Prémio Vasco Vilalva de 2008 atribuído ao Departamento do Património da Diocese de Beja
Fundação Calouste Gulbenkian distingue projecto exemplar na salvaguarda cultural
Prémio Vasco Vilalva de 2008 atribuído ao Departamento do Património da Diocese de Beja
O Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja foi distinguido pela Fundação Calouste Gulbenkian com o Prémio Vasco Vilalva para a Recuperação e Valorização do Património 2008 pelo seu contributo para a defesa da identidade cultural do Alentejo. De acordo com a Fundação Gulbenkian, a atribuição do Prémio teve em conta a “qualidade global do projecto, continuado e coerente, de levantamento, restauro e valorização do Património Cultural Religioso do Baixo Alentejo, que os membros do Júri consideraram revelar uma definição de critérios e uma metodologia de execução exemplares, em si mesmas e na sua capacidade indutora noutras regiões do país”.
Constituindo a mais importante distinção portuguesa no âmbito do património cultural, o Prémio Vasco Vilalva foi instituído pela Fundação Gulbenkian em homenagem a Vasco Eugénio de Almeida, Conde de Vilalva – mecenas a quem a arte e a cultura do país muito devem –, destinando-se a assinalar “intervenções exemplares em bens móveis e imóveis de valor cultural que estimulem a preservação e a recuperação do Património”. É de carácter anual e tem o valor de 50 000 euros.
Esta decisão colheu a unanimidade do Júri, de que fizeram parte o Professor António Lamas (catedrático do Instituto Superior Técnico), a Doutora Dalila Rodrigues (ex-directora do Museu Nacional de Arte Antiga), o Dr. José Sarmento de Matos (olisipógrafo), o Arqt.º José Pedro Martins Barata (ex-director do Centro Português de Design) e o Pintor Manuel da Costa Cabral (director do Serviço de Belas-Artes da Fundação Calouste Gulbenkian).
O prémio será entregue em Beja, no dia 3 de Fevereiro, às 11h30, pelo Presidente do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian, Rui Vilar, na Sala do Capítulo do Convento de S. Francisco (actual Pousada), na presença da Condessa de Vilalva, do Bispo de Beja, D. António Vitalino Dantas, do Bispo Emérito, D. Manuel Franco Falcão, e da Administradora da Fundação Calouste Gulbenkian, Teresa Patrício Gouveia.
25 anos ao serviço do património alentejano
O Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja foi criado em 1984 para assegurar o estudo, defesa e valorização dos bens culturais religiosos da região. É responsável por um inventário artístico que revelou o extraordinário espólio de arte sacra deste território, então pouco conhecido quer pelos visitantes, quer pelas próprias comunidades locais.
Entre várias iniciativas, foram realizadas acções de formação, estabeleceu-se um serviço gratuito de aconselhamento técnico e incentivou-se a formação de responsáveis pela salvaguarda em cada uma das igrejas históricas, muitas das quais estavam fechadas e passaram a ser abertas regularmente ao público. Hoje colaboram mais de 200 pessoas neste sistema, quase todas em regime de voluntariado.
Este trabalho, realizado em articulação com a União Europeia, o Estado, os municípios e as comunidades locais, permitiu o restauro e a valorização não só de um número considerável de igrejas em Beja e nos principais núcleos urbanos, mas também de um vasto conjunto de ermidas e santuários rurais espalhadas por todo o Baixo Alentejo. Lançaram-se igualmente os fundamentos da Rede Museológica Diocesana, com sete núcleos em funcionamento: Santiago do Cacém, Cuba, Castro Verde, Moura, Sines e Beja (Museu do Seminário e Museu Episcopal).
A exposição Entre o Céu e a Terra – Arte Sacra da Diocese de Beja, realizada em 1998-99, primeiro em Beja, depois em Lisboa, deu a conhecer a riqueza deste património artístico, assim como todo o seu trabalho de inventário, classificação e recuperação. Os tesouros artísticos das igrejas alentejanas foram ainda objecto de outras exposições em Portugal e no estrangeiro, bem como de vários congressos, jornadas e encontros científicos. O Departamento do Património Histórico e Artístico tem assegurado também uma linha editorial, própria ou em regime de co-edição, com 42 títulos publicados.
A União Europeia atribuiu a este serviço da Diocese de Beja, em 2005, o Prémio Europa Nostra para a Salvaguarda do Património Cultural. O Ministério da Cultura distinguiu-o em 2004 com a Medalha de Mérito Cultural e a Câmara Municipal de Beja concedeu-lhe em 2001 com a Medalha de Mérito Municipal.
A atribuição do Prémio Vasco Vilalva ao Departamento do Património da Diocese de Beja teve em conta especialmente o projecto Monumentos Vivos em curso, que tem como objectivo o incremento de percursos de turismo cultural e religioso na região. O seu fio condutor assenta na realização de actividades culturais em igrejas históricas, recuperadas, com actividades de carácter didáctico e divulgativo. Estas iniciativas são dirigidas ao público em geral, mas concedem especial atenção ao sector infanto-juvenil e às pessoas com deficiência.
Um dos seus principais eixos do programa é o Festival Terras sem Sombra de Música Sacra, iniciativa realizada em parceria com a Arte das Musas e que visita anualmente, em itinerância, as igrejas históricas da região e se tem destacado pela ligação entre uma programação de qualidade e a abertura de alguns dos mais belos monumentos religiosos alentejanos. O Terras sem Sombra promove uma temporada de música clássica na região através de um ciclo de concertos em espaços sacros, conferências e visitas guiadas. Ao longo dos seus cinco anos de vida, percorreu já 18 igrejas históricas da região.
Vasco Vilalva, mecenas da cultura portuguesa
Vasco Maria Eugénio de Almeida, 2.º Conde de Vilalva (1913-1975), que se formou no Instituto Superior de Agronomia, foi uma personalidade de excepcional vocação cristã e humanista, vocacionada para a filantropia e para o mecenato. Espírito superior, evidenciou desde cedo grandes preocupações educativas e sociais, pondo a sua vasta fortuna ao serviço das comunidades de Évora, cidade a que esteve profundamente ligado, e do Alentejo.
Idealizou e levou a cabo obras fundamentais para o país, com destaque para a revitalização do Convento da Cartuxa, a fundação do Instituto Superior Económico e Social – embrião da ressuscitada Universidade de Évora – e a criação do Hospital do Patrocínio. Nos primórdios da década de 60, conferiu à generosa actividade que vinha desenvolvendo ao serviço aos outros a dimensão de um projecto institucional, através do estabelecimento da Fundação Eugénio de Almeida.
Não menos notável foi a acção do Eng.º Vasco Vilalva na salvaguarda e valorização do património cultural, procedendo à reconstrução extremamente cuidada dos edifícios históricos que faziam parte do erário da família Eugénio de Almeida e hoje integram o acervo da Fundação com o seu nome.
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