Ingovernável?

DESTAK 08 01 2009 07.54H
João César das Neves naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt

Das mensagens políticas da quadra, uma destaca-se claramente. Enquanto o Cardeal Patriarca, Primeiro Ministro e Presidente da República nas alocuções natalícias reconheciam as dificuldades e apelavam ao esforço, «Mário Soares teme que Portugal fique "ingovernável" por via de protestos relacionados com uma taxa elevada de desemprego» (RR, 31-12-2008, 10h55). Isto sintoniza melhor com as conversas de cafés e blogues.
Ninguém sabe o que vai acontecer. O cenário é sombrio mas nebuloso. Se as previsões científicas são incertas, imagina-se a fiabilidade dos palpites. A crise pode ser violenta ou moderada, e há argumentos para ambas as alternativas.
A questão interessante é perguntar a razão para, nestas circunstâncias, fazer uma declaração tão alarmista. Pode pretender apenas avisar e prevenir, mas que fazer para antecipar uma coisa dessas? Como se evita o desemprego maciço, protestos generalizados, um país ingovernável?
Pior, antevisões assustadoras costumam promover precisamente o que afirmam. Medo e desânimo desencorajam o investimento, oprimem a economia, fortalecem as contestações. Perante um desastre previsível, o recomendável seria reconhecer as dificuldades e apelar ao esforço, precisamente o que fizeram os responsáveis.Mas o motivo de tais declarações de choque é evidente: em períodos de turbulência, quem mais dramático for mais credível se torna.
O pessimismo parece sábio e ponderado, o optimismo ingénuo ou hipócrita. Assim Soares promoveu uma imagem de seriedade, mesmo comprometendo o interesse público.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

OS JOVENS DE HOJE segundo Sócrates

Hino da Padroeira

O passeio de Santo António