Bento XVI

João Pereira Coutinho
Expresso 3 de Jan de 2009

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Bento XVI

Bento XVI não tem descanso: sempre que o Papa abre a boca, o mundo entra em ebulição. E porquê? A julgar por certa imprensa, que faz gala da sua própria preguiça e ignorância, o Papa atacou os homossexuais e comparou-os às ameaças humanas e climatéricas que se abatem sobre a floresta tropical. No raciocínio do Papa, o heterossexual genuíno seria como as árvores, um produto "natural" que se vê dramaticamente ameaçado pelas bichas, perdão, pelos bichos da madeira.
Uma pessoa lê estas coisas e depois, meio trémulo, vai confirmar. Eu fui. E relendo a alocução de Bento XVI à Cúria Romana no passado dia 22, não encontrei rigorosamente nada que se afastasse um milímetro da tradicional, e secular, e assaz conhecida doutrina da Igreja em matéria sexual. Uma defesa da família e do papel específico que "homens" e "mulheres" têm no matrimónio como continuadores da espécie. Donde, a comparação: proteger a família é tão importante como proteger o ambiente. O que implica, segundo Bento, não aceitar as teorias de género que defendem uma sexualidade escolhida pelos homens, e não criada por Deus e sancionada pela Natureza. O discurso do Papa é, como habitualmente, um texto denso, erudito e, na sua ortodoxia, devia merecer melhor sorte: uma discussão civilizada sobre, por exemplo, a hipótese de a homossexualidade ser também "natural", como aliás se observa nas restantes espécies - um pormenor que parece desmentir o argumento central de Bento XVI. Mas o fanatismo anticatólico não pensa nem discute, preferindo reduzir tudo a uma farsa grotesca que seja compatível com a idade mental das patrulhas. As mesmas que desataram a berrar só porque a Igreja Católica continua a ter um católico a liderá-la. Quando cresce esta gente?

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