A virtude do ódio
MIGUEL ESTEVES CARDOSO Público
17/12/2014 - 05:39
Morreram mais de 120 pessoas, a maioria das quais crianças. Não podemos imaginar a agonia dos familiares. Mas é neles que devemos pensar.
Há por aí grupos de pessoas que acham bem assassinar outras pessoas. A causa é tão irrelevante como é claro o mandamento: não matarás.
O ódio, por muito politicamente incorrecto que seja, é a única reacção ante quem assassina crianças. Um dos chefes dos assassinos explicou: "O Exército [paquistanês] ataca as nossas famílias. Queríamos que eles sentissem a nossa dor."
Claro que as famílias dos assassinados não vão sentir a dor dos assassinos. A dor dos assassinos é aliviada pelos assassinatos. As famílias vão sentir apenas o ódio. O que não podem sentir é o desprezo pela vida humana que torna possível massacrar aleatoriamente seres humanos.
O chefe dos assassinos disse que "tinha dado ordens específicas para não fazerem mal a menores". Pois claro. Os assassinos que eles mandaram devem ter desobedecido. Mandaram-se bombistas suicidas para uma escola de crianças e adolescentes e só depois de terem entrado na escola ("Com sucesso", disse orgulhosamente um dos chefes) é que deram ordens para não fazerem mal a menores. Só faltou revelar que tinham dado instruções para detonarem as bombas só no meio de maiores de 18 anos.
Morreram mais de 120 pessoas, a maioria das quais crianças. Não podemos imaginar a agonia dos familiares. Mas é neles que devemos pensar. São os únicos a quem é permitido o verdadeiro ódio: o ódio de quem perdeu pessoas amadas por causa de selvagens assassinos que não sabem o que é o amor, a vida ou Deus.
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