A recessão moral
Henrique Raposo
Expresso, 20090110
Uma frente fria está a atravessar a economia portuguesa. Existem vários factores que explicam esta enregelada recessão. Um desses factores é, com certeza, a rigidez da legislação laboral. E a rigidez laboral não é apenas um problema económico. Esta questão levanta, acima de tudo, um problema de justiça entre gerações. O código laboral português, um dos mais arcaicos do mundo, atirou a minha geração para a emigração. É verdade, meu caro leitor: os jovens portugueses estão a emigrar. Há uma nova diáspora portuguesa provocada por uma legislação laboral que apenas protege as gerações mais velhas. Este país não é para gente nova.
Os jovens estão a emigrar, porque a sua ascensão profissional está bloqueada em Portugal. A história repete-se ad eternum em todos os sectores: o trabalhador jovem é mais competente do que o trabalhador "instalado", mas o jovem nunca consegue subir na carreira devido aos privilégios legais do "instalado". É assim nas empresas, nas instituições públicas, nos bancos, nas universidades, nas fundações, etc. Ao longo dos anos, as gerações de "instalados" fizeram leis para preservar os seus empregos à custa das gerações mais novas. Esta injustiça geracional é vulgarmente conhecida por "direitos adquiridos". Para fugir à farsa dos "direitos adquiridos", muitos jovens emigram. Este país não é para gente nova.
Não é a pobreza (relativa) de Portugal que provoca esta emigração. É a (absoluta) injustiça geracional que leva a minha geração a deixar o país: as "novas oportunidades" só se encontram a partir de Badajoz. Não estamos perante a velha emigração da mala de cartão. No estrangeiro, esta gente não procura apenas dinheiro; esta gente busca, sobretudo, a realização profissional que não consegue alcançar na terra natal. Lá fora, esta juventude anseia por ambientes de trabalho sem vacas sagradas, ou seja, anseia por países indexados ao mérito. Estes jovens saem da sua pátria, porque os "instalados" não admitem que o mérito (ou seja, a igualdade entre gerações) substitua a antiguidade como critério central do código laboral. Este país não é para gente nova.
Um país que hipoteca o futuro dos seus jovens é uma entidade moralmente falida. Portugal já faliu no campo da moral. E esta decadência é mais profunda do que qualquer recessão económica. Aliás, podemos dizer que Portugal vive numa espécie de perpétua recessão moral. Quando expulsa as gerações mais novas em nome da protecção de privilégios ilegítimos das gerações mais velhas, um país entra em recessão moral. Portugal está mergulhado nesta imoralidade geracional até ao pescoço. Este país não é para gente nova.'Agosto' encasacado
Durante a inércia de Agosto, escrevi aqui que os portugueses recebem 14 salários por 11 meses de trabalho. Ora, devo um pedido de desculpas aos leitores do Expresso. A informação estava errada. Na verdade, os portugueses recebem 14 salários por 10 meses de trabalho. Em Dezembro, o país pára da mesma forma que pára em Agosto. O português "instalado" trabalha quantos dias durante o mês de Dezembro? Agosto e Dezembro são os gémeos siameses do calendário português.
Henrique Raposo
Expresso, 20090110
Uma frente fria está a atravessar a economia portuguesa. Existem vários factores que explicam esta enregelada recessão. Um desses factores é, com certeza, a rigidez da legislação laboral. E a rigidez laboral não é apenas um problema económico. Esta questão levanta, acima de tudo, um problema de justiça entre gerações. O código laboral português, um dos mais arcaicos do mundo, atirou a minha geração para a emigração. É verdade, meu caro leitor: os jovens portugueses estão a emigrar. Há uma nova diáspora portuguesa provocada por uma legislação laboral que apenas protege as gerações mais velhas. Este país não é para gente nova.
Os jovens estão a emigrar, porque a sua ascensão profissional está bloqueada em Portugal. A história repete-se ad eternum em todos os sectores: o trabalhador jovem é mais competente do que o trabalhador "instalado", mas o jovem nunca consegue subir na carreira devido aos privilégios legais do "instalado". É assim nas empresas, nas instituições públicas, nos bancos, nas universidades, nas fundações, etc. Ao longo dos anos, as gerações de "instalados" fizeram leis para preservar os seus empregos à custa das gerações mais novas. Esta injustiça geracional é vulgarmente conhecida por "direitos adquiridos". Para fugir à farsa dos "direitos adquiridos", muitos jovens emigram. Este país não é para gente nova.
Não é a pobreza (relativa) de Portugal que provoca esta emigração. É a (absoluta) injustiça geracional que leva a minha geração a deixar o país: as "novas oportunidades" só se encontram a partir de Badajoz. Não estamos perante a velha emigração da mala de cartão. No estrangeiro, esta gente não procura apenas dinheiro; esta gente busca, sobretudo, a realização profissional que não consegue alcançar na terra natal. Lá fora, esta juventude anseia por ambientes de trabalho sem vacas sagradas, ou seja, anseia por países indexados ao mérito. Estes jovens saem da sua pátria, porque os "instalados" não admitem que o mérito (ou seja, a igualdade entre gerações) substitua a antiguidade como critério central do código laboral. Este país não é para gente nova.
Um país que hipoteca o futuro dos seus jovens é uma entidade moralmente falida. Portugal já faliu no campo da moral. E esta decadência é mais profunda do que qualquer recessão económica. Aliás, podemos dizer que Portugal vive numa espécie de perpétua recessão moral. Quando expulsa as gerações mais novas em nome da protecção de privilégios ilegítimos das gerações mais velhas, um país entra em recessão moral. Portugal está mergulhado nesta imoralidade geracional até ao pescoço. Este país não é para gente nova.'Agosto' encasacado
Durante a inércia de Agosto, escrevi aqui que os portugueses recebem 14 salários por 11 meses de trabalho. Ora, devo um pedido de desculpas aos leitores do Expresso. A informação estava errada. Na verdade, os portugueses recebem 14 salários por 10 meses de trabalho. Em Dezembro, o país pára da mesma forma que pára em Agosto. O português "instalado" trabalha quantos dias durante o mês de Dezembro? Agosto e Dezembro são os gémeos siameses do calendário português.
Henrique Raposo
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