade. Quando li, achei que fosse uma medida para proteger os transeuntes: um mendigo com um urso deixa de ser um pedinte e passa a ser um exigente. Mas não é isso. O que o PAN quer é que um mendigo não possa ter um cão. Ou, melhor, que o deixe em casa, para não embaraçar o cachorro com a pobreza. Ah, espera, o mendigo não tem casa. Então, que abandone o cão. Sem abrigo, tudo bem. Sem vergonha é que já não se admite. À beira de um ataque de PAN & CO No site do PAN: "no que respeita às históricas tomadas de consciência moral e ética da humanidade, a recusa do esclavagismo, do racismo e do sexismo deve completar-se com a da discriminação baseada na espécie". Logo, não apertar a mão a um negro é o mesmo que recusar uma festinha a um cão. Se eu fosse do PNR ficava preocupado por estar a ser ultrapassado pelo PAN na justificação do preconceito. Um racista pode agora alegar que é alérgico a gatos e a árabes. Fantasia de Fernando Pessoa não-humana Se eu fosse animal, não sei se quereria passar a ser considerado pessoa. Em minha casa, todas as manhãs, as pessoas são obrigadas a acordar cedo e a ir para o trabalho ou para a escola. As não-pessoas preferem o sossego, até lhes apetecer perseguir moscas.
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