Foi voce que pediu uma alternativa?
Público, 26.11.2008, Rui Ramos
Estamos confrontados com a estagnação, que se traduz na provável necessidade de renunciar a expectativas e ambições
Nunca um governo, antes deste, viu passar tantas manifestações e tantos líderes da oposição. Segundo o PÚBLICO, das quatro maiores enchentes de rua desde o 25 de Abril, três tiveram José Sócrates como alvo. O PSD, entretanto, fez avançar quatro presidentes em três anos (Santana, Mendes, Menezes e Ferreira Leite), esgotando todas as receitas possíveis: houve-os de Lisboa e da província, quase liberais (Mendes) e quase populistas (Menezes), a falar muito (Menezes) e a falar pouco (Ferreira Leite), e por aí fora. Mas enquanto a CGTP aluga autocarros para vir a Lisboa e o PSD muda de presidente como quem muda de camisa, as sondagens de opinião não fazem mais do que manter a especulação sobre se Sócrates vai ou não repetir a maioria absoluta no Outono de 2009.
Noutros países, nos últimos quatro anos, não foi assim. Nos EUA, republicanos e democratas inverteram completamente as posições e as expectativas. Em Itália, a esquerda saiu, Berlusconi regressou, e agora a esquerda, renovada, parece querer voltar outra vez. Em Inglaterra, conservadores e trabalhistas trocaram várias vezes de lugar na corrida para as próximas eleições. Em Espanha, a rotação já está no mapa dos próximos anos. Em Portugal, porém, o padrão eleitoral de 2005 tem-se repetido sondagem após sondagem, como se o relógio eleitoral tivesse parado então. Nem a crise financeira, que pelo mundo fez girar a roda de tantas fortunas, conseguiu empurrar o carrossel político português.
As boas maneiras de pensar mandam que se culpe a oposição, sobretudo a que está à direita do PS. As direitas, diz-se, não teriam "alternativa", justificando assim a relutância dos portugueses em inflamar as sondagens. O problema é que, embalados pela queixa, nos habituámos a falar da tal "alternativa" como se fosse uma coisa à mão de semear, daquelas que se compram nos supermercados, já prontas a usar. Infelizmente, não é bem assim. Uma "alternativa" não se improvisa com inspirações avulsas - é o resultado de muito trabalho. Pior: uma "alternativa" não se faz apenas com "ideias", mas com pessoas, com os protagonistas mais apropriados. Mais grave ainda: uma alternativa depende também de circunstâncias, daquele momento em que o público, cansado do que existe ou desperto para outras opções, resolve experimentar, arriscar - porque uma alternativa é sempre um risco (se fosse uma certeza, nunca chegaria a ser uma "alternativa": seria imediatamente realizada).
Uma alternativa não surge necessariamente quando nos convém, mas quando é possível: quando os protagonistas existem e estão no seu lugar, os projectos foram elaborados e fazem sentido, e a sociedade está disposta a tentar algo de novo. A questão, portanto, não é saber se Portugal precisa de uma alternativa, mas saber se pode ter uma alternativa.
Perante si, os portugueses têm uma oposição de esquerda encerrada numa espécie de parque jurássico mental (veja-se o seu actual "regresso" a Marx), e uma oposição de direita que, depois de muitas voltas, ainda não conseguiu perceber o que lhe aconteceu da última vez que passou pelo governo, em 2002-2005. As esquerdas da oposição animam as ruas, e as direitas fazem a devida marcação parlamentar aos ministros. Nada mais. Mas é só isso que nos limita?
Os portugueses vivem num país parado desde 2001, quando rebentou a grande bolha do Estado. Para equilibrar as contas, o Governo passou a gastar uma parte cada vez maior dos nossos rendimentos. Durante algum tempo, vigorou a esperança de que as dificuldades seriam temporárias, como várias vezes acontecera nos últimos trinta anos, e que em breve o país voltaria a "arrancar". Não arrancou. Perdemos aquela que foi uma das grandes épocas de crescimento da economia mundial. E agora que a locomotiva externa parou, não se vê como vamos andar.
As actuais gerações portuguesas estão assim confrontadas com um horizonte absolutamente inédito neste país desde há mais de sessenta anos: a estagnação, isto é, a provável necessidade de renunciar a expectativas e ambições. É possível que a frustração, como acontece nestes casos, provoque algum movimento. Mas há algo de mais sério: os portugueses de hoje não são como os de ontem. Somos uma população envelhecida, a diminuir, desabituada de sacrifícios e de esforços, mais atomizada do que nunca, e portanto mais frágil e insegura. Que alternativa está à altura e ao alcance destes portugueses? Enquanto esta pergunta não tiver resposta, a "alternativa" continuará a ser uma daquelas banalidades que servem para atormentar os políticos nas entrevistas, mas para mais nada. Historiador
Comentários
Também é preciso que se conheça e discuta as opções que existem, sem deixar nenhuma opção de lado.
Como desafio deixo o convite para conhecer este novo movimento:
www.mep.pt
Abraço