Desmitificar o que se passa na RTP em cinco pontos

Eduardo Cintra Torres, Correio da Manhã,  07.12.2014 00:30 

A RTP não pode ser dirigida por uma oligarquia que nem sabe escrever nem apresentar um projecto decente.

1. O Conselho Geral Independente tem legitimidade para avaliar a compra da Champions. Não por intervir nos conteúdos, mas pelo valor. É uma decisão estratégica que lhe compete: representa 10% do orçamento para programas da RTP 1; implica uma relevante alteração na programação, pois a RTP não poderá fazer milhares de outros programas com mais interesse público e alternativos aos dos privados. O CGI soube da compra pelos jornais, o que justifica ter invocado a deslealdade por parte da Administração. 
2. A RTP não podia comprar a Champions sem dar conhecimento. É uma empresa pública reclassificada, isto é, depende do Orçamento do Estado; o seu Projecto Estratégico, de tão medíocre, foi chumbado duas vezes pelo CGI; o orçamento da própria RTP ainda não está aprovado; a Administração está obrigada a uma gestão prudente, e a compra da Champions não o é. Nenhuma empresa pública poderia comprometer 15 milhões sem informar o accionista, neste caso através do CGI. A compra não é prudente porque será totalmente impossível recuperar o investimento, ao contrário do que a RTP afirma; e a Administração, por não ter orçamento e Projecto Estratégico aprovados, encontra-se, tecnicamente, em gestão. 
3. A queixa à ERC pela oligarquia que manda e desmanda nos conteúdos da RTP, invocando 'autonomia editorial', foi uma fuga para a frente: o CGI não pôs em causa essa autonomia, pois se baseou no carácter estratégico da decisão. 
4. A deliberação da ERC contra o CGI é um arrazoado suspeito e sem sentido. A ERC, sempre lenta a decidir, só precisou de um dia para alinhar com a oligarquia da RTP; é trapalhona, pois diz que a compra da Champions é de âmbito estratégico para logo dizer que não o é. Já por duas vezes a ERC protegeu a oligarquia da RTP, evitando pronunciar-se, como é sua obrigação, sobre a nomeação dos directores de conteúdos. Agora não atendeu à provável ilegalidade da compra da Champions e sua desadequação à legislação. Órgão inútil e que só atrapalha, a ERC ficou com menos poderes com a criação do CGI, pelo que se apressou a contrariá-lo, por corporativismo. 
5. Li a segunda versão do 'Projecto Estratégico' chumbado, e muito bem, pelo CGI. É um texto medíocre, cheio de banalidades e generalidades que permitissem depois à RTP fazer TV comercial. Não é estratégico e nem sequer é um projecto. A RTP não pode ser dirigida por uma oligarquia que nem sabe escrever nem apresentar um projecto decente, quanto mais fazer serviço público. Este é o ponto essencial. O caso Champions é apenas a ponta do icebergue. 
Cartas da prisão:
Sócrates precisa da opinião pública e ameaça amigos Na minha opinião, Sócrates governou para servir interesses particulares. Para o fazer com à-vontade e pelo máximo tempo, agia contra a liberdade de imprensa, media e opinadores independentes e controlando RTP, ERC, etc. A democracia é magnânima e pode agora, preso, beneficiar da liberdade de expressão. Felizmente. Mas quem com ferros mata, com ferros morre: até já tem contra si desavergonhados que lhe chamavam "o melhor primeiro-ministro da Europa" e precisa dos media para se manter à tona na opinião pública. As cartas da prisão revelam desespero; a mais recente incluiu uma ameaça a António Costa e aos socratinistas do PS: não me abandonem, senão… Costa percebeu e marcou logo romaria a Évora lá para o Natal. 
É Natal, ninguém leva a mal 
Há mais de 60 anos que a TV organiza eventos caritativos em forma de maratonas temporais, recolhendo donativos, chamando a atenção para causas sociais e… para si mesma. A RDP e a RTP fizeram agora uma maratona de 72 horas, 'Toca a Todos', com os animadores fechados numa casota transparente e só podendo sair para o chichi. Caridade em género 'Big Brother' bonzinho.

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