RR on-line, 20081103
A verdade é que, nos últimos anos, nos habituámos à ideia de que era possível viver sem produzir aquilo que consumimos.
Se há uma coisa boa que esta crise nos trouxe, ela é a de nos reconduzir à realidade palpável e mensurável. O descalabro que está a atingir em cascata as economias do mundo inteiro, tem que ver com o facto de as nossas sociedades se terem convencido que poderiam viver do nada, ou seja, ganhar sem produzir.
Há tempos, num debate televisivo, a jornalista perguntava a um convidado que se dedica à produção agrícola se estava preocupado com a crise e com o futuro. O convidado deu uma resposta que reflecte bem a actual situação: "Eu? Preocupado? A senhora é que devia preocupar-se, eu terei sempre com que me alimentar."
Parece evidente esta conclusão, mas ela tem já muito pouco a ver com a realidade da maior parte de nós. A verdade é que, nos últimos anos, nos habituámos à ideia de que era possível viver sem produzir aquilo que consumimos e essa ilusão inevitavelmente teria que rebentar um dia.
Agora, há que reaprender a viver sem fazer dos bancos o centro das nossas vidas. E, já agora, era bom que o poder político ajudasse, em vez de continuar a apostar na venda de ilusões. A este propósito, a imagem do Primeiro-ministro a vender o Magalhães na Cimeira Ibero-Americana como uma invenção portuguesa não ajudou. Todos sabemos que o Magalhães português tem outros nomes nos quatro cantos do mundo.
Raquel Abecasis
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