Oportunismo
Público,24.01.2009, Vasco Pulido Valente
Para além das piedades do costume, a moção que Sócrates vai apresentar ao próximo Congresso do PS traz duas novidades: o casamento de homossexuais e um novo referendo sobre a regionalização. Comecemos pelo casamento de homossexuais. Não há muito tempo - em Outubro do ano passado -, Sócrates mandou o PS votar contra uma proposta semelhante do PC e do Bloco, a pretexto de que a sociedade ainda não discutira suficientemente o assunto. Não dei - ninguém deu - por que entretanto o discutisse. Mas Sócrates quer agora avançar com a coisa sem "tibieza" e "sem meias soluções". Porquê? Porque em 2008 tinha mais medo da direita do que da esquerda e em 2009 tem mais medo da esquerda do que da direita. E porque, sem dinheiro para nada de substantivo, está reduzido, dentro e fora do partido, a oferecer um símbolo ao eleitorado "radical".Quanto à "regionalização", não passa de uma maneira pouco subtil de contrabalançar a influência autárquica do PSD e de meter Manuela Ferreira Leite num enorme sarilho. Se os candidatos do PS tanto às câmaras como ao Parlamento aparecerem com a "regionalização" no bolso, talvez sejam julgados com mais benevolência do que se aparecerem só com o cadastro do Governo às costas. Fora que Sócrates sabe muito bem que Ferreira Leite não quer a "regionalização" e que para muitos "notáveis" do PSD, sobretudo no Norte e no interior (como por exemplo Rui Rio), ela é desde sempre a primeira prioridade. Misturar a "regionalização" à polémica eleitoral, qualquer que ela seja, divide o PSD e o CDS e beneficia Sócrates. Se convém ou não transformar as CCDR em outro patamar de intriga e corrupção, não preocupa evidentemente o inventor do Simplex.Mas, como se constata por alguns comentários, certos círculos do PS estão preocupados com a reacção da Igreja ao casamento de homossexuais. Esperavam uma guerra, veio uma crítica moderada e tranquila. Sócrates não percebeu que a Igreja, como o Papa mil vezes lhe recomendou, já vive sem o Estado e mesmo contra o Estado. Preferia que o Estado respeitasse a moral católica; não a tenta, como antigamente, impor. Sócrates contava com um escândalo para se reabilitar à esquerda. Não lhe fizeram o favor. Era bom que também o PSD conseguisse esquecer a "regionalização" até Dezembro. O oportunismo não merece mais.
Para além das piedades do costume, a moção que Sócrates vai apresentar ao próximo Congresso do PS traz duas novidades: o casamento de homossexuais e um novo referendo sobre a regionalização. Comecemos pelo casamento de homossexuais. Não há muito tempo - em Outubro do ano passado -, Sócrates mandou o PS votar contra uma proposta semelhante do PC e do Bloco, a pretexto de que a sociedade ainda não discutira suficientemente o assunto. Não dei - ninguém deu - por que entretanto o discutisse. Mas Sócrates quer agora avançar com a coisa sem "tibieza" e "sem meias soluções". Porquê? Porque em 2008 tinha mais medo da direita do que da esquerda e em 2009 tem mais medo da esquerda do que da direita. E porque, sem dinheiro para nada de substantivo, está reduzido, dentro e fora do partido, a oferecer um símbolo ao eleitorado "radical".Quanto à "regionalização", não passa de uma maneira pouco subtil de contrabalançar a influência autárquica do PSD e de meter Manuela Ferreira Leite num enorme sarilho. Se os candidatos do PS tanto às câmaras como ao Parlamento aparecerem com a "regionalização" no bolso, talvez sejam julgados com mais benevolência do que se aparecerem só com o cadastro do Governo às costas. Fora que Sócrates sabe muito bem que Ferreira Leite não quer a "regionalização" e que para muitos "notáveis" do PSD, sobretudo no Norte e no interior (como por exemplo Rui Rio), ela é desde sempre a primeira prioridade. Misturar a "regionalização" à polémica eleitoral, qualquer que ela seja, divide o PSD e o CDS e beneficia Sócrates. Se convém ou não transformar as CCDR em outro patamar de intriga e corrupção, não preocupa evidentemente o inventor do Simplex.Mas, como se constata por alguns comentários, certos círculos do PS estão preocupados com a reacção da Igreja ao casamento de homossexuais. Esperavam uma guerra, veio uma crítica moderada e tranquila. Sócrates não percebeu que a Igreja, como o Papa mil vezes lhe recomendou, já vive sem o Estado e mesmo contra o Estado. Preferia que o Estado respeitasse a moral católica; não a tenta, como antigamente, impor. Sócrates contava com um escândalo para se reabilitar à esquerda. Não lhe fizeram o favor. Era bom que também o PSD conseguisse esquecer a "regionalização" até Dezembro. O oportunismo não merece mais.
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