Pobres passarinhos
Com a chuva do ano passado formou-se uma poça funda onde os passarinhos e a nossa gata Marieta iam beber. O barro diluído deve ter, nas minúsculas quantidades ingeridas pelas aves e pelos felinos, propriedades benéficas. Por que outra razão tantos bichos repudiam a água da torneira que lhe deixamos e preferem a água caída do céu (ou, no caso perverso dos cães) do depósito do autoclismo?
Este Inverno a Maria João começou a desmiolar o pão que não comíamos na véspera para deixar num poço coberto, nas traseiras da nossa casa, onde há uma árvore onde se congregam passarinhos, pombos e rolas. São as aves residentes, que passam cá não só o Verão como o Inverno - e que mais morrem quando vêm a chuva e o frio. Esta bonança de migalhas de pão fresco foi saudada com exuberante gratidão: muitos bons quartos de hora passámos nós à janela, a recebermos, como anfitriões distantes, melros, alvéolas e muitos pardais giros que, por muito que folheássemos os livros, fomos incapazes de identificar.
Para além de bebedouro, a poça servia de banheira e de piscina: muito que se lavaram os passarinhos, com um estardalhaço e uma bonomia que levam quem os espreita directamente para o duche. Até que ontem vieram uns homens tapar com pedras, com tanta prudência como egoísmo, a piscina, banheira e bebedouro dos passarinhos.
Hoje foi, para as aves, um dia seco, triste e embuchado. Temos de insuflar uma piscina e enchê-la de água da companhia.
Desculpem lá.
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