Abram os olhos
23-12-2014 13:33 RR online Raquel Abecasis
Uma sociedade, uma empresa ou uma família sem sangue novo morre, é tão simples quanto isto.
Nestes dias a Renascença publicou dois trabalhos sobre a demografia. No primeiro perguntámos: vivemos num país "antinatalista"? No segundo a pergunta foi: é mais fácil ter filhos em França? Resposta: Não, é apenas normal.
São dois trabalhos que mostram como em França, mas também noutros países europeus, já se percebeu há muito tempo qual o maior problema a resolver, enquanto aqui em Portugal não só teimamos em não perceber, como fazemos quase tudo ao contrário do aconselhável.
Ao terminar um ano em que o discurso político finalmente se virou para a natalidade, o resultado prático mostra mais uma vez que quem quer ter filhos não pode contar com a estabilidade das políticas. A prova está na votação da reforma do IRS, onde se verifica que, por motivos de guerra política, o Partido Socialista foi o único a votar contra o quociente familiar. Ou seja, podemos contar com a eliminação desta regra quando o PS chegar ao Governo.
Acontece que, ao olhar para o caso francês, temos como principal conclusão que, mais do que medidas fiscais ou outras, o que importa é a certeza, para quem tem filhos, de que as crianças são bem-vindas para qualquer governo.
A estabilidade e o consenso sobre algo que define o futuro do país não existe e o facto é que estamos num país envelhecido, triste e sem horizontes. Tudo o que só novas gerações podem mudar.
Este é o maior problema que Portugal tem pela frente, mais do que a crise, a produtividade, a privatização da TAP ou o aumento das exportações. Na base de tudo está sermos uma sociedade que cresce saudavelmente e é isso que não acontece de há muitas décadas para cá.
Uma sociedade, uma empresa ou uma família sem sangue novo morre, é tão simples quanto isto.
Porque será então tão difícil que os nossos políticos abram os olhos? Não é preciso grandes medidas, como nos prova o caso francês, é só preciso consenso, bom senso e, já agora, não olhar para as crianças como um peso para a sociedade.
Como não consta e os inquéritos não provam que os portugueses tenham deixado de gostar de bebés, o que é que falta afinal para perceber qual é a origem do mal nacional?
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