O Dia da Memória

Pe Duarte da Cunha

27 de janeiro de 1945 pode ser recordado como um dia de libertação. Mas serve sobretudo para recordar o que se passou naqueles anos. Depois de todos estes anos ainda temos de recordar o que se passou. Não só para olhar com preplexidade para o passado. De facto será sempre incompreensível como foi possível gente normal perder todas as referências morais e tratar outras pessoas como coisas sem valor, detruindo e matando pessoas como se fossem lixo. Contudo, recordar os milhões de mortos e o ódio ao povo judaico, aos ciganos e a tantos homens e mulheres de boa vontade que se recusavam a aceitar este mesmo ódio, deve fazer-nos olhar com preocupação para o presente e para o futuro, porque apesar do tanto que nos assusta, sabemos que o ódio ainda tem de ser vencido em tantas partes e que o respeito pela vida humana ainda não é considerado em todas as circunstâncias.

Não queremos que seja possível outra vez, e por isso não podemos deixar de estar atentos ao que acontece, ao que se diz e a toda a educação. Na verdade também hoje, nas muitas guerras sem sentido que continuam, mas também em clínicas e lugares “limpos”, continuam os ataques à dignidade da vida humana. Infelizmente ainda no nosso mundo milhões de pessoas, algumas ainda não nascidas, são mortas e quantas vezes com a conivência duma sociedade que anda adormecida.

Lembramos o Holocausto porque não queremos que seja possível de novo acontecer. Mas também lembramos porque, como cristãos, acreditamos que o ódio não pode ser respondido com vingança e ódio, mas apenas com o amor e a reconciliação. Como recordava o Santo Padre, quando em 2006 visitou o Campo de Concentração de Auschwitz, “este é o motivo porque estou aqui: para implorar a graça da reconciliação”. Será mesmo uma graça que os homens por si mesmos não conseguem construir. Por isso, sabendo que só o amor converte o olhar e o coração do homem, estamos certos de que só deixando entrar Deus, que é Ele emsmo Amor, nas nossas vidas, será possível dizer que nunca mais acontecerá.

Imploramos a Deus para que na Europa haja sempre uma grande consciência do terror que o ódio a um povo concreto ou aos opositores políticos pode gerar, mas também, e sobretudo, que haja uma grande consciência da dignidade da vida e do valor do amor. Só assim Auschwitz, de certeza, não voltará a acontecer.

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