Carris
João César das Neves
DESTAK, 27 11 2008 08.49H
Apareceram em várias carreiras da Carris dísticos junto do condutor do autocarro indicando que é proibida a entrada de malas de grande dimensão. A sinalética do boneco mostra que os passageiros só podem transportar pequenos sacos.
Porquê a imposição? Percebe-se que nas horas de ponta, com muita gente apertada, uma bagagem volumosa crie enormes transtornos. Mas, apesar de tudo, esses períodos são excepção. No caso normal, mesmo com os assentos ocupados, a passagem de alguém carregado não gera incómodo. Por outro lado, proibir a entrada de pessoas com malas é severa limitação, sobretudo para os pobres. Os táxis ficam contentes, mas são os únicos beneficiários.
A Carris é um serviço público. O seu dever é assistir aos cidadãos que pagam impostos. Servir todos os cidadãos que precisam de transporte, não apenas os que viajam de mãos a abanar ou com pequenos saquinhos. É isso que faz dele um serviço público. Cada vez que se autolimita, mesmo com boas intenções, desvirtua a sua missão e identidade. Esta proibição mostra que a empresa esqueceu que a sua natureza e razão de ser é servir. Servir significa ser útil aos utentes, não cumprir regras ideais determinadas por especialistas.
Na origem desta atitude está o vício fatal do burocrata: tomar como finalidade, não a assistência à população, mas a própria execução da tarefa. Nesse caso os serviços funcionam muito bem, mas deixam de ser úteis. Os hospitais seriam excelentes sem doentes e as escolas sem alunos. Agora os autocarros pretendem ser aprazíveis recusando passageiros incómodos.
João César das Neves naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
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