Pela ciência de viver
Eu também não acredito em milagres. Mas acho que os que acreditam consideram-nos milagres precisamente por serem incompatíveis com a ciência.
O título da notícia sobre a entrevista de Stephen Hawking ao El Mundo diz tudo: "Não há nenhum Deus. Sou ateu". Imagine-se o cabeçalho contrário, igualmente ridículo: "Deus existe. Sou crente".
Hawking pode ser um bom cientista, mas até hoje não foi capaz de escrever um único livro que fosse compreensível por quem não fosse cientista também. Foi o autor de um dos maiores golpes publicitários do século XX: chamou a um impenetrável livro de física A Brief History of Time.
Tudo naquele título atrai o flâneur curioso. Quem não quer ler um livro sobre a história do tempo? Quem não acha graça à ideia do tempo ter uma história? E, acima de tudo, quem é que resiste a um livro sobre coisas científicas (e logo porventura chatas ou incompreensíveis) que promete e consegue ser breve, não obstante ser breve apenas em termos milimétricos?
Uma Breve História do Tempo – que eu já comprei e tentei ler umas más duas vezes – bem poderia ter 50 mil páginas se fosse só um pouco mais claro. Tal como é, exigiria um título diferente: "Um Longo e Confuso Livro Armado em História do Tempo".
Hawking acrescenta que "A religião acredita nos milagres, mas estes não são compatíveis com a Ciência". Note-se que a Ciência tem direito a letra grande, mesmo no meio de uma frase.
Eu também não acredito em milagres. Mas acho que os que acreditam consideram-nos milagres precisamente por serem incompatíveis com a ciência.
Deus pode não ser grande, mas Hawking é parvo.
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