Recessão
DESTAK 20 11 2008 08.37H
João César das Neves naohaalmocosgratis@fcee.ucp.pt
Num mundo cada vez mais complexo, o simplismo domina. Ninguém sabe quem inventou a ideia de uma «recessão técnica» implicar dois trimestres sucessivos de crescimento em cadeia negativo no PIB. Mas essa regra de bolso tornou-se obsessiva na imprensa.
Hoje os jornalistas só reagem quando a tal sucessão mágica acontece, mas então fazem-no com sofreguidão. Se a repetição não aparecer, parece que está tudo bem. Isso pode gerar situações caricatas. Um país que caia 0,1% em cada um dos dois primeiros trimestres e suba 1% nos dois seguintes, esteve em recessão, embora tenha crescido uns respeitáveis 1,8% durante esse ano.
Mas se cair 1% num trimestre, crescer 0,1% no seguinte e repetir a sequência no segundo semestre, não regista recessão, apesar de descer 1,8% nesse ano.
Uma contracção económica envolve grande quantidade de factores, que escapam a visões lineares. Vários autores vêm sugerindo, por exemplo, que as atenções devem ser centradas, não tanto na contracção do produto mas naquilo que realmente afecta as pessoas, a subida do desemprego.
Grande parte dos conceitos que usamos neste campo foram concebidos pelo National Bureau of Economic Research, um centro de estudos privado fundado em 1920 perto de Boston, que em 1930 recebeu do Governo a tarefa de calcular as contas nacionais norte-americanas.
O seu trabalho mais emblemático é precisamente o de declarar as recessões nos EUA (ver www.nber.org/cycles.htm). Mas o NBER nunca invocou regras simples. Utiliza o método, muito mais científico, de pensar e decidir.
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