Esquerda
João César das Neves
DESTAK 22 01 2009 08.41H
Sempre que o Partido Socialista esteve no poder em Portugal foi criado um novo partido à sua esquerda. Em 1978, no primeiro governo de Soares, foi a UEDS (União da Esquerda para a Democracia Socialista), no segundo, em 1985, o PRD (Partido Renovador Democrático) e no de Guterres, em 1999, o Bloco de Esquerda. Não surpreende que no mandato de Sócrates surja agora a contestação da «Opinião Socialista».
Esta contenda interna, muito menos frequente à direita, tem certamente muitas causas. Mas uma das principais é a natural dificuldade que essa área política, em geral contestatária, tem em se adaptar aos compromissos e cedências do poder. Tradicionalmente a Esquerda é idealista e ligada à pureza dos princípios, e assim menos pragmática. Por isso é que os governos do PS beneficiam a extrema-esquerda mas a direita costuma coligar-se e os governos de Cavaco Silva reduziram o CDS.
Ao mesmo tempo vê-se que a sorte dos três novos partidos referidos foi muito diversa, do regresso à origem da UEDS ao sucesso extremista do Bloco, passando pela evaporação do PRD. Qual o destino da OS, se vier a formalizar-se como força? A orientação parece ainda mais teórica que as anteriores.
Recentemente o deputado Manuel Alegre declarou: "Nunca a nossa disputa foi por cargos ou por lugares, mas estamos como sempre dispostos a discutir politicamente à volta daquilo que são os valores e os princípios que defendemos e com base em propostas programáticas e soluções concretas" (RR, 12/Jan, 23h22). Alguém lhe diga que política é sobretudo acerca de cargos e lugares.
João César das Neves mailto:naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
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