Sem base cristã não haveria ciência moderna

Em entrevista à Renascença, o vencedor do Prémio Pessoa, Henrique Leitão, explica porque é que a ciência moderna progrediu na Europa.
16-12-2014 23:28
Henrique Leitão, o vencedor do Prémio Pessoa 2014, é um físico teórico de formação, mas que a dada altura se virou para as humanidades para perceber melhor a História da Ciência. Mas é também um homem de fé e a inter-relação entre todos os seus saberes e todos os seus estudos permite-lhe dizer que foi o Cristianismo que forneceu a base para o desenvolvimento da ciência moderna. 
"Se não houvesse uma base cristã nunca teria havido, propriamente, ciência moderna, porque se hesitava sobre aspectos que são absolutamente centrais para haver ciência", afirma Henrique Leitão, em entrevista ao programa "Terça à Noite" da Renascença.
O historiador explica: "Para se poder fazer ciência é preciso ter um conjunto muito específico de ideias sobre a natureza. Ora, sucede que o Cristianismo fornece, precisamente, essas ideias. O Cristianismo afirma que a natureza é boa, a natureza é racional e a natureza é contingente, que quer dizer que é desta maneira, mas poderia ser de outra e só se pode saber como é investigando." 
E foi investigando a forma de fazer ciência ao longo dos séculos que Henrique Leitão fez um percurso brilhante agora consagrado com o Prémio Pessoa, uma iniciativa conjunta do Expresso e da Caixa Geral de Depósitos, que desde 1987 premeia com 60 mil euros alguém que se tenha destacado nos campos das Artes, Ciência ou Cultura.
Doutorado em Física Teórica, Henrique Leitão orientou a sua investigação para a História das Ciências, sobretudo nos séculos XV, XVI e XVI. Coordenou a publicação das obras de Pedro Nunes e contribuiu para resolver um problema científico: o Método da Projecção de Mercator.

A chamada Projecção de Mercator é uma projecção cartográfica cilíndrica elaborada pelo geógrafo, cartógrafo e matemático Gerhard Mercator (1512-1594). Teve o principal mérito de ser a primeira projecção de mundo elaborada na Era Moderna, ou seja, com a expansão marítima europeia e a descoberta de novos continentes, foi Mercator quem primeiro conseguiu representar o globo esférico da Terra num plano. 
Nesta entrevista à Renascença, conduzida por Francisco Sarsfield Cabral, Henrique Leitão fala da importância de Mercator, mas também de Pedro Nunes e de como o matemático português foi importante para que o cartógrafo flamengo chegasse ao mapa. Mas também conta como os colégios jesuítas foram importantes na investigação e divulgação da ciência em Portugal.
Explica por que é que a ciência moderna vingou na Europa. Pelo Cristianismo, porque "estas ideias – a da bondade do mundo natural, do mundo físico e do mundo biológico e da sua racionalidade – que são absolutamente cruciais para haver ciência, são disseminadas culturalmente pela Europa pelo cristianismo". Mas também porque, ao contrário do que aconteceu na China e no mundo árabe onde a ciência era assunto de elites, na Europa todas as camadas da população tinham algum interessa na ciência. 
"Essa é uma convicção que parece ter algum suporte histórico. O que é apaixonante no mundo ocidental é a situação que vem do século XV e XVI: os factos relativos ao mundo natural parecem suscitar interesse em todas as camadas da população", diz Henrique Leitão, para concluir: "Ter uma ciência pujante e moderna não é apenas um fenómeno de treinar umas elites muito competentes. Mas é, além de ter um conjunto de elites muito competentes, ter uma certa participação de toda a sociedade nas discussões científicas."

Ouça toda a entrevista aqui

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